Folha de S. Paulo


Após ceder cargos, Temer quer que Maia lidere centrão na Previdência

O presidente Michel Temer decidiu ceder espaços importantes no governo ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em troca do compromisso do deputado em liderar o centrão —grupo formado por partidos como PP, PR, PTB e PRB— na votação da reforma da Previdência.

Aliadas ao Planalto, essas siglas barganham cargos e liberação de emendas parlamentares desde as votações que barraram na Câmara as denúncias contra o presidente e ameaçam retaliar o governo caso seus pleitos não sejam atendidos.

Segundo auxiliares de Temer, estava difícil satisfazer o centrão, e a entrega do Ministério das Cidades ao deputado Alexandre Baldy (GO), amigo de Maia, é um sinal para que o presidente da Câmara ajude na articulação dos partidos mais resistentes à proposta de reforma da Previdência.

Maia costurou a indicação de Baldy para o lugar do tucano Bruno Araújo, que pediu demissão na semana passada, contanto que o amigo se filiasse ao PP, maior partido do centrão e que reivindicava o posto.

O presidente da Câmara se comprometeu a fazer diversas reuniões em sua residência oficial, nesta e na próxima semana, com líderes e deputados da base, principalmente do centrão, para convencê-los a votar a favor das mudanças na aposentadoria.

O governo sabe que hoje não tem os 308 votos necessário para aprovar a reforma da Previdência, mas conta com o empenho de Maia para reverter o quadro e, nas palavras de um assessor de Temer, "melhorar o desempenho em todas as bancadas" não só nessa, mas em "todas as votações importantes" para o Planalto.

Além da reforma da Previdência, o governo também quer aprovar medidas provisórias que garantem o ajuste fiscal, por exemplo.

Com Baldy no Ministério das Cidades, Maia poderá influenciar na nomeação de cargos na pasta, cobiçada pelo seu orçamento robusto e obras que têm repercussão nas bases eleitorais dos parlamentares.

NEGOCIAÇÕES

Neste fim de semana, Temer esteve na casa de Maia para fechar as negociações. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também encontrou com o presidente da Câmara para tratar da reforma da Previdência.

Ficou acertado que na quarta-feira (22) haverá um jantar no Palácio da Alvorada com o presidente, economistas, ministros e líderes da base para que sejam apresentadas as ideias do texto mais enxuto do governo.

A proposta estabelecerá uma idade mínima de 65 anos para homens e 62 para as mulheres, regra de transição, 15 anos de contribuição e unificação das regras de aposentadoria dos setores público e privado. As mudanças no BPC (Benefício de Prestação Continuada) e na aposentadoria dos trabalhadores rurais ficaram de fora após reclamações de deputados, que julgam as medidas muito impopulares.

Assessores de Temer dizem que nenhum detalhe será abordado antes da votação em plenário, para que os deputados não fiquem "esmiuçando" cada ponto.

A ideia é que a reforma da Previdência seja votada a partir de 6 de dezembro no plenário, para que o segundo turno na Câmara aconteça antes do recesso parlamentar.

No entanto, mesmo os mais otimistas acreditam que essa data é fictícia, visto que Temer quer ir para voto somente quando tiver 330 votos comprometidos com a aprovação da matéria.


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