Folha de S. Paulo


Americanos pró-guerra reagem a protestos pacifistas

"O que a guerra já trouxe de bom?", perguntava ontem a inscrição de um cartaz nas mãos de uma mulher em Times Square, uma dos pontos mais famosos de Nova York. A resposta, na mesma cartolina: "O fim da escravidão, do nazismo e do fascismo".

Um dia depois da marcha que levou mais de 100 mil pessoas às ruas para protestar contra a guerra, um bloco de 2.000 pessoas fizeram barulho ontem em Manhattan para mostrar que nem todos pensam como os pacifistas.

Os pró-guerra, na verdade, são maioria entre os americanos, 7 em cada 10, como mostram as pesquisas. Mas na hora de fazer barulho, quem melhor põe a tropa nas ruas são os que pensam o contrário deles. "Os pacifistas são apenas mais organizados", afirma o enfermeiro Mike Cornuy, 48.

Bandeiras americanas à mão e aos gritos de "USA, USA", o bloco pró-guerra demarcou ao menos duas diferenças importantes ontem em relação ao ato pacifista de anteontem.

Uma estava na faixa etária dos manifestantes, claramente superior à média do dia anterior. Outra no modo como tomaram conhecimento da manifestação. O rádio, não a internet, foi o meio mais comum para agregá-los.

Nenhuma pessoa ouvida pela Folha de S.Paulo soube apontar quem organizou a manifestação. No protesto de Times Square, era a entidade "Tri-State New York Chapter". Outra manifestação semelhante ontem, em Staten Island, distrito nova-iorquino, teve um congressista à frente.

"Poderíamos ter mais gente se fôssemos mais organizados", diz o aposentado Paul Strernlitz, 58, crítico radical do movimento pacifista: "É um movimento anti-Bush e de ódio à América".

A disputa política a respeito da imagem do presidente George W. Bush, aliás, é fixação para o movimento pró-guerra. Uma menina usava um adesivo onde se lia "Eu amo Bush". Para Stephany Duncan, 51, o presidente americano "tentou mostrar que não é um cowboy, que é uma pessoa séria, mas chegou à conclusão que teria que agir de acordo com o papel de líder que ele tem".

Dois argumentos prevaleciam entre os manifestantes em defesa da guerra. Por um lado, dizem que estão com medo do terrorismo nos EUA e é preciso combatê-lo. Por outro lado, falam em "libertar" os iraquianos.

Embora uma parte ressalte achar que os pacifistas têm o direito de se manifestar, sobram críticas a eles. "O chamado movimento pacifista é comandado pelas mesmas pessoas que simpatizavam com os inimigos totalitários dos EUA durante a Guerra Fria", dizia um manifesto distribuído no ato. "Eles são contra a violência, mas praticam a violência", criticou Gilbert Camalleri, 64, numa referência aos confrontos de pacifistas e policiais.

Mas, na metralhadora dos americanos que apóiam a guerra, sobra munição mais específica.

Para os franceses, por exemplo, como nos cartazes "Chirac é um verme" ou "Vinho francês é feito de sangue de galinha", erguidos ontem pelos manifestantes.


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