Folha de S. Paulo


Incerteza política atropela ajuste fiscal venezuelano

A incerteza política na Venezuela devido à saúde de Hugo Chávez também se reflete no plano econômico.

Após um ano de crescimento vigoroso, 2013 começa com falta de dólares no mercado para importações e expectativa de desaceleração econômica, de acordo com a maioria dos analistas.

Chavismo usou cerimônia de reeleição de Cabello para demonstrar unidade

Após crescer 5,5% em 2012 (dados preliminares), o governo porá como meta no Orçamento crescer 6%.

A Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), em seu boletim de dezembro, previa crescimento de apenas 2%.

A maioria das consultorias privadas era até mais pessimista, entre 0 e 2%.

Tudo porque a expectativa era que o governo, depois de um ano eleitoral de enorme gasto público, fizesse uma nova desvalorização da moeda e um ajuste fiscal.

Com a perspectiva de que haja eleição de novo neste ano --se Hugo Chávez, convalescente em Cuba, deixar o poder definitivamente haverá nova votação presidencial--, a maioria suspendeu as previsões anteriores.

"Com essa incerteza, a perspectiva de eleições vai depender de quanto o governo venezuelano decida gastar e que tipo de desvalorização decida fazer", diz Daniel Kerner, da consultoria de risco Eurasia Group.

A Venezuela tem dois tipos de câmbio: um geral, fixado em 4,3 bolívares fortes por dólar; e um especial para alguns tipos de importação, em torno de 5 bolívares fortes.

Há, no entanto, escassez da divisa americana. No mercado negro, para onde correm, em último caso, alguns importadores que não conseguem a divisa pelo câmbio oficial, um dólar vale até 18 bolívares fortes.

Para oxigenar esse mercado, o governo poderia liberar mais dinheiro para ser distribuído pelo câmbio oficial ou mexer apenas na taxa específica para importados, aumentando a lista de produtos que entram no país adquiridos com dólar mais caro.

Dado o panorama, os analistas políticos dizem que, pela lógica, o mais conveniente para o governo seria realizar novas eleições no curto prazo, antes de eventuais ajustes e da desaceleração.

Editoria de Arte/Folhapress

DESASTRE ADIADO

O governo tem alguma margem de manobra. Com o barril de petróleo, responsável por 90% das divisas do país, a mais de US$ 100 e com capacidade de endividamento, especialmente na moeda nacional, a situação pode ser prolongada por até seis meses, estima Kerner.

Outros apontam, porém, a queda na produção petrolífera e as dificuldades de refino após a explosão de uma refinaria no ano passado como obstáculos.

Já para o economista Mark Weisbrot, do progressista Centro de Pesquisa Econômica e Política, de Washington, não há motivo para esperar desaceleração nem desvalorização.

"A imprensa de negócios vem prevendo o desastre da economia da Venezuela há mais de uma década, mas isso nunca aconteceu", ironiza ele, lembrando que o país voltou a crescer mais e conseguiu reduzir a inflação.

A queda da inflação de 27,6% para 19% foi um dos pontos comemorados pelo governo.

A redução foi conseguida graças ao mais rígido controle de preços de produtos básicos -elogiado nas ruas e atacado como "insustentável" pelos economistas.

"Já imaginou se tirassem? Cada um venderia tudo pelo preço que lhe desse na telha", diz a microempresária Virgília Ribero, eleitora de Chávez.

Miguel Gutiérrez/Efe
Vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro e presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, se cumprimentam hoje durante o início das sessões parlamentares
Vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro e presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello

Endereço da página:

Links no texto: