Folha de S. Paulo


Conexões da internet das coisas crescem 20% em um ano

Se você pagou seu almoço no cartão hoje, já usou a internet das coisas sem ter percebido. As máquinas, e não só as de cartões, conversam cada vez mais entre si, gerando oportunidades para os negócios e para a gestão.

Segundo a Anatel, o Brasil fechou o mês de outubro com 14,8 milhões de conexões máquina a máquina (M2M), usadas em diversas aplicações. O aumento em relação ao ano passado foi de 20,1%, com ênfase na categoria especial, de tributação bem mais baixa, usada em sensores remotos que não dependem de intervenção humana.

Conexões da chamada "internet das coisas" (IoT, na sigla em inglês) são de "banda estreita" –ou seja, não transmitem grandes volumes de dados ao mesmo tempo.

Como não precisam transmitir voz ou conteúdo para consumo humano, funcionam só para transmissão de sinais simples como latitude e longitude, ligado/desligado, parado/em movimento, temperatura, preço cobrado/saldo disponível etc.

Eduardo Knapp/Folhapress
Sibylle Muller, da AcquaBrasilis, em empreendimento com sistema de reúso, em São Paulo

Tirando as maquininhas de cartão, que já fazem parte do cotidiano, outro uso muito comum no Brasil é no monitoramento de veículos –sejam caminhões ou carros.

"Os pacotes de dados são pequenos e até as conexões mais lentas são suficientes para a transmissão", diz Clóvis Manfio, da 3S Tecnologia, que faz segurança de caminhões. Os sensores do veículo transmitem enquanto houver conexão. Longe das antenas, os dados são armazenados e enviados depois.

As operadoras cobram por ponto instalado. Como o número de sensores de cada cliente varia muito –um para cada veículo de uma frota ou um para cada semáforo de uma capital–, pode sair barato ou caro. Em veículos, nem o eventual custo de roaming quando se sai do país pesa muito no orçamento. A maior parte das operadoras não respondeu quanto cobra, mas a Tim afirmou que o custo fica entre R$ 5 e R$ 20.

"Até o final de 2015, o serviço ainda era muito caro; desde então, as operadoras viram o mercado em crescimento e começaram a oferecer plataformas e planos viáveis", diz Marlon Campiol Fiorot, da empresa Golsat, de Londrina, que usa o M2M para monitorar veículos.

A Golsat não trabalha com vigilância da frota. "Focamos no desempenho, em como funciona a máquina mesmo", diz Fiorot. Eles observam como a velocidade e os pneus podem gastar mais combustível ou exigir mais manutenção, visando melhorar essa despesa. Hoje, operam com 40 mil veículos.

Oito operadoras oferecem conexões M2M, com 96% das conexões nas mãos das quatro grandes operadoras de telefonia móvel: Vivo (41%), Claro/Embratel (34%), Tim (11%) e Oi (10%). Mas outras empresas, como a britânica Vodafone, entram nesse mercado. Embora tenha só 1% das conexões no país, a Vodafone quintuplicou sua base em dois anos.

SERVIÇOS AGREGADOS

As operadoras também procuram agregar mais serviços aos pacotes. "O objetivo não é ganhar em conectividade em larga escala ou no preço/volume, porque hoje conectividade é uma commodity", diz Luis Minoru Shibata, VP de Estratégia e Inovação da Tim Brasil.

"O diferencial está na inteligência, aliando-se a parceiros-chave, provendo tecnologia e apoiando os projetos deles com soluções que terão desenvolvimento futuro, não apenas a conexão".

A empresa trabalha com algumas cidades na criação de soluções de iluminação inteligente e monitoramento de postos de saúde.

Segundo Ricardo Hobbs, diretor de marketing e produtos B2B da Vivo, a empresa inaugurou um laboratório no Rio de Janeiro para testar tecnologias de comunicação para a "internet das coisas".

O laboratório visa reduzir os custos da comunicação e aumentar a vida útil das baterias dos sensores. "Isso deve acelerar ainda mais a explosão da internet das coisas", afirma.

A Embratel, controladora da operadora Claro, diz oferecer soluções completas para os clientes de M2M, incluindo armazenamento em nuvem e prevenção de ataques digitais. "Isso torna a vida das start-ups muito mais simples, pois só precisam se preocupar com o negócio e não com a infraestrutura das soluções", diz Ney Acyr Rodrigues, diretor de negócios de IoT da Embratel.

Já a Oi tem oferecido soluções para adotar a Internet das Coisas no comércio. "A companhia oferece a solução Varejo Conectado, que monitora gôndola e geladeiras numa plataforma que contribui para a inteligência do negócio ao prever, gerir estoque e gerar perfis de consumo, possibilitando redução de custos e melhorando a logística através de inteligência artificial", diz Rodrigo Shimizu, diretor de marketing B2B. Segundo ele, há alto potencial de crescimento nos setores de varejo, saúde e agribusiness.

Colaborou BELISA FIGUEIRÓ


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