Folha de S. Paulo


EUA querem venda da CNN para dar aval à fusão AT&T-Time Warner

Mark J. Terrill - 15.dez.15/Associated Press
Donald Trump is joined by his wife Melania in the spin room following the CNN Republican presidential debate at the Venetian Hotel & Casino on Tuesday, Dec. 15, 2015, in Las Vegas. (AP Photo/Mark J. Terrill) ORG XMIT: NVTS165
Donald Trump e sua mulher, após debate da CNN entre republicanos na campanha à Presidência

A AT&T foi informada pelo Departamento da Justiça dos Estados Unidos de que terá de vender a rede de notícias CNN, da Time-Warner, se deseja aprovação de sua aquisição da empresa de mídia por US$ 84,5 bilhões, de acordo com três pessoas diretamente informadas sobre as negociações.

A venda da CNN, que o presidente Donald Trump criticou ferozmente como veiculadora de "notícias falsas", é apenas uma das demandas feitas pelas autoridades antitruste dos Estados Unidos para que aprovem o negócio, disseram pessoas envolvidas. Mas pode representar um obstáculo intransponível.

A AT&T não deseja vender a CNN e está preparada para levar o governo Trump à Justiça, argumentando que sua transação com a Time-Warner não viola normas de defesa da competição.

"Tudo gira em torno da CNN", disse uma das pessoas diretamente informadas sobre as negociações entre a empresa e o Departamento da Justiça, acrescentando que as autoridades haviam deixado claro que, se a CNN fosse vendida, a aquisição seria aprovada.

No fim do mês passado, as duas empresas disseram que ainda esperavam concluir a transação antes do final deste ano.

Mas John Stephens, vice-presidente de finanças da AT&T, disse em uma conferência de investimento em Nova York nesta quarta-feira (8) que "a conclusão da transação agora é incerta" —ainda que ele tenha se recusado a mencionar detalhes sobre o que mudou de lá para cá.

Stephens acrescentou que "uma fusão vertical como essa não foi bloqueada nos últimos 40 anos".

Nem a Time-Warner nem a AT&T comentaram sobre a venda da CNN. O Departamento da Justiça não respondeu de imediato a um pedido de comentário.

Trump não esconde sua oposição ao acordo, que foi aprovado pelas autoridades regulatórias de outros países e cuja aprovação por Washington era vista como certa.

Durante a campanha presidencial, Trump prometeu que vetaria a transação imediatamente, dizendo que ela concentrava controle demais sobre a mídia nas mãos de uma única empresa. Mas Makan Delrahim, o novo diretor da divisão antitruste do Departamento da Justiça, se provou mais conciliatório, dizendo não acreditar que a fusão representasse "uma questão antitruste grave",.

"O simples tamanho da coisa, e o fato de que envolve mídia, resultarão em grande atenção a ela", disse Delrahim a um canal canadense de televisão em 2016, depois que a aquisição da Time-Warner pela AT&T foi anunciada.

"No entanto, não vejo a transação como uma questão antitruste grave."

Pessoas diretamente informadas sobre as negociações com as autoridades dizem que Delrahim mudou de opinião depois de assumir o posto.

A venda da CNN é uma das duas demandas feitas pelo departamento, de acordo com outra pessoa diretamente informada sobre as negociações. As demandas são "completamente arbitrárias " e "uma completa perversão das diretrizes legais", disse a pessoa.

O acordo deveria ter expirado no final do mês passado, mas a AT&T estendeu "por curto período" o prazo para sua conclusão, na semana passada, à espera da aprovação das autoridades regulatórias norte-americanas.

A companhia anunciou que esperava que a transação fosse concluída antes do final do ano, ao informar sobre a extensão do prazo.

A AT&T anunciou sua intenção de adquirir a empresa que controla HBO, CNN e o estúdio de cinema Warners Bros em outubro de 2016, como uma forma de compensar as pressões sobre seus tradicionais serviços de TV a cabo e acesso banda larga à internet.

O audacioso plano de fundir os negócios de produção de conteúdo e os canais da Time-Warner à infraestrutura de distribuição da AT&T mudaria o cenário dos setores de mídia e telecomunicações.

NO BRASIL

No Brasil, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou por unanimidade em outubro a fusão entre a AT&T e a TimeWarner, sob a condição de que as empresas mantenham suas operações separadas no país.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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