Folha de S. Paulo


Bolsa bate recorde em setembro e emenda 4º mês de alta; dólar sobe

O otimismo dos investidores com sinais de recuperação da economia brasileira fez a Bolsa bater recorde em setembro e levou o mercado acionário local a sustentar o quarto mês seguido de valorização. Já o dólar registrou alta após o banco central americano indicar que vai subir juros pela terceira vez neste ano.

O Ibovespa, que reúne ações mais negociadas, subiu 0,99% nesta sexta (29), para 74.293 pontos. No mês, o índice acumulou ganho de 4,9%, enquanto no ano a Bolsa avança 23,4%.

O dólar comercial encerrou a sessão com baixa de 0,47%, para R$ 3,168. O dólar à vista se desvalorizou 0,58%, para R$ 3,164. No mês, ambos tiveram alta de 0,6%.

Em setembro, a Bolsa chegou a superar os 76 mil pontos, embora ainda esteja distante do pico de maio de 2008 em termos reais –se corrigida pela inflação, a pontuação do Ibovespa deveria se situar em torno dos 130 mil pontos.

Os recordes do Ibovespa foram sustentados pela expectativa de recuperação da economia brasileira. O indicador de atividade do Banco Central iniciou o segundo semestre com avanço de 0,41%, na segunda alta mensal consecutiva.

No Boletim Focus, que reúne expectativa de agentes do mercado, a projeção para o crescimento da economia brasileira neste ano foi revisado para cima, de 0,5% para 0,68%. A inflação sob controle –o IPCA em 12 meses está abaixo do piso da meta do governo, de 3% ao ano– favorece o ciclo de afrouxamento monetário do Banco Central, o que deve ter reflexos sobre a atividade econômica.

A produção industrial subiu pelo quarto mês, e o desemprego continua recuando.

"A Bolsa espelha a recuperação da economia. Ela subiu diante desse cenário mais positivo, com dados econômicos internos reforçando a percepção de melhora da economia. O único ponto é o fiscal, que ainda deixa a desejar", afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho do Brasil.

REFORMAS

A principal solução apontada para o problema fiscal, a reforma da Previdência foi delegada a segundo plano neste mês, principalmente após o presidente Michel Temer ser denunciado pela segunda vez pela PGR (Procuradoria-Geral da República) sob acusação de obstrução judicial e organização criminosa.

Nesta sexta, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a reforma da Previdência será de difícil aprovação no Congresso e menor do que a planejada pelo governo.

Alguns analistas já começam a ver pouco espaço para a aprovação das medidas. "Depois de votada a denúncia envolvendo o Temer, a janela para aprovar uma reforma tão forte como a da Previdência começa a ficar estreita. Nós entramos em 2018 já com um cenário de eleição e a classe política, todos sabemos, vai voltar suas atenções para isso", afirma Fernando Pavani, presidente da Remessa Online, de soluções cambiais.

Por outro lado, deixar de enfrentar o problema fiscal pode deixar o Brasil de fora do radar dos estrangeiros, avalia Luciano Rostagno, do banco Mizuho do Brasil. "A rejeição da reforma não está no preço ainda. Se isso ocorrer, o mercado terá que se ajustar ao possível cenário de a mudança ficar para o próximo presidente", diz.

A situação do país pode se agravar se o banco central americano decidir realizar uma terceira alta de juros no fim deste ano, como sinalizado na reunião deste mês. Os investidores, como consequência, ficariam mais criteriosos na escolha do emergente em que alocariam seus recursos, afirma. "A situação fiscal estava sendo relevada pelo excesso de liquidez no mundo, mas se o Fed aumentar juros, isso volta a ganhar importância."

AÇÕES

No dia, o volume financeiro negociado na Bolsa foi de R$ 9,1 bilhões, acima da média diária do ano, de R$ 8,3 bilhões. Das 59 ações do Ibovespa, 48 subiram e 11 caíram.

A maior alta do índice foi registrada pelas ações da CSN, que subiram 5,84%. A Usiminas subiu 2,5%, e a Gerdau se valorizou 1,66%.

Os papéis da mineradora Vale subiram, apesar de os preços do minério de ferro terem caído pelo terceiro pregão seguido. As ações ordinárias da Vale avançaram 0,38%, para R$ 31,87. As preferenciais tiveram alta de 0,96%, para R$ 29,54.

Os papéis da Petrobras caíram, em linha com a indefinição dos preços do petróleo no exterior. Os papéis preferenciais da estatal caíram 0,26%, para R$ 15,30. As ações ordinárias recuaram 0,63%, para R$ 15,81.

No setor financeiro, as ações do Itaú Unibanco avançaram 0,86%. Os papéis preferenciais do Bradesco subiram 1,42%, e os ordinários tiveram valorização de 1,52%. As ações do Banco do Brasil ganharam 1,07%. As units –conjunto de ações– do Santander Brasil tiveram alta de 1,25%.

Os papéis da JBS subiram 3,03% nesta sessão, mas a empresa perdeu R$ 463,8 milhões em valor de mercado neste mês. As ações foram impactadas pela prisão dos irmãos Joesley e Wesley Batista e pela nomeação de José Batista Sobrinho, pai dos empresários, como novo diretor executivo da JBS.

CÂMBIO

A alta do dólar no mês ocorreu com a sinalização de um terceiro aumento de juros nos Estados Unidos. O dólar ganhou força ante 18 das 31 principais divisas mundiais.

As tensões geopolíticas, com troca de ameaças entre Estados Unidos e Coreia do Norte, também aumentaram a cautela dos investidores, mas as preocupações acabaram se dissipando no decorrer das sessões.

No dia, os investidores acompanharam os dados de inflação nos Estados Unidos. Os gastos dos consumidores dos Estados Unidos tiveram leve alta em agosto, mas o núcleo do índice PCE, que exclui alimentos e energia, desacelerou para 1,3% em agosto, ante 1,4% em julho. Foi o resultado mais fraco desde novembro de 2015.

Aqui, o Banco Central rolou parcialmente os contratos de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro) que vencem em outubro. O BC rolou somente US$ 6 bilhões dos US$ 9,975 bilhões que vencem no mês que vem.

Em novembro e dezembro não há vencimentos de contratos de swap, somente em janeiro (US$ 9,137 bilhões).

"O Banco central indicou que não deve intervir tanto no mercado e que o estoque de swap está num patamar confortável", avalia Bruno Foresti, gerente de câmbio do banco Ourinvest.

O CDS (credit default swap, espécie de termômetro de risco-país) recuou 1,92%, para 196 pontos.

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados fecharam em baixa. O DI para janeiro de 2018 recuou de 7,525% para 7,510%. A taxa para janeiro de 2019 teve queda de 7,290% para 7,270%.


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