Folha de S. Paulo


Bolsa recua pelo 5º dia e tem pior sequência desde afastamento de Dilma

Paulo Whitaker/Reuters
Bolsa brasileira fecha em baixa em dia de realização de lucro; dólar sobe com efeito Fed
Bolsa brasileira fechou em baixa pelo quinto dia em realização de lucros dos investidores

A Bolsa brasileira fechou em baixa pelo quinto dia e teve a pior sequência de quedas desde o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff pelo Senado, em sessão de realização de lucros e em que os investidores digeriram o resultado dos leilões de hidrelétricas e de blocos de petróleo.

O dólar avançou para R$ 3,19 em linha com o exterior, que repercutiu a sinalização de uma reforma tributária pelo presidente americano, Donald Trump.

O Ibovespa, que reúne as ações mais negociadas, recuou 0,70%, para 73.796 pontos. Foi a primeira sessão desde 11 de setembro em que o índice fechou abaixo dos 74 mil pontos e também a pior sequência de quedas desde a iniciada em 13 de maio de 2016, um dia depois de a ex-presidente Dilma Rousseff ser afastada do cargo pelo plenário do Senado –foram seis desvalorizações.

O dólar comercial subiu 0,82%, para R$ 3,194. O dólar à vista se valorizou 0,47%, para R$ 3,184.

Para especialistas, o movimento de desvalorização da Bolsa reflete a decisão de investidores de embolsar lucros após os sucessivos recordes batidos nas últimas duas semanas. "Em termos gerais, já estávamos esperando alguma correção do mercado, depois de oito semanas seguidas de alta. A gente não descarta uma correção mais forte, é um movimento técnico", avalia Carlos Soares, analista da Magliano Corretora.

As incertezas políticas também contribuíram para a queda da Bolsa nesta quarta. A percepção é de que o presidente Michel Temer, ao dedicar esforços para sobreviver à segunda denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) na Câmara, retarda as negociações para a votação da reforma da Previdência, uma das mais importantes para que o governo equilibre suas contas.

Os investidores ficaram de olho no resultado do leilão de usinas hidrelétricas e de blocos de petróleo, ambos considerados bem-sucedidos.

No caso das hidrelétricas, o governo leiloou por R$ 12,13 bilhões as concessões de quatro usinas da Cemig, arrecadando 9,7% a mais que o esperado de R$ 11 bilhões.

Já a 14ª rodada de áreas para exploração e produção de petróleo terminou com arrecadação de R$ 3,84 bilhões, a maior entre os leilões de concessão já realizados no país. Só a Petrobras e a Exxon levaram seis blocos na Bacia de Campos, em uma área com potencial de reservas no pré-sal, por R$ 3,59 bilhões, sendo responsáveis por 93% da arrecadação total do leilão.

"O resultado veio em linha com o esperado. O das hidrelétricas veio acima do valor que o próprio governo estava esperando. Algumas instituições acreditavam que ágio podia ter sido maior, mas ter vindo acima foi importante", afirma Roberto Indech, analista-chefe da Rico Corretora.

Por outro lado, a reação política ao leilão de partidários do próprio PMDB penalizou as ações do setor elétrico nesta sessão, diz. Vice-presidente da Câmara, o deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG) criticou o resultado do leilão.

"Essas declarações trouxeram instabilidade ao mercado, pela contraposição à equipe econômica. O mercado acabou repercutindo negativamente", ressalta Indech.

EM QUEDA - Bolsa fecha em baixa pelo quinto dia seguido

Índice Ibovespa, em pontos

AÇÕES

Das 59 ações do Ibovespa, 46 caíram, 12 subiram e uma terminou estável.

As ações da Cemig, que não participou da disputa pelas usinas, caíram 1,61%. Mas a avaliação é que a empresa fez bem ao não oferecer lances pelas hidrelétricas. "O mercado vem cobrando a redução de endividamento da empresa, que deve focar em venda de ativos para melhorar seus indicadores", afirma Indech.

Os papéis da Eletrobras estiveram entre as maiores baixas do Ibovespa, após a notícia de que a venda das distribuidoras da empresa deve ficar só para o primeiro trimestre de 2018, enquanto o mercado esperava algo ainda neste ano. As ações ordinárias da estatal caíram 2,88%, e as preferenciais recuaram 4,52%.

A Petrobras também viu suas ações caírem, embora a estratégia da empresa de concentrar a atenção nos seis blocos que arrematou com a Exxon tenha sido elogiada pelos especialistas. "Há todo um trabalho de redução de endividamento da empresa, de não gastar mais do que deveria neste momento", afirma o analista-chefe da Rico.

A queda ocorreu em dia de depreciação dos preços do petróleo no exterior. As ações preferenciais da Petrobras caíram 1,61%, para R$ 15,31. Os papéis ordinários também perderam 1,61%, para R$ 15,88.

As ações da mineradora Vale conseguiram subir, apesar da queda de 1,23% do minério de ferro. As ações ordinárias da Vale subiram 1,37%, para R$ 31,93. As ações preferenciais avançaram 1,69%, para R$ 29,56.

No setor financeiro, as ações do Itaú Unibanco subiram 0,07%. Os papéis preferenciais do Bradesco caíram 1,05%, e os ordinários tiveram queda de 0,77%. As ações do Banco do Brasil se desvalorizaram 0,51%. As units -conjunto de ações- do Santander Brasil tiveram baixa de 0,76%.

DÓLAR

O dólar ganhou força após a sinalização de que o governo americano vai finalmente tirar do papel a reforma tributária, uma das promessas de Trump.

A moeda americana subiu ante 18 das 31 principais divisas mundiais.

Aqui, o Banco Central vendeu a oferta de 12 mil contratos de swap cambial tradicional (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro), para rolar os contratos que vencem em outubro. Até agora, já foram rolados US$ 5,4 bilhões dos US$ 9,975 bilhões que vencem no mês que vem.

O CDS (credit default swap, espécie de termômetro de risco-país) recuou 0,30%, para 203,4 pontos.

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados fecharam em alta. O DI para janeiro de 2018 permaneceu estável em 7,530%. A taxa para janeiro de 2019 teve alta de 7,260% para 7,330%.


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