Folha de S. Paulo


'Regras diferentes entre países tornam abertura injusta' diz presidente da Azul

Marcos Alves /Agencia O Globo
EC São Paulo (SP) 25/07/2017. John Rodgerson. Novo presidente da Azul. Foto Marcos Alves / Agencia O Globo DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
John Rodgerson, presidente da Azul

A Azul é contra o acordo de céus abertos entre Brasil e EUA. Para John Rodgerson, presidente da Azul, a liberação geral de voos entre os países não traria uma competição justa porque as empresas brasileiras não estão em pé de igualdade com as americanas.

O executivo lamenta que a regulação local é mais restritiva, e o custo de capital nas brasileiras, mais alto. "Apoiamos céus abertos desde que as regras sejam iguais", diz.

Hoje, ainda há margem para expandir a frequência. As brasileiras operam 59 voos para os EUA, e as americanas, 137 para cá, segundo dados da Anac de maio. A lei limita os voos em 301 de cada lado.

O acordo só abrange voos internacionais, ou seja, uma empresa estrangeira não pode fazer voo doméstico no país, e essa proibição permanece mesmo no caso de se aprovar o acordo de céus abertos.

O posicionamento da Azul em relação à abertura é exceção no setor. Assim como a Latam, a Gol apoia o céus abertos. A Avianca não se manifestou.

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Folha - Ao política de céus abertos é consenso no setor?

John Rodgerson - Não. Nós apoiamos céus abertos desde que as regras nos EUA e Brasil sejam as mesmas. Mas as regras para um piloto brasileiro são diferentes das de um piloto nos EUA. Lá tem mais flexibilidade, pode voar mais horas. Não é certo fazer algo em que o outro lado tem algo para competir, que nós não temos. Os gringos são completamente contra o céus abertos com os grandes competidores do Oriente Médio, como Emirates, Etihad e Qatar. Quando os favorece, eles querem. Acho que, se liberar isso, vai ter pouco crescimento do lado brasileiro.

Que solução para aumentar os voos poderia ser melhor?

No ano passado, cerca de 600 mil americanos visitaram o Brasil. Mas 1,5 milhão foi para a Jamaica. É que precisa de visto para vir ao Brasil, e isso deixa tudo mais complicado. Se queremos ajudar o Brasil a atrair passageiro, é melhor pensar no visto.

A brasileira fica grávida e vai fazer compras em Miami. Isso é bom para as linhas aéreas, mas não para o comércio brasileiro. Precisamos é de mais pessoas visitando o Brasil. Céus abertos é só para quem está pensando em São Paulo, Guarulhos. Nós voamos Recife-Miami, Confins-Orlando. Ninguém está fazendo isso. É engraçado falar de céus abertos, porque ninguém está voando nesses lugares.

Além dos pilotos, que outros gargalos beneficiariam o setor e igualariam as regras brasileiras às internacionais? Baixar o ICMS do combustível, a franquia de bagagem, que está na Justiça?

Uma empresa aérea nos EUA pode captar dinheiro bem mais barato do que uma brasileira. Quando eu quero comprar um avião, o preço é bem diferente da American Airlines. Meu custo de capital é bem mais alto que o deles. As regras que são colocadas aqui no Brasil são mais pesadas para as empresas. Se pudermos mudá-las, a gente apoia. Até seria bom para a nossa parceria com a United.

A Azul é protecionista?

Os gringos já podem colocar mais voos no Brasil. Ainda há espaço. Não é protecionismo nosso. Eu nem opero em Guarulhos. Opero em Campinas. Se querem colocar voo em Campinas, seja American, Delta ou United, está aberto. Pode colocar. Estou me protegendo de quê? Só estamos tentando pedir algo em troca.

Outro tema em que a Azul opina diferente da concorrência é o capital estrangeiro.

Se uma empresa aérea americana ou chinesa fosse dona de 100% do capital de uma brasileira, ela ia passar a crise aqui? Na crise, nenhum voo ficou rentável. O que teria ocorrido? Todas as aeronaves dela teriam sido levadas para a Ásia, ou aos EUA, qualquer lugar. E o Brasil ia ficar sem porque avião não é um ativo que você instala no país e ele fica fixo como se fosse uma fábrica. São poucos os países no mundo que têm 100% de capital estrangeiro.

De novo, se querem 100% de capital estrangeiro aqui, então nos deixe abrir uma empresa aérea nos EUA com 100% de capital brasileiro. É recíproco. Os outros países não vão deixar. Eu não posso comprar a [portuguesa] TAP, por exemplo. Temos um pedaço dela, mas não podemos controlar. Mas a TAP poderia controlar a Azul? Não faria sentido. Temos que proteger o que foi criado e crescer.

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RAIO-X

Carreira

> foi diretor vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Azul, responsável pelas áreas de planejamento e análise financeira, tesouraria e contabilidade;

> Trabalhou no plano de negócios original para criação da Azul e foi um dos membros fundadores da equipe;

> Foi diretor de planejamento e análise financeira da JetBlue Airways (2003 a 2008)

Cargo

diretor-presidente da Azul


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