Folha de S. Paulo


Samsung é alvo de nova investigação sobre crime de colarinho branco

Chung Sung-Jun/Associated Press
Lee Jae-yong, herdeiro da Samsung, após ser condenado a cinco anos de prisão na Coreia do Sul
Lee Jae-yong, herdeiro da Samsung, após ser condenado a cinco anos de prisão na Coreia do Sul

Cerca de dois meses depois de o herdeiro da companhia ser sentenciado a prisão por acusações de corrupção, a família que controla o vasto império de negócios da Samsung volta a enfrentar acusações por crime de colarinho branco.

A polícia da Coreia do Sul conduziu uma busca na sede da divisão de construção da companhia, nesta quarta-feira (18), como parte de uma investigação sobre possível apropriação indébita de fundos da empresa por Lee Kun-hee, o patriarca da Samsung, para reformar sua casa. Os investigadores vão interrogar outros envolvidos, entre os quais dirigentes da empresa, disse um policial que participa da investigação.

A divisão de construção, subsidiária da Samsung C&T, afirmou na quarta que não comentaria sobre a investigação policial em curso. Anteriormente, a empresa havia contestado as acusações. O policial, que pediu que seu nome não fosse mencionado porque não estava autorizado a se pronunciar publicamente, se recusou a revelar o montante que as autoridades acreditam que possa ter sido desviado.

A investigação se segue à condenação do filho de Lee, Lee Jae-yong, 49, em agosto. Ele é presidente do conselho da Samsung Electronics, porção mais lucrativa da empresa. Lee Jae-yong foi sentenciado a cinco anos de prisão por suborno de funcionários do governo. Ele recorreu da condenação.

A revista conduzida na quarta e a investigação por trás dela fizeram crescer a incerteza em torno da Samsung, a maior companhia da Coreia do Sul e nome mundial de peso na eletrônica e outros setores.

Os inúmeros negócios da Samsung, que variam de smartphones e chips de memória a medicamentos e seguros, pareciam estar sendo realizados sem grandes tropeços nos últimos meses. Mas os problemas legais da família que controla a empresa renovaram as preocupações sobre o destino do conglomerado.

As investigações também refletem a frustração do público com as muitas acusações criminais apresentadas contra os líderes da Samsung e de algumas outras grandes empresas sob controle familiar, ao longo dos anos, que resultaram em sentenças brandas e mesmo em perdões pelas autoridades.

Os legisladores estão aumentando a pressão. Nessa semana, Park Yong-jin, membro do Partido Democrata, que governa a Coreia do Sul, e crítico ruidoso da cultura das grandes empresas do país, chamou a atenção para uma das duas condenações anteriores sofridas por Lee Kun-hee, quando disse que as autoridades financeiras haviam permitido que Lee Jae-yong herdasse bilhões de dólares de seu pai sem pagar impostos.

A Coreia do Sul teria arrecadado cerca de US$ 2 bilhões com a operação "se as autoridades tributárias tivessem seguido as regras e cobrado o imposto sobre heranças", disse Park.

PRECEDENTE

A crítica remete a um dos mais embaraçosos episódios da história da Samsung.

Em 2008, procuradores da Justiça sul-coreana identificaram 4,5 trilhões de won, na época o equivalente a US$ 4,5 bilhões, que pertenciam a Lee Kung-hee mas haviam sido divididos em mais de mil contas em nome de subordinados do empreendedor. Os procuradores afirmaram que Lee havia herdado o dinheiro de seu pai, Lee Byung-chul, fundador da Samsung, e que havia estruturado o patrimônio de forma a evitar pagar impostos.

Lee Kung-hee foi condenado por isso em 2008, mas Lee Myung-bak, então presidente da Coreia do Sul, o perdoou no ano seguinte. Foi o segundo perdão presidencial concedido a Lee Kun-hee; ele já havia sido perdoado por acusações de suborno que enfrentou em 1997.

Em comunicado na quarta, a Samsung informou, sem especificar quantias, que Lee pagou todos os impostos que havia prometido reembolsar em 2008.

"O princípio de que o dinheiro será usado para boas causas continua inalterado", afirmou a empresa.

Lee Kun-hee, 75, está incapacitado desde que sofreu um ataque cardíaco em 2014. Muitos sul-coreanos continuam a expressar admiração pelo empreendedor, que transformou a Samsung de uma fabricante local de produtos baratos em uma gigante da economia mundial.

A Samsung C&T, uma das maiores subsidiárias do conglomerado, construiu obras importantes como usinas nucleares e grandes pontes, bem como o Burj Khalifa, o edifício mais alto do planeta, em Dubai.

Lee Kun-hee é tido como dono de cinco das casas mais caras de Seul, a capital sul-coreana, cada uma avaliada em mais de US$ 10 milhões. Sua residência principal, em Itaewon, um bairro cobiçado onde vivem diplomatas e as famílias mais ricas do país, vale cerca de US$ 20 milhões, de acordo com dados oficiais da prefeitura.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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