Folha de S. Paulo


Reforma da Previdência leva a 'bate cabeça' no governo

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 13-12-2017, 22h00: Os presidentes da câmara dos deputados e do senado federal, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e senador Eunicio Oliveira (PMDB-CE), ao lado do senador Romero Jucá (PMDB-RR), durante sessão da câmara dos deputados, momentos antes de se iniciar a sessão do Congresso Nacional. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
O senador Romero Jucá conversa com o presidente do Senado, Eunício Oliveira; ao lado, Rodrigo Maia

A declaração do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), de que a votação da reforma da Previdência ficou para o ano que vem deflagrou um bate cabeça no Planalto e no Congresso, causando mal-estar no governo, disposto a manter o discurso otimista para conseguir votos.

Na tarde desta quarta (13), Jucá anunciou, em nota, que um "acordo" foi fechado pelos presidentes da Câmara e do Senado, em conjunto com o governo, para adiar a votação da mudança da aposentadoria para fevereiro.

O movimento ocorreu um dia depois de o presidente Michel Temer admitir a possibilidade de adiamento, mas dentro de um contexto de tentar manter o discurso de votar a proposta ainda neste ano.

Em nota oficial, o Planalto não desmentiu diretamente Jucá, mas disse que a data da votação será definida nesta quinta (14) pelos presidentes Temer, Eunício Oliveira (Senado) e Rodrigo Maia (Câmara).

O Planalto afirmou ainda que estão mantidas a leitura do relatório da reforma e o início de sua discussão no plenário da Câmara.

À noite, em entrevista à Folha, Jucá manteve o discurso de que a proposta não será votada na semana que vem. "Eu acho que o governo tem que falar a verdade, não adianta o governo mistificar", disse o senador.

"A Câmara pode discutir a reforma no plenário, mas número para votar só quando tiver os 308 votos [placar mínimo necessário], e esse sinal, essa fumaça branca, não foi dada ainda pelos líderes do governo na Câmara", afirmou o senador.

Os presidentes da Câmara e do Senado tentaram minimizar o anúncio. "Não combinei nada", disse Maia, após a polêmica causada pelo líder do governo. "Não fiz reunião com o Michel, não fiz reunião com ninguém", afirmou Eunício.

Segundo a Folha apurou, Jucá avançou o sinal e atropelou possível anúncio de adiamento que seria feito nesta quinta por Temer, Maia e Eunício. O tema havia sido discutido por eles em um jantar organizado pelo presidente do Senado terça (12).

A declaração de Jucá de que a reforma ficará para fevereiro de 2018 veio horas depois de o PSDB manifestar apoio formal à proposta.

Segundo Jucá, o acordo de deixar a reforma para 2018 ocorreu porque o presidente do Senado convocou a sessão de votação do Orçamento de 2018 para a noite passada –com isso, o ano legislativo praticamente se encerraria no Congresso porque os parlamentares não retornam mais a Brasília após essa votação.

CONFRONTO

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi o primeiro a confrontar a declaração do líder do governo de que a reforma não será mais apreciada em 2017.

"Jucá expressou sua opinião de que ele acha isso uma solução viável e possível que ocorra, mas é evidente que não é uma decisão ainda. Pode não ser", disse Meirelles.

"Isso é uma sacanagem com Michel", disse o deputado Beto Mansur (PRB-SP), da tropa de choque de Temer. "Fica mais difícil porque fica mais perto das eleições."

"Talvez o Jucá tenha informação que ainda não chegou ao Planalto e por isso não chegou aqui", ironizou o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

No Palácio do Planalto, alguns auxiliares de Temer não escondiam irritação.

Trinta e dois minutos após informar que Temer precisaria de "até 48 horas" para se recuperar de um procedimento cirúrgico em São Paulo, o Planalto soltou nova nota para informar que Temer retorna a Brasília nesta quinta para discutir a data de votação. A reunião, porém, não estava na agenda oficial divulgada no início da noite.

Prioridade número 1 do governo Temer no Congresso, a reforma da Previdência já sofreu sucessivos adiamentos e precisa do apoio de pelo menos 60% dos congressistas para ser aprovada.


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