Folha de S. Paulo


Disney deve fechar compra de parte da 21st Century Fox até quinta-feira

A Disney se aproxima de um acordo para adquirir os ativos de entretenimento da 21st Century Fox, de Rupert Murdoch, em uma transação paga em ações que mudaria a cara de Hollywood e do setor mundial de mídia, que está passando por uma rápida digitalização.

A transação avalia os ativos da Fox em cerca de US$ 60 bilhões, incluindo dívidas, e pode ser anunciada na quinta-feira (14), de acordo com pessoas informadas sobre as negociações.

A Disney passaria a controlar o estúdio 20th Century Fox, responsável por filmes como "Avatar" e a série cinematográfica dos X-Men, unindo-o às suas operações de cinema, e também tomaria o controle de diversas empresas de TV paga, como a Sky, no Reino Unido, e a Star, na Índia; de redes regionais de esportes nos Estados Unidos; e da participação da Fox no serviço de streaming digital norte-americano Hulu.

Os ativos restantes da Fox, que incluem a rede Fox de TV aberta e o canal de notícias Fox News, serão cindidos como parte de uma nova empresa com valor de cerca de US$ 10 por ação, disse uma pessoa informada sobre os termos da transação.

Entre os detalhes finais que estavam sendo definidos nesta terça-feira (12) estão o preço total a ser pago pela Disney e o destino de James Murdoch, o presidente-executivo da Fox, que foi mencionado para um possível papel de liderança no grupo combinado, o que poria fim a uma carreira de 20 anos de trabalho sob o comando de seu pai, Rupert.

OBSTÁCULOS

Os negociadores também estavam discutindo as medidas que teriam de ser tomadas para passar pelo forte escrutínio regulatório em Washington, depois que o governo Trump decidiu bloquear a recente proposta de aquisição da Time Warner pela AT&T, uma transação de US$ 85,4 bilhões, a não ser que algumas das redes de TV da empresa a ser adquirida sejam vendidas separadamente.

Os principais obstáculos regulatórios provavelmente serão encontrados na combinação dos dois estúdios de cinema e na posição dominante que a Disney teria no mercado de esportes; os negociadores estavam discutindo se a escala de produção do estúdio adquirido teria de ser reduzida.

De acordo com pessoas informadas sobre as negociações, James Murdoch poderia optar por criar um negócio próprio, em lugar de assumir um posto importante na Disney. Bob Iger, o presidente-executivo da Disney, deve se aposentar em 2019, mas a expectativa é que prolongue seu contrato a fim de supervisionar a integração das duas empresas.

A oposição do Departamento da Justiça americano à aquisição da Time Warner pela AT&T foi uma atitude incomum, porque as autoridades antitruste dos Estados Unidos historicamente costumam aprovar as transações ditas "verticais", envolvendo empresas que não são rivais diretas, o que gerou críticas de que a posição do governo Trump é política. A Time Warner controla a rede de notícias CNN, muito criticada por Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos.

Já no caso da Disney, a empresa estaria adquirindo ativos de um concorrente, e essas transações "horizontais" enfrentaram maior oposição no passado.

"É provável que a aquisição enfrente sérios obstáculos", disse Erik Gordon, professor da Escola Ross de Administração de Empresas, na Universidade do Michigan.
"A Disney já é a segunda maior entre as gigantes da mídia. É previsível que fusões de gigantes como esses enfrentem mais escrutínio do que fusões em outros setores."

Além de dois estúdios de cinema concorrentes sob o mesmo teto, os especialistas apontam para a combinação entre a rede de esportes ESPN, da Disney, e os 22 canais regionais de esportes da Fox, que detém direitos de transmissão valiosos sobre competições esportivas locais, como outro provável obstáculo.

Os analistas disseram que a Disney poderia cobrar taxas de distribuição mais altas pela programação da ESPN e de seus canais de cabo, depois da transação.

Mas George Hay, professor de direito na Universidade Cornell, afirmou que é provável que o Departamento da Justiça termine aprovando a transação se restarem concorrentes em número suficiente para a nova companhia, tanto na produção de cinema quanto na programação de TV.

Novas transações podem surgir se Murdoch decidir reunir seus ativos remanescentes de TV e esportes com a News Corp, dona do "Wall Street Journal".

Embora as negociações entre a Disney e a Fox tenham gerado interesse da parte de outros interessados, como a Comcast e a Verizon, a Disney não enfrentou competição séria pelos ativos.

A Comcast, maior operadora de serviços de cabo dos Estados Unidos, abandonou a disputa nesta segunda-feira (11).

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The Wall Disney Company 3º tri fiscal de 2017*
Faturamento US$ 12,8 bi
Lucro US$ 1,7 bi
Marcas/empresas Walt Disney Pictures, Lucas Film, Marvel, Magic Kingdom, Epcot

Twenty-First Century Fox /1º tri fiscal de 2018
Faturamento US$ 7 bi
Lucro US$ 904 milhões
Marcas/empresas 20th Century Fox, Fox News, Fox Sports,
FX, Sky europeia (39%)

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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