Folha de S. Paulo


Livro reúne memórias do dono da Livraria Cultura

Marcus Leoni/Folhapress
Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, que diz desconhecer o que a rede venderá em 5 anos
Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, que diz desconhecer o que a rede venderá em 5 anos

Meses após ter comandado a compra da Fnac pela sua Livraria Cultura, o empresário Pedro Herz, 77, desconhece o que a nova rede estará vendendo daqui a cinco anos. "Isso é uma pergunta que se faz a todo e qualquer varejo. E eu não sei responder. A mudança é tão rápida que não dá para dizer", diz Herz, que lança um livro sobre o mercado editorial.

Suas memórias profissionais estão compiladas em "O Livreiro", que conta uma história verídica adotando gêneros de ficção.

Há momentos de realismo fantástico, como quando a casa em que morava com os pais nos Jardins passa a ser ocupada por livros demais, que acabam por "expulsar" os moradores para outros imóveis.

Há cenas surreais, como quando ele empurrou pelas nádegas um Vinicius de Moraes bêbado escada da livraria acima para chegar, atrasado algumas horas, a uma sessão de autógrafos.

"Teve momentos em que me emocionei relembrando, teve coisa triste, teve coisa alegre", diz ele na sala da livraria do shopping Iguatemi onde grava as entrevistas com escritores como o moçambicano Mia Couto, publicadas no seu canal de YouTube.

A compra, anunciada em julho, mudou o cronograma do livro. Herz teve de pedir de volta o manuscrito, que entregara dois meses antes para a editora, e adicionar a compra da rede francesa, que entra logo nos primeiros capítulos. "Eu tinha um contrato assinado em que eu não podia abrir a boca. Mesmo em sigilo eu não poderia escrever sobre isso ou ia ser punido."

As tratativas da venda milionária, cujos valores são mantidos em sigilo, precederam em muito o livro, que ele escreveu em seis meses: duraram cinco anos. "Foi aquela história de vaivém. Os caras somem, aí o diretor que estava conversando comigo saiu. As regras a gente já tinha posto no papel."

Uma das motivações para a investida na compra da rede francesa foi a perda de produtos importantes. "O DVD e o CD representavam 20% do faturamento, e agora não existem mais. A gente precisa vender outra coisa, até porque os livros não foram bem nos últimos três anos." A Cultura vai passar a vender os eletroeletrônicos que ocupavam grande parte dos espaços da Fnac? "Qualquer coisa que eu possa juntar."

Para o maior livreiro do país, o mercado não passa por um momento ruim, e sim por uma crise de consumidores. "Não é a indústria que está em crise no Brasil. É o leitor. O país não tem feito leitores novos." Ele acredita tanto que dedica seu livro a JK Rowling, a autora da saga Harry Potter. "Foi a porta de entrada para a leitura para milhões."

Herz atribui o desapreço pela palavra escrita a uma incapacidade de comunicação. "Não ler é não ouvir. Ler é ficar calado e ouvir. Depois você pode até dizer: 'Não gostei, é um lixo'. Mas as pessoas não ouvem. Digitar é falar não oralmente. Você entra num elevador e 100% das pessoas estão falando, ninguém está ouvindo."

Mas ele vê sobrevida para o mercado, mesmo que mudado. "Todo modismo tem vida curta. De vestuário a restaurante da moda. As coisas mais tradicionais vivem mais", diz o livreiro, para depois dar um exemplo prático da sua esperança: um dos livros mais vendidos da rede é a obra completa de William Shakespeare, um catatau com mais de mil páginas.

O LIVREIRO
AUTOR Pedro Herz
EDITORA Planeta
QUANTO R$ 49,90 (240 págs.)


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