Folha de S. Paulo


Cenário externo e aposta em candidato reformista levam Bolsa a novo recorde

A possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficar inelegível e não disputar a eleição de 2018 e o cenário internacional favorável inflaram o volume negociado na Bolsa brasileira nesta sexta (26) e levaram o mercado acionário a fechar acima dos 85 mil pontos pela primeira vez na história. O dólar terminou o dia quase estável, a R$ 3,14.

O Ibovespa, índice das ações mais negociadas, subiu 2,21%, para 85.530 pontos. O giro financeiro foi de R$ 16,1 bilhões, bem acima da média diária de R$ 9,6 bilhões de janeiro. Na semana, a Bolsa acumulou alta de 5,31%, a melhor desde a encerrada em 15 de abril de 2016. No ano, a Bolsa acumula alta de 11,8%.

O recorde é nominal, ou seja, não desconta a inflação. Se o nível máximo de maio de 2008 fosse corrigido pelo IPCA, índice de preços oficial, estaria hoje próximo dos 130 mil pontos.

O dólar comercial teve leve ganho de 0,06%, para R$ 3,141. É o menor nível desde 4 de outubro de 2017. Na semana, recuou 1,9%. O dólar à vista, que fecha mais cedo, caiu 0,04%, para R$ 3,147 –na semana, a depreciação foi de 1,7%.

Parte do bom humor do mercado ainda é reflexo do julgamento no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) que confirmou a condenação de Lula. No dia da decisão, as estatais e bancos levaram o Ibovespa a novo recorde nominal, enquanto o dólar recuou para R$ 3,16.

A consultoria de risco político Eurasia estima em 70% a probabilidade de o petista ficar inelegível neste ano –antes, estava na faixa entre 60% e 70%. Para a Eurasia, um cenário eleitoral sem Lula eleva as chances de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), chegar ao segundo turno, mesmo em uma disputa acirrada.

"Mesmo com Lula fora da corrida, muitos candidatos possuem chances reais. Nós, na Eurasia, mantemos nossa visão de que algum candidato reformista vai ganhar. Mas as chances de que vai ser um candidato reformista com credenciais mistas (os mercados podem duvidar da convicção) e com grande dificuldade para transitar pelo Congresso não são pequenas."

Para Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da plataforma de investimentos Órama, a decisão de quarta traz mais clareza à disputa eleitoral. "O cenário que a gente tinha era nebuloso, tinha muita nuvem cinza à frente. Agora, os investidores passam a ter mais fé de que vamos ter um candidato reformista. Se isso vai ser verdade ou não, só o tempo vai dizer."

Mas o exterior continua ajudando, ressalta. "Está entrando muito dinheiro de estrangeiro. Lá fora, as Bolsas também estão batendo recordes, foi mais uma semana de mercado forte no exterior", ressalta.

AÇÕES

Assim como na quarta, as ações de bancos e de estatais ajudaram o Ibovespa a alcançar a nova máxima.

As ações do Itaú Unibanco subiram 5,46%, na maior alta diária desde 10 de maio de 2016, quando foi cassado o mandato do senador Delcídio do Amaral.

Os papéis preferenciais do Bradesco subiram 3,52%, e os ordinários se valorizaram 5,70%. O Banco do Brasil teve alta de 4,18%, e as units –conjunto de ações– do Santander Brasil avançaram 4,38%.

As estatais também subiram com força. Os papéis mais negociados da Petrobras se valorizaram 3,05%, para R$ 19,93. As ações que dão direito a voto ganharam 5,24%, para R$ 21,71. As ações preferenciais da Eletrobras subiram 5,21%, e as ordinárias tiveram avanço de 3,58%.

A mineradora Vale destoou do bom humor no mercado e recuou 0,84%, para R$ 41,43.

A maior alta do Ibovespa foi registrada pelas ações da Cemig (+10,07%), em meio a rumores sobre o nome do novo presidente da estatal. A Via Varejo subiu 5,77%, e a Rumo teve alta de 5,67%.

Já a maior desvalorização do Ibovespa ficou com as ações da Marfrig, que recuaram 1,6%. A Cielo teve queda de 1,59%, e a Natura perdeu 1,48%.

CÂMBIO

O dólar perdeu força ante a principais moedas do mundo: 24 das 31 divisas subiram ante a moeda americana.

Nesta sexta, o Departamento de Comércio americano divulgou que o crescimento da economia dos Estados Unidos desacelerou no quarto trimestre. O aumento dos gastos do consumidor provocou elevação das importações.

O PIB (Produto Interno Bruto) cresceu a uma taxa anual de 2,6% no quarto trimestre –em 2017, o avanço foi de 2,3%.

O CDS (Credit Default Swap, termômetro de risco-país) do Brasil fechou em baixa de 0,99%, para 142,6 pontos, na terceira queda seguida. É o menor nível desde 19 de setembro de 2014.

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados fecharam em baixa. O DI para abril e 2018 recuou de 6,709% para 6,685%. O DI para janeiro de 2019 teve baixa de 6,830% para 6,780%.


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