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BC reduz compulsório e libera R$ 6,5 bilhões para bancos emprestarem

Bruno Santos/Folhapress
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Agência Banco do Brasil

O Banco Central reduziu o percentual dos depósitos compulsórios exigidos das instituições financeiras. Com isso, deverá liberar R$ 6,5 bilhões para os bancos ampliarem empréstimos, o que ajudará a acelerar a retomada do crédito e, por consequência, da economia.

Circular publicada nesta terça-feira (19) à noite informou que os compulsórios serão reduzidos de 45% para 40% no caso dos depósitos à vista (como recursos os de conta corrente) e de 36% para 34% nos depósitos a prazo (aplicados em investimentos, como CDB e poupança). A medida terá vigor pleno a partir de 5 de janeiro.

O afrouxamento poderia resultar numa liberação ainda maior do que R$ 6,5 bilhões, mas o BC decidiu usar parte desses recursos para abater compulsórios passados devidos pelos bancos.

Em janeiro, a autoridade monetária informou que cobraria R$ 28 bilhões por deduções no compulsório autorizadas no passado –R$ 14 bilhões deveriam ser recolhidos neste mês e o restante em dezembro de 2018 e em dezembro de 2019.

O recolhimento, porém, retiraria parte da capacidade das instituições financeiras em emprestar, justo em um momento em que o crédito engatinha. De janeiro até outubro, o saldo de empréstimos na economia ainda está negativo em 1,7% ante o mesmo período de 2016, apesar do fim da recessão.

Um dos motivos é que as empresas ainda vêm dando calotes e, com isso, mantendo os bancos na defensiva e retardando a retomada do crédito. As famílias, por outro lado, já pagaram suas dívidas e estão voltando a tomar novos empréstimos, porém a um ritmo lento, devido ao desemprego ainda elevado.

A redução dos compulsórios é uma demanda dos bancos para transmitir ao consumidor final a redução da taxa básica de juros (Selic), que neste mês atingiuo nível mais baixo da história – 7% ao ano.

A taxa média de juros cobrada dos consumidores é 34% ao ano (dado de outubro), segundo o BC.

O argumento da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) é que os compulsórios fazem com que os bancos tenham que captar mais recursos para realizar o mesmo volume de operações de crédito e "fazer render o capital" do que precisam fazer concorrentes em outros países. Esse é um dos motivos para a taxa de juros ser tão alta no Brasil, segundo os bancos.

Numa pesquisa realizada pela consultoria Accenture, a pedido da Febraban, os percentuais de compulsório no Brasil são quase quatro vezes a do país que aparece segundo lugar (Colômbia) –36% contra 10% nos depósitos a prazo.

O presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmou na última semana que a redução dos compulsórios é parte da agenda de sua administração, batizada de BC+. Embora tenha reduzido a taxa de juros ao piso inédito com inflação também em baixa, o BC é alvo de críticas de alguns economistas por ter sido, na avaliação deles, excessivamente conservador na administração dos juros com a economia ainda em recessão. O BC deverá entregar a inflação deste ano abaixo do limite inferior meta oficial –4,5% menos 1,5 ponto percentual, ou seja 3%.

Embora seja na direção de mais afrouxamento para crédito, a liberação de R$ 6,5 bilhões é ainda pequena, representa 1,5% do total de compulsórios depositados pelos bancos no BC.


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