Folha de S. Paulo


Planalto admite votar Previdência mesmo sem garantia dos 308 votos

O presidente Michel Temer reduziu o piso e agora espera contabilizar pelo menos 290 votos favoráveis à reforma da Previdência para colocar a proposta em votação na próxima terça-feira (12). A meta baixou em relação às últimas semanas —quando o governo estabelecia 330 votos para levar o texto ao plenário da Câmara— diante das dificuldades que os deputados têm apresentado em apoiar a medida.

Durante encontro no Palácio da Alvorada na manhã desta quarta-feira (6), Temer pediu empenho dos aliados para que uma contagem mais objetiva de votos seja feita em reunião agendada para esta noite —o governo precisa de 308 deputados para aprovar a reforma na Câmara, em dois turnos de votação.

Depois da onda de otimismo que começou nesta semana, o encontro da manhã desta quarta, porém, deixou claro aos líderes da base e ao próprio Temer que ainda não há votos suficientes para aprovar a reforma da Previdência este ano.

Enquete feita pela Folha com deputados entre os dias 27 de novembro e 1º de dezembro apontou que ao menos 220 parlamentares devem votar contra a proposta de reforma, o que inviabiliza a meta de 308 votos favoráveis. Veja aqui a intenção de voto de cada deputado.

Segundo parlamentares que participaram da reunião, o cenário atual é de cerca de 260 votos —mesmo patamar que era considerado nesta terça. O presidente pediu então aos líderes da base que trabalhem na conquista de votos durante o dia para que possam bater o martelo na noite desta quarta.

Com um placar ainda longe dos 308 votos, o deputado Beto Mansur (PRB-SP), importante aliado de Temer, disse que o governo vai trabalhar até o último minuto para conquistar votos e comparou ao processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

"Teremos um número já durante esta noite. Mas vamos trabalhar como trabalhamos em outras propostas, como o impeachment. Trabalhamos virando votos até o dia da votação. É isso que vai acontecer", disse.

Aliados de Temer se irritaram com a falta de disposição de alguns líderes em passar a contagem exata de votos de cada partido, como Arthur Lira (AL), líder do PP na Câmara.

No encontro, os partidos da base aliada evitaram fazer promessas de fechamento de questão —quando a bancada precisa votar unida, com possível punição para quem descumprir a ordem. Somente o PMDB, partido de Temer, garantiu que seguirá a orientação do presidente. O rachado PSDB não enviou nenhum parlamentar para o café da manhã e ainda é foco de preocupação do Planalto.

Nas contas mais otimistas do governo, dos 46 deputados tucanos, cerca de 33 podem votar a favor da reforma —o eleitorado do PSDB é historicamente a favor da medida.

PTB

Após o encontro, no entanto, o PTB fechou questão a favor da aprovação da reforma. A decisão ocorre em meio à pressão do peemedebista e diante da perspectiva da sigla aumentar seu espaço na Esplanada dos Ministérios.

O partido comandando por Roberto Jefferson, que foi pivô e condenado no escândalo do mensalão, tomou a decisão antes mesmo do PMDB, sigla do presidente.

Ao todo, o PTB conta com uma bancada de 16 deputados federais em exercício e está à frente do Ministério do Trabalho e da Casa da Moeda.

A bancada do PSD, partido do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ainda não garante nem 50% de apoio à reforma da Previdência. Apenas 15 dos 38 deputados da legenda hoje estão convencidos a votar pela proposta, de acordo com o ministro Gilberto Kassab (Comunicações).

"São 15 que estão plenamente convencidos, aproximadamente 10 discutindo e com probabilidade grande de votar e outros ainda avaliando", disse Kassab.

No PR, o líder da bancada, José Rocha (BA), calcula ter apenas 16 dos 37 deputados a favor da reforma. O partido se reúne no final desta tarde para discutir o tema.

A ideia da tropa de choque do Planalto é esquematizar os votos por legenda, inclusive para contabilizar os dissidentes dentro da própria base aliada.

Na reunião, Temer reconheceu as dificuldades de aprovar a proposta neste ano, mas ressaltou que, se não for votada agora, o tema vai pautar a disputa eleitoral de 2018.

O relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), saiu da reunião com um placar bem mais otimista que os colegas: acredita que há de 290 a 310 votos a favor da proposta.


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