Folha de S. Paulo


Língua, cultura e diploma são barreiras para refugiado em busca de trabalho

Além da barreira do idioma, dificuldades para revalidar diplomas obtidos no exterior e diferenças culturais são desafios para a inclusão de refugiados no mercado.

Ainda não há dados oficiais sobre emprego desse grupo (o Ministério do Trabalho elabora estudo com a FGV).

Mas a percepção é de piora. Maria Cristina Morelli, coordenadora da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, diz que, em linha com o que aconteceu com o restante do mercado, foi mais difícil para que refugiados obtivessem trabalho durante a crise. A ONG ajuda recém-chegados a obter documentos, abrigos, aulas de português e emprego.

Brunel Nlandu, 28, congolesa, diz ter passado dois anos desempregada, após trabalhar como cozinheira em rede de fast food.

Refugiados
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Formada em economia, ela diz que, quando foi demitida, passou pelo pior momento de sua vida. Fez bicos como diarista e camelô, mas não conseguia pagar as contas da casa que ela divide com o irmão.

"Quando chovia, ficava alegre, pegava água para tomar banho, cozinhar", diz.

Há um mês, Brunel achou ocupação temporária como copeira na organização Estou Refugiado, que ajuda refugiados a encontrar trabalho.

Se, de um lado, é comum que refugiados tenham ensino superior, de outro a revalidação de diplomas ainda é um processo complexo e caro para a maioria deles.

A advogada Camila Suemi atua na ONG Compassiva ajudando refugiados no processo. Diz que a revalidação pode envolver, além do pagamento de taxas na universidade em que o processo será feito (que pode chegar a R$ 2.000), traduções especializadas de documentos.

"Tive caso de sírio que, para fazer a tradução juramentada de toda a documentação, gastaria R$ 16 mil."

Caso haja diferença entre as disciplinas exigidas pela faculdade de fora e pela brasileira, o refugiado precisará fazer uma prova para demonstrar seus conhecimentos na área ou cursar as matérias que faltam, afirma.

CULTURA

Diferenças culturais, caso não sejam compreendidas, podem se tornar uma barreira à inclusão do refugiado.

Fernanda Cobra, coordenadora do programa Trabalho e Renda da ONG Adus, diz que, em muitos países, não olhar nos olhos do interlocutor é sinal de respeito, enquanto em outros subordinados estão mais acostumados a esperar ordens do que tomar decisões.

Para que se lide melhor com essas diferenças, a instituição oferece aos refugiados duas aulas semanais sobre a legislação trabalhista, comportamento no trabalho e em entrevistas e indica profissionais para empresas que querem contratar refugiados.

João Marques, presidente da empresa Emdoc (de expatriação de executivos) e responsável pelo Parrr (Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados), elenca entre as diferenças do Brasil em relação a outros países a possibilidade de homens serem liderados por mulheres, o fato de se marcar reunião em um horário e chegar em outro e um contato físico mais próximo.

Por outro lado, quando a inserção é bem realizada, pode gerar ganhos para as empresas.

"Tem muita gente qualificada, que consegue várias promoções por ano."

REFÚGIO NO BRASILPaís recebeu mais de 31.500 solicitações em 2017

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