Folha de S. Paulo


Agricultores do Paraná saem da pobreza e filhos ficam no campo

"Éramos pobres, pobres, mesmo", lembra, sentado na varanda enquanto come um cuque de banana, o agricultor Alberto Scopel, 76.

Cinquenta anos atrás, o gaúcho migrou para o então inexplorado oeste do Paraná, com a mudança em cima um caminhão de vinho. Estava casado havia 40 dias. Comprou 35 hectares de terra no meio da floresta –hoje, tem 300. "O segredo é trabalho. E isso aqui, ó", diz, exibindo o punho fechado dos sovinas.

Scopel é o patriarca de uma família que deu certo no campo. Na região, a maioria tem até 100 hectares de terra –coisa mínima perto dos 130 mil hectares da família Maggi em Mato Grosso, por exemplo. Mas construíram casas confortáveis no meio da lavoura, com TV de tela plana e caminhonete na garagem.

O campo e a cidade
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Os dois filhos de Scopel ficaram na propriedade, em Matelândia (PR), que produz milho, soja, aveia, leite e suínos. Os netos (24 e 15 anos) se preparam para o mesmo.

"Vai lá na cidade para ganhar o quê? R$ 3.000? Bota três vacas de leite que você ganha isso", diz Cidnei Scopel, 50, filho mais velho.

Cooperados da Lar, vendem quase toda a produção à cooperativa, que também dá assistência técnica e distribui lucros no final do ano.

O mesmo aconteceu com Ademir Effting, 62, em Cafelândia (PR). Os filhos, Marcelo e Flávio, com curso superior, optaram por ficar na propriedade, de 15 hectares.

"Eu era contra. Falei: 'Vai ter fila lá para pegar teu emprego'", conta o pai. Mas ele teve que se dobrar à insistência do filho Marcelo, formado em sistemas da informação, e da mulher, Verônica –que liderou a aposta na diversificação da produção.

"Sou bem insistente", diz ela. A família, cooperada da Copacol, já tinha um aviário, mas decidiu apostar na piscicultura. Financiaram um açude e também passaram a ordenhar gado e criar porcos.

"Era uma oportunidade de retorno financeiro e de qualidade de vida", diz Marcelo.

A permanência das novas gerações, porém, não é regra. Em Matelândia, os Scopel já viram vizinhos irem embora depois de ficarem sem sucessores para tocar o negócio.

"Em 20 anos, eu acho que vira tudo mato", diz Cidnei. "Corre um sério risco. Porque não vale a pena tocar a lavoura se não ficar ninguém."


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