Folha de S. Paulo


'É preciso cautela para falar de retomada', diz vice-presidente da Ford

Luis Ushirobira/Valor
In an undated handout photo, a new system designed by Ford engineers that collects water from the air-conditioner?s condensing coils, filters it and then delivers it to people in the car. Engineers are finding ways to have cars do much more than take us from Point A to Point B? including producing and dispensing water. (Ford via The New York Times) -- NO SALES; FOR EDITORIAL USE ONLY WITH AUTOS TECH USES BY NEAL E. BOUDETTE FOR OCT. 20, 2017. ALL OTHER USE PROHIBITED. -- ORG XMIT: XNYT160 DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford,

É fato que as pessoas estão comprando mais carros, mas é preciso cautela na comemoração, com tantas indefinições políticas e econômicas, diz Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford.

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Folha - Podemos esperar uma retomada para o setor automotivo daqui para frente?
Rogelio Golfarb - Não há dúvida de que existe uma melhora. Somadas as duas categorias em que atuamos, carros e caminhões, o crescimento foi de quase 15%, ano a ano, número muito robusto. Não há dúvidas de que 2018, do ponto de vista econômico, será melhor que 2017. O ritmo em que se dará essa recuperação é o que se discute.

Quanto a queda de juros contribuiu muito para o aumento das vendas?
Acredito que não foi suficiente para (incentivar) a compra de um bem deste valor. A taxa de inadimplência ainda está alta e demora para que o consumidor se sinta seguro para comprar, ainda que o setor esteja vendo a continuidade do crescimento. Muitas pessoas renovaram seus carros dando de entrada seus carros antigos, mostra de que a queda não chegou no crédito. Mas é questão de tempo. A volta da economia retoma o ânimo dos consumidores e a aceleração das vendas.

Este ritmo de crescimento é projetado para os próximos anos?
É preciso ser cauteloso em dizer se isto é sustentável. Acreditamos que o setor vai seguir crescendo, mas não no ritmo pré-crise. Este é o primeiro momento de melhora depois da recessão e nos parece que quem compra carro hoje é gente com crédito, dinheiro e emprego, pessoas que não compraram antes porque estavam preocupadas com o que aconteceria.

Além disso, a base de comparação é muito baixa, porque leva em conta os números de 2016, quando as vendas estavam fracas. Há ainda muito a reconquistar.

Quanto dessa indefinição política atrapalha, realmente, os planos das montadoras para o ano?
Temos várias indefinições, uma delas sobre a eleição que teremos no ano que vem e outra das questões fiscais. Este cenário benigno, virtuoso, de baixa inflação e taxa de juros não é sustentável no médio e longo prazo se você não tem uma finalização mais clara sobre o futuro. E aí a (reforma da) previdência é importantíssima. No setor automotivo, há ainda a Rota 2030, que ainda não dá uma clara visão do que vai acontecer.

O que vai acontecer em 2018 já está escrito na pedra porque o setor trabalha com projeções de longo prazo. Mas os ciclos de investimentos e planos de negócios para os próximos cinco, dez anos, precisam de mais definições para serem traçados.

Neste sentido, quanto a eleição de um governo populista, de esquerda ou direita, pode atrapalhar?
Acho que o grande questionamento do setor empresarial é sobre o comportamento da questão econômica, que exige cuidado. Pode ser a, b, ou c (a vencer a eleição), mas se a abordagem econômica for de experimentos heterodoxos, obviamente teremos problemas sérios. Se for uma visão de responsabilidade fiscal e orçamentária, teremos taxas de crescimento no Brasil.

O governo já fala em fazer a reforma tributária em 2018. Qual a importância dessa reforma?
A sustentação da economia depende do equilíbrio fiscal. Isso é fundamental, não só para a indústria automotiva, como para os outros setores terem taxas de crescimento razoáveis. Infelizmente é um tema altamente impopular, claro, porque mexe com benefícios individuais. Mas quando você fala de macroeconomia, você fala de benefícios coletivos. Como aprovar a reforma é o dilema e a encruzilhada do Brasil hoje.

Qual a importância do Rota 2030 para o setor e o que esperar dele?
É uma iniciativa muito importante para o setor, que hoje representa 4,1% do PIB total e 10% do PIB industrial. Mas também é importante que seja bem-feita e com segurança jurídica.

Quanto a Ford teria que se adequar ou já está adequada às inovações do Rota 2030?
São previstos dois aspectos, eficiência energética e investimentos em engenharia e pesquisa. A Ford foi a montadora que mais apostou em investir nestas áreas no Brasil e há muito tempo. No Inovar Auto, a Ford superou as duas metas e estamos na frente da maioria (das montadoras) em eficiência energética. Fizemos muito mais porque investimos muito dinheiro nisso. Significa mais tecnologia, mais foco no que o cliente quer e no meio ambiente.

A montadora também é a única com projetos reais e globais de engenharia - gastamos uma fortuna, fizemos um grande investimento nisso e acreditamos que o Brasil pode gerar não só manufatura de produtos, mas processos de inovação de produtos.


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