Folha de S. Paulo


Nubank quer tomar decisão de investimento pelo cliente

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Nubank lança conta de pagamentos
Nubank lança conta de pagamentos

Anunciada nesta terça-feira (23), com transmissão ao vivo e fila na porta do evento, a conta da Nubank, emissora de cartões, não tem as funcionalidades de uma conta-corrente e não rende tanto quanto outras aplicações.

Porém, pode valer a pena para quem está fora do radar dos bancos tradicionais, como jovens e pessoas de baixa renda, e também para quem quer deixar o dinheiro na conta e ganhar um troco.

Na NuConta, o dinheiro do cliente será investido automaticamente em títulos públicos. Como a Nubank não tem registro para atuar como banco –diz aguardar a aprovação do Banco Central há dois anos–, não é uma conta-corrente convencional, e sim uma conta de pagamento.

A diferença é que algumas transações não estão disponíveis, como pagamento de tributos (IPVA e IPTU) e o saque. Boletos e transferências agendadas devem ser liberados em breve, diz a empresa.

O maior chamariz de novos clientes é a aplicação dos recursos da conta. A rentabilidade é diária, em taxa indexada ao CDI (média dos empréstimos entre instituições financeiras). A empresa vai reter cerca de 1% dos retornos.

"Há muita complexidade na hora de investir. Por isso, queremos tomar essa decisão pelo cliente", diz David Vélez, presidente da Nubank.

NuBank - meio conta, meio investimento

Pela regra do Banco Central, o Nubank, como instituição de pagamento, só pode destinar os recursos a investimentos de baixo risco.

Na apresentação, Vélez prometeu rendimento acima da poupança e melhor que os CDBs (títulos bancários) de grandes instituições financeiras.

Para quem tem o objetivo de investir, porém, aplicar diretamente no Tesouro Direto seria uma opção mais eficiente, considerando que o poupador reteria a taxa de 1% que ficaria com a Nubank.

Além disso, em cenário de queda de taxa de juros, como o atual, a tendência é que aplicações indexadas ao CDI e à Selic rendam cada vez menos. Na renda fixa, há alternativas que remuneram mais que 100% do CDI –como CDBs de bancos menores.

"É difícil acreditar que essa conta tenha um retorno muito elevado, porque isso pediria uma liquidez menor. Não tem mágica. Retorno-alto vem com liquidez menor ou aportes grandes, e essa proposta não é nenhum dos dois", diz Juliana Inhasz, professora de finanças do Insper.

Para Adrian Cernev, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), ainda assim é um produto interessante para a população de baixa renda.

"É um dinheiro que está depositado e que permite alcançar remuneração superior à da poupança, com nível de segurança parecido. Cria inclusão financeira."

Outro público-alvo são os jovens sem conta em banco. "Pode ser uma opção para quem acabou de entrar no mercado de trabalho", diz Wander Azevedo, diretor da consultoria Roland Berger.

Desde que foi criada, em 2013, a empresa recebeu 13 milhões de pedidos de cartão, dos quais aceitou 2,5 milhões. Uma das intenções da NuConta, segundo Vélez, é trazer de volta quem foi barrado, e, com base no perfil de gastos, oferecer o cartão.

"Com a conta, a Nubank vai receber uma grande demanda por crédito e vai decidir como atuar. Hoje, eles são fofos e têm uma legião de fãs. Já se cobrarem juros e quiserem negativar os devedores, o jogo mudará", diz Azevedo.


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