Folha de S. Paulo


Prefeitura segue com PPP da luz, mas protela abertura de envelopes

Avener Prado - 1º.dez.2015/Folhapress
Av. 23 de Maio, em São Paulo, iluminada pelas antigas lâmpadas de vapor de sódio
Av. 23 de Maio, em São Paulo, iluminada pelas antigas lâmpadas de vapor de sódio
Avener Prado - 2.abr.2014/Folhapress
Em 2014, prefeitura trocou antiga iluminação da avenida por lâmpadas de LED
Em 2014, prefeitura trocou antiga iluminação da avenida por lâmpadas de LED

A Prefeitura deu prosseguimento à PPP bilionária da iluminação pública de São Paulo nesta quinta-feira (7), dando início a uma análise das garantias das propostas dos concorrentes.

A reunião da Comissão Especial de Licitações ocorreu após determinação da Justiça de São Paulo de que o processo da licitação, que está parado há dois anos, deveria ter prosseguimento.

Um dos concorrentes, o consórcio FM Rodrigues/CLD, tentou impedir a continuação do certame ainda nesta semana, via ação judicial, mas não obteve sucesso.

A FM Rodrigues é a atual prestadora de serviços da cidade, com um contrato emergencial firmado em outubro.

Seu único concorrente, o consórcio Walks —que se estima que tenha uma proposta mais barata— esperava que os envelopes com as ofertas fossem abertos ainda nesta quinta, o que não ocorreu.

Segundo a Prefeitura, porém, foi seguido o rito normal de uma licitação deste tipo, e é necessário analisar as garantias antes de prosseguir.

Os dois consórcios têm, agora, dois dias úteis para comprovar que pagaram suas apólices. Depois, será feita a análise e publicada a habilitação das empresas, o que a Prefeitura diz não ter estimativa de quando vai acontecer.

Anunciada na gestão Haddad, em 2015, a PPP estimava reduzir de R$ 17 milhões por mês para R$ 8,5 milhões os gastos com iluminação, com a possibilidade de as empresas vencedoras proverem wi-fi e instalarem sensores inteligentes nos postes.

O contrato, de R$ 7,2 bilhões, tem duração fixada em 20 anos. Hoje, o custo apenas para trocar as lâmpadas é de R$ 12 milhões por mês.

Durante 2016, a PPP estava parada no TCM (Tribunal de Contas do Município), porque a FM Rodrigues, que está na disputa, questionou as garantias dadas pelo consórcio Walks, seu concorrente.

Em 1º de outubro, o município firmou um contrato emergencial com a FM Rodrigues, que participa do certame e que presta o serviço para a cidade.

No fim de outubro, o Ministério Público de São Paulo emitiu um parecer favorável à continuidade da licitação para a PPP.

LAVA JATO

Em março deste ano, a Alumini, que até o ano passado dividia com a FM o serviço de luz na cidade, foi declarada inidônea para firmar contratos com a administração pública por ter pagado propina a funcionários da Petrobras.

O problema é que uma empresa chamada Quaatro, que detém 99,9% das ações da Alumini, concorre à PPP integrando o consórcio Walks, o que a prefeitura considera que seja uma "maquiagem" da pessoa jurídica da Alumini.

O edital também proíbe participação de empresas em recuperação judicial, o que é o caso da Alumini desde 2015.

"Quaatro e Alumini possuem composição societária idênticas. As assembleias sociais são realizadas no mesmo local, as pessoas físicas presentes e praticantes dos atos são exatamente as mesmas", afirma a Secretaria dos Serviços e Obras da cidade.

O concorrente do Walks é um consórcio composto pela empresa FM Rodrigues e pela construtora Consladel.

Em maio, a FM Rodrigues pediu à Comissão Especial de Licitações da Prefeitura de São Paulo que estendesse a inidoneidade da Alumini à Quaatro, a barrando da competição, o que foi atendido.

Em seguida, em julho, o Walks entrou com uma ação no Tribunal de Justiça de São Paulo pedindo para permanecer na disputa, o que ainda está em andamento.

O consórcio Walks argumenta que, não havendo decisão contrária à sua participação, a prefeitura poderia ter aberto os envelopes da licitação. Segundo a gestão municipal, isso não é possível porque não há uma sentença determinando se a Quaatro pode ou não concorrer.

"Quando uma empresa é declarada inidônea, isso afeta os contratos futuros em todas as esferas da administração", diz o advogado Fernando Villela de Andrade Vianna, sócio do Siqueira Castro.

"Deve-se averiguar, nesse caso, se a Quaatro foi criada só para se ter um subterfúgio para infringir a lei. Caso positivo, a inidoneidade pode ser estendida a ela."

Pensada inicialmente para atrair multinacionais, a PPP perdeu o interesse da GE e da Philips em 2016, quando a prefeitura extinguiu das garantias uma conta vinculada para onde seriam destinados os recursos pagos pela população pela Cosip (contribuição para o custeio da iluminação pública).

Desde 2015, a prefeitura vem trocando as 618 mil luminárias da cidade por lâmpadas de tecnologia LED, que consomem e poluem menos do que as de vapor de sódio.

OUTRO LADO

Em nota, a Alumini Engenharia afirmou que não está participando da licitação, e que a Quaatro tem personalidade jurídica própria.

"O consórcio Walks apresentou todas as garantias necessárias e está sendo agora prejudicado por uma interpretação equivocada da prefeitura", diz a empresa.

"Cabe esclarecer, ainda, que a Alumini Engenharia jamais pagou propina a funcionários da Petrobras ou a qualquer agente público e, por isso, a declaração de inidoneidade está sendo contestada na Justiça. Além disso, a empresa vem cumprindo rigorosamente seu plano de recuperação judicial."

*

QUEM É QUEM
As concorrentes à iluminação da cidade

- WALKS

KS Brasil Led Holdings

WPR Participações
Subsidiária do grupo WTorre, que atua em construção civil e infraestrutura

Quaatro Participações
Detém 99,9% da Alumini, empresa condenada na Lava Jato por pagar propina a funcionários da Petrobras (antes, se chamava Alusa)

- FM RODRIGUES/CLD

FM Rodrigues & Cia
Atual prestadora dos serviços de iluminação da cidade

Consladel
Condenada no Cade, em 2015, por cartel em licitação para sinalização e fiscalização de trânsito em Jaú (SP)


Endereço da página:

Links no texto: