Folha de S. Paulo


Canaviais envelhecidos e dívida limitam produtividade da cana

Mauro Zafalon - 24.abr.13/Folhapress
Trator faz colheita de cana-de-açúcar, em Ivinhema (MS)
Trator faz colheita de cana-de-açúcar em Ivinhema (MS)

As usinas de açúcar e etanol do país poderiam produzir muito mais do que fazem atualmente. Canaviais envelhecidos e usinas endividadas viraram rotina no setor sucroenergético nos últimos anos e impedem o crescimento da produtividade no campo.

As lavouras de cana-de-açúcar, responsáveis pela matéria-prima do açúcar e do etanol, produziram em média 77 toneladas por hectare, ante as 85 consideradas ideais.

Atingir tal patamar, porém, será difícil com o cenário atual, na avaliação de Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).

"Horrível [o patamar atual]. A partir do momento em que tem mais de 80% do canavial ainda plantado com variedades da década de 1980, aprendizagem enorme com a colheita mecanizada, um canavial que não está totalmente estruturado para a mecanização e envelhecido, não tem como ter produtividade."

A avaliação é que, com novos ambientes de produção e novas tecnologias, é possível atingir 85 toneladas em média por hectare. Há variedades modernas que ultrapassam 100 toneladas.

Em São Paulo, principal Estado canavieiro, foram produzidas 79,6 toneladas de cana por hectare na última safra, superando a média nacional, segundo o pesquisador Vagner Azarias Martins, do IEA (Instituto de Economia Agrícola), órgão da Secretaria da Agricultura.

O Estado produziu 339,3 milhões de toneladas de cana até o último dia 1º, das 568,18 milhões de toneladas do centro-sul do país -59,71% do total.

O envelhecimento das lavouras de cana ou a falta de uso de novas variedades se deve também ao endividamento do setor, estimado pelo Itaú BBA no início da safra, em março, em R$ 84 bilhões.

Levantamento da Unica mostra que 30% da cana processada no centro-sul é proveniente de grupos endividados.

De acordo com Rodrigues, caso a produtividade fosse a adequada, com a mesma estrutura atual as usinas poderiam processar de 70 milhões a 80 milhões de toneladas a mais de cana.

Editoria de Arte/Folhapress
TEMPOS AMARGOSProdução de cana-de-açúcar no centro-sul tem nova queda

O volume é superior aos 69,3 milhões de toneladas processadas neste ano por Goiás, segundo maior produtor do país.

Até o fim de novembro, foram moídos 13,52 milhões de toneladas a menos que no mesmo período de 2016, devido às chuvas do mês passado.

Embora o cenário seja visto como menos sombrio em relação ao verificado no fim da década passada, as dívidas são muito altas no setor e o número de usinas fechadas ainda pode crescer.

Segundo a Unica, 75 usinas foram fechadas -tiveram falência decretada ou foram paralisadas, em recuperação judicial- no centro-sul desde a deflagração da crise na economia mundial, em 2008.

A entidade informou que 73 foram abertas desde então -projetos concluídos no período, mas decididos anos antes da deflagração da crise.

Assim como em 2016, a maior parte da cana (52,89%) foi utilizada para etanol.

Não foi o que ocorreu nas usinas do grupo Tereos, conforme Jacyr da Silva Costa Filho, diretor da região Brasil.

Dos 20,2 milhões de toneladas de cana moídas na safra do grupo, encerrada em novembro, 62,5% viraram açúcar e 37,5%, etanol.

A projeção é que na próxima safra o total alcance 20,7 milhões de toneladas.

Embora alcooleira, a safra foi marcada por priorização à produção de açúcar até setembro, devido a contratos fechados nos primeiros meses do ano, quando a cotação estava favorável no mercado internacional.

ALENTO

Para Rodrigues, o Renovabio -que aguarda sanção do presidente Michel Temer e tem como meta valorizar os biocombustíveis nacionais e garantir previsibilidade de investimentos- proporcionará condições de investir em produtividade e melhorar a situação nos canaviais.

"As pessoas vão ter de aprender a olhar o preço do petróleo, o da gasolina no mercado internacional, a política de preços da Petrobras e a plantar cana bem, se quiserem permanecer. As variáveis são completamente diferentes", afirma Rodrigues.

NOVA SAFRA

Com menos sobra de cana-de-açúcar do ano passado e com um canavial ainda mais envelhecido, a safra 2017/18 será menor no centro-sul do país.

A previsão é que sejam moídos 585 milhões de toneladas de cana na atual safra, ante as 607,1 milhões da passada, uma queda de 3,7%.

Sob influência dos bons preços no mercado internacional, o ano começou com as usinas priorizando a produção de açúcar e assim foi até o mês de setembro, quando as cotações começaram a cair e as indústrias voltaram os olhos para o etanol.

Das 280 usinas do centro-sul do país, 87% produzem açúcar e etanol, enquanto as 13% restantes fabricam apenas o combustível -são as chamadas destilarias autônomas.

Segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), o preço favorável do açúcar no mercado internacional fez o setor fixar muitas vendas para garantir rentabilidade.

ETANOL

Desde setembro, no entanto, com o preço do açúcar mais baixo e um cenário favorável para o etanol, o combustível passou a ser prioridade das usinas.

"A queda do preço do açúcar, combinada com o aumento do preço do petróleo e essa política de repasse da Petrobras, fez com que o preço ao produtor melhorasse, sem perder a paridade de bomba", afirmou Rodrigues.

De acordo com a Unica, há estoques suficientes para a entressafra, que vai até março.

Abastecer com etanol hoje só é vantajoso para os motoristas em cinco Estados. A maioria está entre os principais produtores do biocombustível no país.

Somados, São Paulo, Goiás, Minas, Paraná e Mato Grosso -os locais em que é benéfico utilizar o combustível derivado da cana- representam 85% das vendas de etanol do país.

"A competitividade se dá basicamente em Estados com política tributária que beneficia o etanol", diz Antonio de Padua Rodrigues (Unica).


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