Folha de S. Paulo


Organizador do Ironman vê mercado para negócios esportivos no interior

O empresário Carlos Galvão está à frente de um dos mais importantes eventos esportivos que acontecem no Brasil. Sua empresa, a Unlimited Sports, detém os direitos do Ironman no país, competição mundial de triatletismo que faz 40 anos em 2018.

Formado em administração e triatleta, Galvão deixou o mercado financeiro quando enxergou que a prova era mal explorada por aqui. Desde que passou a organizá-lo, em 2000, o Ironman aumentou em mais de dez vezes o número de competidores.

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Folha - Como surgiu a ideia de trazer o Ironman ao Brasil?
Carlos Galvão - Em 1995, eu trabalhava na Bolsa de Valores e comecei a praticar triatlo como esporte. Com o tempo, me interessei pelo Ironman e não entendia por que a prova não crescia no Brasil.
A etapa acontecia em Porto Seguro e a infraestrutura não era adequada. Eu me apresentei à World Triathlon Corporation, nos Estados Unidos, dona da marca, e saí de lá com a licença para realizar o evento a partir de 2000. Assim nasceu minha primeira empresa, a Latin Sports, em sociedade com o Alberto Azevedo, sócio da Track&Field.

Alberto Rocha/Folhapress
Sibylle Muller, da AcquaBrasilis, em empreendimento com sistema de reúso, em São Paulo
Carlos Galvão na sede de sua empresa, a Unlimited Sports, no Morumbi, na zona oeste de São Paulo

Quais mudanças promoveu no Ironman a partir de então?
A primeira medida foi transferir a prova para Florianópolis. Já no primeiro ano, o número de atletas pulou de 223 para 476. Conforme o Ironman ganhava corpo, passamos a desenvolver outros eventos, como o Track & Field Run Series. Em 2014, fizemos 82 eventos ao todo. Chegamos a ter 84 funcionários e a faturar R$ 25 milhões. Até que, em março de 2016, decidi sair da sociedade para fundar a Unlimited Sports e me especializar nos eventos de triatlo. Trouxe o Ironman comigo.

Para empreender nesse setor, é primordial ter alguma ligação com o mundo do esporte?
Sem dúvida ajuda muito. Sendo triatleta, consigo entender a fundo a necessidade do meu cliente. Também fica mais fácil conquistar os patrocinadores, o que é um dos meus maiores desafios. Mas vejo luz no fim do túnel. Hoje há muito executivo triatleta, e as empresas logo vão enxergar os benefícios de associar suas imagens ao esporte.

Eventos desse porte abrem muitas oportunidades para micro e pequenos empreendedores. Onde elas estão?
Só em Florianópolis trabalho com uma cadeia de 30 empresas. Elas me fornecem camisetas, números de peito, alimentos, bebidas, atendimento médico, transporte, gelo... Nos concentramos nas capitais, mas acredito que haja muito espaço para o triatlo crescer no interior, em regiões periféricas, ainda carentes de eventos esportivos, onde deverão surgir oportunidades para empreendedores. Também vejo potencial a explorar entre o público feminino: 70% dos corredores são homens.

Qual o porte da empresa hoje?
Ficamos em uma casa no Morumbi, equipada com uma raia de 25 metros que tem tudo a ver com nosso "business". Tenho 15 funcionários e vou fechar o ano com R$ 19 milhões de faturamento. Ou seja, dei uma otimizada. O evento só cresce. Em 2017, tivemos cinco etapas no Brasil. Além da principal, em Florianópolis, realizamos quatro provas com as distâncias pela metade, o Ironman 70.3. Atraímos 7.400 atletas ao todo. E lançamos o Triday Series, de curtas distâncias, que estimula a formação de triatletas. Para 2018, a previsão de faturamento é de R$ 25 milhões.

Como se monta uma prova desse porte?
A prova de Florianópolis já é a sexta maior do mundo. O custo de montagem é de quase R$ 4,5 milhões, com 1.200 empregados diretos. O impacto para a cidade chega a R$ 35 milhões. Cada um dos 2.500 atletas inscritos leva de quatro a seis acompanhantes, que ficam hospedados na cidade de cinco a sete dias.

Quem são os triatletas do país?
Nas provas de Ironman, eles têm de 30 a 55 anos. No Triday Series, são mais jovens, de 28 a 45 anos. O interessante é que, em média, de 30% a 35% dos inscritos em cada prova são estreantes.

O Ironman é um desafio e tanto, mas está deixando de ser coisa de super-homens. Hoje, entendo que somos uma plataforma de entrega de sonhos para pessoas comuns. Este ano, no Triday, tivemos um ex-obeso ilustre, o publicitário Nizan Guanaes, completando uma prova.

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Nascimento
Brasília, 3.set.1969

Formação
Administração de empresas pela Faap (Fundação Armando Alvares Penteado), com especialização em marketing esportivo pela Universidade de Nova York

Atuação
Sócio-fundador da empresa Unlimited Sports


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