Folha de S. Paulo


Joias ultrapassam as barreiras de gênero

Luca Bruno/Associated Press
Modelo usa peças da Gucci
Modelo usa peças da Gucci

Recentemente, as joias usadas como adereços nas passarelas começaram a cruzar os limites do gênero, como a moda mesma vem fazendo —e de maneira igualmente ousada.

Um exemplo são medalhões e gargantilhas que Alessandro Michele usou para complementar todo tipo de peça, de suéteres a vestidos, em sua coleção primavera de 2018 para a Gucci. Ele também usou colares de contas, em laranja e rosa, para complementar blazers e calções desfilados por homens.

Ternos da Dior Homme surgiram em desfiles de coleções masculinas acompanhados por braceletes de fitas e broches em formato de caveira e dados, entre outros adereços.

"As mulheres estão usando mais coisas masculinas, e os homens se sentem mais confortáveis usando joias", disse Lorenz Bäumer, designer de joias parisiense que se inspirou no surfe para criar um pingente de diamantes em forma de prancha.

Para a joalheira Jelena Behrend, joias podem mudar atitudes e redefinir gêneros.

"Uma camiseta com jeans é uma roupa básica, mas se um rapaz usar uma gargantilha ou brinco marcante, ele parecerá atual; com um bracelete superdimensionado, bruto, ou um anel no dedinho, uma menina pode ficar com jeito de menino".

Outra joalheira, Sabine Roemer, recentemente atenuou o look de um anel de ouro feminino, acrescentando diamantes negros, para um cliente homem, e personalizou um anel redondo de tanzanita para uma mulher, "para que o design ficasse mais brando do que as linhas fortes preferidas pelos homens".

NOVOS MÉTODOS

A redução da distinção entre os gêneros levou alguns designers de joias a reconsiderar seus métodos.

Luz Camino, que trabalha em Madri, diz que homens estão usando seus broches com motivos de flores e estrelas cadentes.

"Quando estou desenhando alguma coisa, se não parecer feminina, agora penso que pode funcionar para um homem, e por isso sigo com a ideia em vez de parar, como fazia antigamente".

Para Bäumer, a tecnologia foi crucial. "A impressão em 3D permite volumes abertos que não seria possível fazer de outra maneira e cria as formas volumétricas mais interessantes, ao permitir que eu veja o interior do anel antes mesmo de fazê-lo".

PRODUÇÃO DIFÍCIL

Mas a tendência tem desafios. "Comerciar esses produtos é um pesadelo", disse o designer de joias Stephen Webster sobre sua primeira coleção unissex, que lançou em colaboração com o skatista e modelo Blondey McCoy.

A coleção, dirigida ao público da casa dos 20 anos, inclui temas como navalhas e uma imagem que pode ser uma estrela ou uma cruz.

"Temos de produzir mais tamanhos e manter estoques maiores porque não se pode fazer uma coleção dirigida a mais de um gênero mas fabricá-la em tamanhos só para um", disse o joalheiro. "Tive de reduzir o número de peças e pensar mais no design e nas implicações financeiras".

Também foram necessárias algumas mudanças em termos de varejo, disse Webster.

Além de vender as peças online e em suas lojas, ele oferece a coleção em uma rede de produtos para skatistas porque "o streetwear é neutro em termos de gênero, e vem desordenando o mundo da moda. Os clientes sabem que podem comprar o produto em um lugar que não é dirigido a um só gênero".

O poder de compra atual e futuro da geração millenium também está por trás da mudança. Diversos estudos demonstram como os jovens estão afetando os produtos de luxo.


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