Folha de S. Paulo


Pequeno empreendedor antecipa recebimentos para fechar o ano

Bruno Santos/Folhapress
Leandro Melo, sócio de uma loja de materiais de construção que fica em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo
Leandro Melo, sócio de uma loja de materiais de construção que fica em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo

Para pagar em dia despesas do fim do ano, como o 13º salário de empregados, empreendedores buscam alternativas que deem uma força no fluxo de caixa.

Linhas de crédito específicas e a antecipação de recebíveis estão entre as opções.

Trata-se de uma operação de crédito na qual a empresa tem acesso imediato a valores que, de outra forma, só seriam pagos mais tarde.

Dá para receber antes, por exemplo, o dinheiro das vendas a prazo, no cartão de crédito ou de duplicatas.

A tática ajuda porque, apesar da expectativa de alta nas vendas com o fim do ano, há despesas que chegam já em novembro.

"Mas o ideal é administrar as necessidades do negócio ao longo do ano e não precisar recorrer às linhas de crédito para esses custos adicionais de fim de ano", aconselha o professor de economia da Faculdade Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) Silvio Paixão.

Como nem sempre isso é possível, ter essas cartas na manga pode ajudar na hora em que o empreendedor precisa de recursos rápidos.

"Ter linhas de crédito disponíveis em várias instituições financeiras, para usar só se for necessário, ajuda porque dá opções, e assim o empresário pode escolher a mais barata, caso seja preciso recorrer a alguma", diz Paixão.

Adriano Vizoni/Folhapress
A empresária Karina Tomarozzi, em seu escritório em SP
A empresária Karina Tomarozzi, em seu escritório em SP

EMERGÊNCIA

Sem garantias, os pequenos empreendedores têm dificuldades para conseguir crédito barato nas instituições financeiras e o limite do cheque especial acaba sendo a única opção. Mas os juros, mais salgados, podem corroer parte do lucro.

A empreendedora Karina Tomarozzi, 36, que tem uma clínica de estética na zona norte de São Paulo, recorreu à antecipação dos recebíveis de cartão de crédito para fazer o pagamento das férias dos seus funcionários.

"Fiz essa escolha porque os juros ficaram bem mais baixos do que os do cheque especial, minha outra alternativa", diz Tomarozzi.

No caso da clínica de estética, o custo do especial ultrapassava 12,5% ao mês, enquanto a antecipação teve taxa de cerca de 4%.

Tomarozzi já se prepara para adiantar os pagamentos de cartões de novo. Desta vez, para acertar o 13º da equipe.

Também é possível adiantar o pagamento de notas fiscais e de cartões de débito, sem exigência de garantias.

No entanto, se a duplicata não for paga pelo devedor, será preciso acertar as contas.

Sócio de um depósito de material de construção em Itapecerica da Serra (Grande São Paulo), Leandro Melo, 34, vai recorrer à antecipação dos pagamentos em cartões para acertar o fluxo de caixa da empresa.

"Este foi um ano difícil e precisaremos dessa opção para pagar o 13º salário dos colaboradores", conta.

Para Melo, a escolha agilizou o acesso ao dinheiro.

"Sem garantia, os bancos não liberam nada. Mesmo se tivéssemos essa salvaguarda, seria muito demorado", diz.

FAÇA AS CONTAS

É fundamental saber o valor exato necessário para arcar com as despesas e evitar pagar juros a mais.

Além da antecipação, os pequenos empresários podem contar ainda com crédito "conta garantida", no qual são dados duplicatas, cheques e recebíveis, por exemplo, como garantia.

Também há linhas de capital de giro ou serviços de "fintechs" (start-ups de novas tecnologias em produtos financeiros). Algumas conseguem oferecer taxas menores de juros com base em uma análise mais individual dos riscos do tomador e dos credores.

ALTERNATIVA TECNOLÓGICA

Algumas start-ups do setor de "fintechs", que combinam serviços financeiros e novas tecnologias, têm investido na concessão de crédito para empresas de menor porte e que têm dificuldades de acessar o mercado bancário
tradicional.

O principal diferencial delas é oferecer dinheiro mais rápido a juros mais baixos que nas linhas de crédito comuns.

Na Antecipa, start-up especializada nos pequenos, a tática é mediar a relação entre compradores e fornecedores.

O comprador tem uma fatura para pagar em um certo prazo e pode quitar antes, se o fornecedor conceder um desconto.

"A plataforma cria um mecanismo de leilão com vários fornecedores e propõe esse abate", diz André Miranda, do Grupo LM, cliente da Antecipa.

Segundo Camilo Telles, sócio da Antecipa, dá para conseguir desconto de até 2% ao mês.

Já a TrustHub analisa os riscos do credor, além do devedor, para oferecer taxas mais atraentes. É possível antecipar até 90% do valor solicitado, segundo o diretor da empresa, Alexandre Góes.

Em geral, o dinheiro dessas "fintechs" vem de investidores, que compram debêntures da empresa, vistos como mais rentáveis que outros tipos de investimento.


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