Folha de S. Paulo


Acuada pela Airbus, Boeing faz oferta de parceria à Embraer

Pressionada pela aquisição pela rival europeia Airbus da linha de jatos regionais da canadense Bombardier, a americana Boeing negocia parceria com a Embraer que pode levar à venda de alguma parte da operação da brasileira –líder deste nicho de mercado.

No começo da tarde desta quinta (21), a história emergiu no jornal americano "The Wall Street Journal", que publicou interesse da Boeing em adquirir todo o controle da empresa. A Folha apurou, contudo, que isso não foi cogitado.

O governo foi pego de surpresa pela informação. O presidente Michel Temer foi informado de detalhes do caso pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann, e pelo comandante da FAB, brigadeiro Nivaldo Rossato. "No meu governo a Embraer jamais será vendida", disse Temer.

O presidente, por outro lado, deu aval para qualquer negociação que não envolva a perda do controle nacional.

O Planalto tem poder de vetar qualquer negócio da Embraer por possuir uma "golden share" da empresa, parceira central da FAB (Força Aérea Brasileira). Essa ação especial é herança do processo de privatização da fabricante, em 1994.

Em nota com a Boeing, a Embraer foi lacônica ao confirmar as negociações. Disse que elas "encontram-se em tratativas em relação a uma potencial combinação de seus negócios, em bases que ainda estão sendo discutidas". Salientou que a negociação pode dar em nada.

A notícia afetou fortemente o mercado. Na Bolsa brasileira, as ações da Embraer chegaram a subir quase 40%, fechando com alta de 25,5%.

RESPOSTA

O movimento da Boeing é uma resposta à compra anunciada pela Airbus do controle do programa de jatos regionais CSeries, da Bombardier, que custou US$ 6 bilhões para ser desenvolvido.

A Embraer travou uma dura briga com a canadense, que envolveu queixas por subsídios nacionais, e venceu: tem 46% do mercado regional, ante 34% da rival.

Os europeus colocaram um pé no nicho de jatos de 61 a 120 passageiros. A grande aposta da brasileira é o programa EJets-2, que está mais avançado do que o CSeries.

Airbus e Boeing seguem disputando palmo a palmo o mercado de aeronaves maiores, que também é cobiçado pela novata chinesa Comac: estima-se que mais de um terço da demanda de aviões até 2030 no mundo seja da região da Ásia-Pacífico.

Nas últimas semanas, a área militar havia notado movimentação de pessoas ligadas à Boeing em conversas em Brasília, mas não havia clareza sobre o negócio.

No mercado, a especulação é sobre uma participação da Boeing por meio de injeção de capital ou com a criação de uma joint venture específica para os jatos regionais.

As linhas de defesa e de aviação executiva da Embraer permaneceriam como estão hoje, pelas conversas iniciais. Procurado, o Ministério da Defesa disse que não iria comentar o caso.

Enquanto a natureza da negociação não é elucidada, as partes interessadas vão discutir aspectos técnicos das possibilidades especuladas. A Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil), que tem 4,8% da Embraer, fará reunião nesta sexta sobre o caso.

Os principais acionistas da Embraer são a Brandes Investments Partners (15%), BNDESPar (5,4%) e Oppenheimer Funds (4,8%). Outros somam 73,86%, e 0,94% é de ação em tesouraria.

A fabricante sediada em São José dos Campos faturou R$ 21,4 bilhões em 2016. No terceiro trimestre de 2017, obteve lucro de R$ 351 milhões.

PRIVATIZAÇÃO GARANTIU AO GOVERNO PODER DE VETO

A privatização da Embraer ocorreu em 1994, no fim do governo Itamar Franco, por R$ 154,1 milhões -R$ 942,8 milhões em valores atualizados pela inflação. Hoje, ela vale R$ 15 bilhões.

Pelo acordo, o governo manteve uma "golden share", ação que lhe dá o direito a veto em uma série de assuntos, como a transferência de controle acionário da companhia.


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