Folha de S. Paulo


Divergência sobre reforma faz Bolsa cair pelo 2º dia; dólar sobe a R$ 3,33

Pedro Ladeira/Folhapress
Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se reuniu com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ)
Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se reuniu com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ)

As informações desencontradas sobre a votação da reforma da Previdência dentro do próprio governo estressaram o mercado financeiro pelo segundo dia, pressionando em baixa a Bolsa brasileira nesta quinta (14) e levando o dólar a R$ 3,338, maior nível desde junho.

O Ibovespa, das ações mais negociadas, recuou 0,67%, para 72.428 pontos. O giro financeiro do dia foi de R$ 11,3 bilhões, inflado pelo leilão de compra e venda dos papéis ordinários do Itaú Unibanco, que não fazem parte do índice.

O dólar comercial fechou em alta de 0,63%, para R$ 3,338, maior nível desde 23 de junho. O dólar à vista se valorizou 0,77%, para R$ 3,340, patamar mais elevado desde 18 de maio, um dia após o vazamento da notícia da delação do empresário Joesley Batista, da JBS.

O dia foi de intenso vaivém envolvendo a data da reforma. O presidente Michel Temer suspendeu uma reunião para anunciar o dia da votação. Em seguida, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que a Previdência seria votada em 19 de fevereiro.

Ao longo do dia, os investidores ainda viram o relator da reforma anunciar flexibilizações no projeto tentar aprovar o texto, enquanto o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, rejeitou reabrir a temporada de negociações.

"Estamos no meio de duas grandes ofertas de ações [da BR Distribuidora e do Burger King], estão tendo boa demanda, e a maior parte é do investidor estrangeiro, que não vai sair do país amanhã. Ele vai montar uma posição de longo prazo", diz Marco Saravalle, analista da XP Investimentos.

As incertezas provocaram manifestação da agência de classificação Moody's, que afirmou que o adiamento da votação para fevereiro é um fator de crédito "negativo" e indica falta de apoio política à proposta.

Para a Moody's, o adiamento "aumenta a possibilidade de que a reforma não seja aprovada no ano que vem, dada a incerteza em torno das eleições presidenciais".

"O adiamento fortalece as preocupações sobre a capacidade do governo para cumprir o teto de gastos e endereçar efetivamente as tendências fiscais adversas que têm gerado uma persistente deterioração do perfil de crédito do país nos últimos anos", afirmou no comentário.

A Fitch também se manifestou nesta quinta. A agência indicou em nota que "o adiamento da reforma da Previdência evidencia os riscos de baixa que incorporamos em nossa perspectiva negativa para o rating 'BB' do Brasil". "A janela de oportunidade para uma reforma da Previdência significativa antes do ciclo eleitoral de 2018 está se estreitando, e atrasos adicionais ou diluições são riscos à viabilidade do teto de gastos e para a estabilidade da dívida no médio prazo, assim como riscos potenciais à confiança do mercado e ao corrente processo de recuperação no curto prazo", afirmou a agência.

Para Saravalle, as manifestações das agências pode causar turbulências no mercado. "O alerta traz preocupação mais para o mercado financeiro do que para a atividade econômica em si de fato. O impacto nos ativos financeiros é mais imediato. Não se sabe se as agências vão esperar fevereiro para se manifestar sobre o adiamento", diz.

AÇÕES

Das 59 ações do Ibovespa, 19 subiram, 39 caíram e uma se manteve estável.

A maior queda foi registrada pelas ações ordinárias da Eletrobras, que caíram 3,80%. A Natura teve baixa de 3,32%, e os papéis preferenciais da Eletrobras recuaram 2,80%. A incerteza em torno da reforma provoca nos investidores a percepção de que a privatização da elétrica pode ser difícil, apesar de o presidente da estatal ter afirmado que a operação deve ocorrer entre setembro e dezembro do próximo ano.

Na ponta positiva, as ações da Metalúrgica Gerdau subiram 2,98%. Os papéis da Hypermarcas avançaram 2,47%, e as ações da Fibria se valorizaram 2,09%.

A Petrobras encerrou o dia em baixa, apesar da valorização dos preços do petróleo no exterior. Nesta quinta, a Agência Internacional de Energia manteve sua previsão para o crescimento global da demanda da commodity em 2017. Mas a interrupção de um oleoduto no Reino Unido continuar a apoiar os preços do petróleo, apesar de dados com previsão de excesso de oferta global no início do ano que vem.

As ações mais negociadas da Petrobras recuaram 1,12%, para R$ 15,01. Os papéis com direito a voto se desvalorizaram 0,82%, para R$ 15,81.

A mineradora Vale viu suas ações ordinárias subirem 0,36%, para R$ 36,24.

No setor financeiro, o Itaú Unibanco recuou 1,58%. Os papéis preferenciais do Bradesco fecharam em baixa de 0,79%, e os ordinários caíram 0,98%. O Banco do Brasil se desvalorizou 0,39%, e as units –conjunto de ações– do Santander Brasil tiveram baixa de 0,81%.

DÓLAR

No mercado cambial, o dólar se enfraqueceu ante 24 das 31 principais divisas mundiais.

O Banco Central vendeu o total de até 14 mil contratos de swaps cambiais tradicionais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro), para rolagem do vencimento de janeiro. Até agora, rolou o equivalente a US$ 7 bilhões dos US$ 9,638 bilhões que vencem no mês que vem.

A confirmação do adiamento da votação da reforma fez o CDS, espécie de seguro contra calote do Brasil, subir 1,31%, para 167,4 pontos.

No mercado de juros futuros, o contratos mais negociados fecharam com sinais mistos. O contrato para janeiro de 2018 teve leve queda de 6,900% para 6,895%. O contrato para janeiro de 2019 subiu de 6,940% para 6,950%.


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