Folha de S. Paulo


Leilões indicam que investidores preferem projetos com baixo risco

A primeira grande rodada de licitações do governo Temer mostra que o apetite dos estrangeiros por projetos considerados rentáveis segue forte, embora ainda resista a ofertas mais arriscadas.

Em um ambiente com regras mais favoráveis ao mercado, foram licitadas quatro hidrelétricas que pertenciam à Cemig por R$ 12,1 bilhões, ou 9,7% acima do esperado.

O governo obteve ainda R$ 3,8 bilhões por 37 dos 287 blocos de petróleo ofertados, volume bem acima da estimativa inicial, de R$ 1 bilhão.

Do total arrecadado, apenas seis blocos, arrematados em parceria por Petrobras e americana Exxon, renderam R$ 3,6 bilhões. Os blocos são considerados o filé mignon por estarem numa área com potencial de reservas no pré-sal.

"O dinheiro está vindo, mas para projetos em que o risco do negócio é baixo", diz Leonardo Siqueira, da GO Associados. "Ainda há cautela".

Segundo ele, mesmo em um cenário em que o mercado considera baixo o risco de mudanças de regras, os projetos que estão chamando a atenção são os mais maduros e com retornos mais certos.

"As empresas têm vontade de investir no Brasil e olham os ativos de maior qualidade", diz Cláudio Frischtak, sócio da Inter B Consultoria.

Frischtak avalia que a ANP (Agência Nacional de Petróleo) colocou em leilão ativos diferentes e que alguns blocos sustentavam riscos ambientais elevados, o que acabou por afastar investidores.

Já os blocos com potencial de reservas no pré-sal, diz ele, devem continuar atraindo os gigantes do setor. A participação da Exxon, diz, seria uma prévia do que será visto nos próximos leilões que envolvem a área, em outubro.

Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, diz que ainda há riscos envolvendo o setor de energia, mas bons projetos atraem investidores que estão vendo Brasil em prazos mais longos.

O interesse dos investidores vem de uma situação mundial de liquidez abundante, em que há uma forte busca por ativos nos quais colocar dinheiro, diz Phillip Soares, da Ativa Investimentos.

No caso dos blocos de petróleo, diz ele, a falta de apetite não teria sido um problema do mercado ou da demanda, e sim do que foi ofertado.

Um exemplo de ativo de alto risco, diz Alberto Zoffmann, diretor de project finance da XP Investimentos, era bacia de Pelotas, localizada em um região na qual foi feita pouca exploração. "Faz sentido não ter tido lances nesses blocos ofertados".

Em contrapartida, a atratividade de alguns ativos acabou impondo concorrência aos chineses. As hidrelétricas atraíram outros investidores, como a francesa Engie e a italiana Enel,.

Para Thais Brandini, presidente da consultoria Thymos Energia, o leilão das usinas mostra que o novo modelo de concessões conseguiu atrair investidores. A possibilidade de vender até 30% da energia no mercado livre e a remuneração da União por serviços de manutenção da usina, diz ela, foram diferenciais para os estrangeiros.

No geral, a percepção é que a arrecadação acima do previsto ajuda a contornar a questão fiscal. O deficit previsto para este ano é de R$ 159 bilhões.

"Além da dimensão fiscal, os leilões das usinas da Cemig espelham também a demonstração eloquente de poder da equipe econômica", diz Frischtak, da Inter B, em referência à oposição demonstrada por políticos.

Para Siqueira, da Go, os R$ 16 bilhões arrecadados ajudam, mas estão longe de resolver o problema. "É como uma família que vende o carro para cobrir gastos. Uma hora o patrimônio acaba."


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