Folha de S. Paulo


Oi entrega à Justiça terceira versão de seu plano de recuperação judicial

Silvia Zamboni/Folhapress
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Loja da operadora Oi

A operadora de telecomunicações Oi protocolou no fim da tarde desta quarta-feira (11) a terceira versão de seu plano de recuperação judicial à Justiça do Rio de Janeiro, propondo limite de 25% à conversão de dívida em ações, bem abaixo do pretendido por detentores de títulos da companhia.

O plano havia sido aprovado na semana passada pelo Conselho de Administração da companhia e prevê aportes de pelo menos R$ 9 bilhões na Oi. A proposta deverá ser analisada por milhares de credores reunidos em assembleia marcada para 23 de outubro, com uma segunda convocação prevista para 27 de novembro. Se não houver aprovação, a falência da empresa poderá ser decretada.

O processo de recuperação judicial da Oi, iniciado em junho de 2016, é o maior da história do país. A empresa, que foi eleita pelos governos petistas como uma "campeã nacional" e tentou uma fracassada fusão com a Portugal Telecom, listou dívidas de mais de R$ 65 bilhões e cerca de 55 mil credores.

Dos R$ 9 bilhões da capitalização, cerca de R$ 6 bilhões equivalem a dinheiro novo, sendo R$ 3,5 bilhões por parte dos detentores de títulos de dívida da Oi e R$ 2,5 bilhões dos atuais acionistas. Os R$ 3 bilhões de reais restantes poderão vir de conversão de debêntures (papéis de dívidas emitidos por empresas para financiar suas operações) em ações, segundo o plano.

O limite da conversão das debêntures é de 15% (até 119 milhões de ações) a 25 % (até 225 milhões de papéis), dependendo da opção de juros e do prazo a serem adotados pelos principais detentores de bônus da empresa. No início deste mês esses credores manifestaram interesse de troca de R$ 26 bilhões em dívidas da Oi por 88% do capital da operadora.

No caso da opção que prevê conversão de 15%, a taxa de juros é de 10% ao ano e o prazo é de zero a 12 meses. Na alternativa de 25%, os juros propostos são de 6%, com a troca efetiva ocorrendo após 24 meses.

O plano apresentado no início do ano previa R$ 3,9 bilhões em bônus conversíveis a partir do 36º mês, com a troca sendo equivalente a 17% do capital e juros de 6% ao ano.

Além disso, o novo plano prevê dividendos a serem distribuídos apenas após seis anos, e depois disso caso o índice de dívida líquida sobre Ebitda (ganhos antes de juros, impostos e depreciação) seja inferior a 2 vezes e enquanto houver créditos remanescentes da reestruturação. Anteriormente, a proposta previa distribuição de dividendos apenas caso a alavancagem ficasse abaixo de 2,5 vezes.

INVESTIMENTOS

A Oi reafirmou que o aumento de capital permitirá à empresa elevar investimentos de R$ 5 bilhões para R$ 7 bilhões por ano nos próximos três anos. Isso permitiria à empresa competir em melhores condições com grupos internacionais como Telefónica, América Móvil e Telecom Italia, que operam no Brasil por meio das marcas Vivo, Claro e TIM.

O plano protocolado na Justiça prevê a negociação da dívida de mais de R$ 10 bilhões devida à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) por meio de dois caminhos: negociação de acordos (TACs) para conversão de multas em investimentos e parcelamento em até 20 anos, com correção pelo IPCA, entrada de 20%, deduzido de depósitos judiciais.

Representantes da Anatel não foram encontrados para comentar a proposta.

SOCORRO FEDERAL

Nesta semana, o governo federal criou um grupo de trabalho, liderado pela AGU (Advocacia-Geral da União) para buscar solução para as dívidas da Oi com entidades públicas, como as multas da Anatel. A Oi é responsável por cerca de 30% dos serviços de telecomunicações utilizados pelo governo federal.

A orientação que partiu do Palácio do Planalto é buscar uma saída que evite a necessidade de intervenção na companhia.

Falando a jornalistas na terça-feira (10), após reunião com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para tratar do assunto, a ministra da AGU, Grace Mendonça, disse que o governo vai analisar todos os cenários, desde que tenham sustentação jurídica, para tentar buscar uma solução.

Ela não descartou medidas como o enquadramento de parte da dívida de mais de R$ 10 bilhões da Oi com a Anatel nas regras de financiamento previstas na Medida Provisória 780, o chamado Refis das autarquias.

Haveria ainda a possibilidade de negociar um acordo para conversão de parte das multas recebidas pela operadora em investimentos, algo já mencionado no plano entregue nesta quarta-feira. A ministra também não descartou alongamento de prazos para pagamento das dívidas, como pretendido pela Oi no plano.


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