Folha de S. Paulo


Consumo tirou país da crise, diz economista

Cris Faga/Fox Press Photo/Folhapress
Movimentação de consumidores na Rua 25 de Março, tradicional ponto de comércio popular no centro de São Paulo, na manhã deste sábado
Movimentação de consumidores na r. 25 de Março, tradicional ponto de comércio popular em SP

O consumo das famílias tirou o país da recessão, mas a retomada vai ser lenta porque o investimento das empresas dificilmente voltará antes da próxima eleição. Essa é a conclusão obtida a partir de entrevistas com economistas do Codace, o Comitê de Datação de Ciclo Econômicos que define picos e vales de crescimento. O grupo, independente, está hospedado na Fundação Getulio Vargas.

"Saímos da recessão, com certeza, mas temos pela frente uma retomada a passo de cágado manco", diz Affonso Celso Pastore, coordenador do Codace e da consultoria AC Pastore & Associados.

Conforme a Folha antecipou no sábado (28), na avaliação do Codace, o país deixou a recessão no último trimestre de 2016. Para atestar a virada, o grupo observou vários indicadores, além Produto Interno Bruto (PIB).

Conferiram, por exemplo, o comportamento da indústria. Após cair 15% entre 2014 e 2015, uma "queda descomunal", diz Pastore, ela iniciou 2016 de modo errático e engrenou no final do ano.

Outro fator foi o comportamento dos consumidores. Cerca de 60% do PIB é movido pelo consumo das famílias. O sofrimento financeiro delas foi grande em 2015. Naquele ano, foram destruídas, em média, 180 mil vagas formais por mês. "Uso um termo em latim para definir 2015: annus horribilis", diz Pastore.

Passado o baque, ele explica, a pessoa olha para a garagem e cadastra o carro no Uber; ajuda o vizinho a pintar o muro e cobra um troco. O trabalho informal tirou as famílias do sufoco.

Mas o fator decisivo, ele diz, foi a queda da inflação e dos juros, que eleva o poder de compra: "Vamos dar o crédito a quem merece: o Banco Central conduziu adequadamente a política monetária".

REAÇÃO

A recuperação do investimento, porém, que define a velocidade da retomada, deve ser lenta, marcada, dentre outros fatores, pelo alto nível de ociosidade das empresas.

Para o economista Paulo Picchetti, também integrante do Codace, o alto nível de ociosidade das empresas e a volta lenta do emprego formal vão manter a inflação –bem como os juros– em baixa em 2018. "Esgotada essa folga, é preciso garantir condições para que o crescimento volte de forma sustentável", diz ele.

Nesse caso, vão pesar a qualidade do ajuste fiscal, que ainda engatinha, e a indefinição eleitoral. O investidor prefere esperar para ver quem será o novo presidente e a sua política econômica.

Para Picchetti, a queda de mais de 8% do PIB durante a recessão e as fracas projeções para o PIB indicam que "ainda tem chão para chegar no nível pré-crise: eu diria, mais dois anos, no mínimo".


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