Folha de S. Paulo


Sem votos, governo tenta esforço para evitar adiar reforma da Previdência

Sem o apoio necessário para aprovar a reforma da Previdência, o governo vai apostar todas as suas fichas na próxima semana para tentar alcançar os 308 votos de que precisa para aprovar a reforma da Previdência ainda neste ano.

O esforço concentrado começa já no domingo (3). O presidente Michel Temer convidou presidentes de partido para um almoço no Palácio do Alvorada, no início da tarde.

À noite, Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reúnem ministros para explicar a reforma para presidentes e líderes de partido.

Por outro lado, querem ouvir deles qual o real cenário em cada bancada.

Enquete da Folha mostrou nesta sexta-feira (1º) que o governo não tem o mínimo necessário para aprovar a nova previdência. Muito pelo contrário: 213 deputados disseram que votarão contra as mudanças na Previdência.

"É precipitado dizer que não tem os votos. Tem que fazer um trabalho de base com os deputados. É natural que os que são contra já se declararem. Tem que explicar as mudanças. Alguns deputados podem rever seu posicionamento. Tem que explicar e chamar à responsabilidade. Temos campo para trabalhar", diz o líder do PMDB, Baleia Rossi (SP).

Na quinta-feira (7), Temer deve convocar uma reunião de avaliação.

Se alcançar um número seguro para votar, a ideia do Planalto é levar ao plenário da Câmara o primeiro turno da PEC (proposta de emenda à Constituição) na semana do dia 13 e o segundo turno, na do dia 20.

O governo quer evitar que a segunda fase da votação na Câmara fique para 2018, que começa com o Carnaval, em fevereiro, e tem, pouco depois, o início das campanhas eleitorais.

Mas nem os mais otimistas governistas conseguem demonstrar empolgação.

"Não é um negócio fácil", diz um desanimado Beto Mansur (PRB-SP), que tem telefonado para deputados para contar votos.

Por isso o governo prepara uma vacina para o caso de não conseguir aprovar a reforma.

A ideia é mostrar que Temer cumpriu seu papel ao encaminhar uma proposta de reforma e tentar ao máximo aprová-la.

Além disso, quer mostrar que um eventual fracasso tem que ser debitado da conta do Legislativo, que discute o assunto desde dezembro de 2016.

A estratégia, dizem auxiliares do presidente, não significa que o governo jogou a toalha.

Eles afirmam que o governo continua empenhado em tentar mudar as regras da Previdência. Citam como exemplo as projeções econômicas que o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) entrega aos parlamentares que o procuram.

São três folhas de papel: duas com gráficos do rombo da Previdência com e sem a aprovação da reforma e uma outra com números positivos da economia sob o governo Temer.

Tudo para dar discurso aos parlamentares, que, por sua vez, temem a reação de suas bases nas eleições e cobram a liberação de emendas e restos a pagar.

Mas quem está no contato direto com os deputados diz que os que são contra com medo de uma reação negativa nas urnas não está se sensibilizando nem mesmo com a oferta das emendas.

PROPAGANDA

O governo vai explicar ainda que a propaganda feita para esclarecer a reforma da Previdência à população foi vitoriosa.

Argumentam que a liminar da Justiça que suspendeu a publicidade é um sinal de que a estratégia "deu certo".

Aos parlamentares, ministros e o presidente dirão que a contrapropaganda é produto das corporações, que não estão interessadas na melhoria do país.


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