Folha de S. Paulo


Queda de presidente da Uber deve virar filme

Danish Siddiqui/Reuters
O então presidente da Uber Travis Kalanick em evento para estudantes indianos em 2016
O então presidente da Uber Travis Kalanick em evento para estudantes indianos em 2016

Susan Fowler estava nas nuvens em janeiro de 2016, quando conseguiu uma vaga como engenheira de confiabilidade da Uber.

A empresa se gabava dos 25% de engenheiras ali.

Fowler é pequena, está grávida de sete meses e tem um sorriso angelical que esconde uma vontade feroz: essa mulher furou a mentalidade autoindulgente e pueril do Vale do Silício.

A engenheira causou a queda de Travis Kalanick, presidente da Uber, em junho deste ano, após denúncias de assédio e sexismo na empresa. Foi o estopim de uma revolta contra comportamentos sexuais repulsivos em empresas de tecnologia da região.

Agora, Fowler lançará um filme baseado em suas experiências, algo entre "A Rede Social" e "Erin Brockovich", segundo a Verve, agência que está produzindo o material.

Na imprensa americana, publicou-se que a engenheira fez um favor a toda a indústria ao desmascarar pessoas idolatradas por investidores, derrubando-os com uma postagem sobre "o que acontece quando uma empresa vira refém de seus comportamentos tóxicos e cada vez mais disfuncionais" em redes sociais.

Quando Kalanick conheceu Fowler na festa de Natal da Uber, nunca lhe passou pela cabeça que ela lhe fecharia as portas da empresa com apenas uma publicação.

Fowler teve o que chamou de criação pouco convencional em uma pequena cidade rural no Arizona e foi
educada em casa.

Por conta própria, leu "Vidas Paralelas", do filósofo grego Plutarco. "Os estoicos me tocaram muito porque diziam que 'você não pode ter controle sobre muitas coisas que acontecem em sua vida, mas pode focar ser a melhor pessoa possível'."

Sua conta no Instagram mostra uma imagem do melancólico personagem de "Peanuts", Charlie Brown, na qual se lê "seja o melhor que puder ser", uma xícara de café com o lema da Apollo 13, "fracasso não é uma opção", e seus livros.

Em seu primeiro dia na Uber, ela recebeu uma mensagem de um dos engenheiros, no qual dizia estar em um relacionamento aberto e procurava mulheres no trabalho. "Pensei: 'não pode ser verdade', mas vejo que muitos deles achavam que o único motivo para uma mulher arrumar um emprego desses é achar um homem."

Quando se queixou, ouviu que "tratava-se de um profissional de alta performance e era sua primeira falha", e que devia mudar de equipe ou esperar uma avaliação negativa de seu trabalho.

"Tinha medo de ser definida por uma denúncia assim, mas vi que ser a responsável por trazer à tona o problema seria uma honra", afirma.

Quando sua postagem ganhou atenção do público, a Uber demitiu cerca de 20 executivos do alto escalão.

A nova chefe de recursos humanos da empresa, Liane Hornsey, que assumiu o posto um mês depois da saída de Fowler e um mês antes da postagem, disse ter agradecido à engenheira, mas que priorizava "atuais, não ex-funcionários".

No Twitter, Fowler publicou esse trecho da entrevista e comentou: "Oh, ela realmente não gosta de mim."


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