Folha de S. Paulo


Empresas fazem negócio fictício de emissão de carbono

Rodrigo Damati/Folhapress
ESPECIAL AGRONEGÓCIOSILUSTRA CARBONO

Enquanto não tem um sistema oficial para fazer comércio de emissões de carbono, o Brasil ensaia transações fictícias. Um simulador criado pelo GVCes (Centro de Estudos de Sustentabilidade da FGV) com a Bolsa de Valores Ambientais BV Rio já reuniu 35 empresas.

Somando emissões diretas, as empresas da simulação, representam cerca de 13% da emissão nacional sem contar a emissão do uso da terra.

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É um exercício didático para que as companhias experimentem, na prática, um sistema de comércio de emissões. Entre as que já se inscreveram, estão nomes como Petrobras, Vale, Latam, JBS, Gol, CSN, CPFL e CCR.

O grupo vem calculando seus inventários desde 2013, uma iniciativa fundamental para consolidar o histórico de emissões das companhias que atuam no país. É com base na média das emissões que os sistemas reais aplicam suas metas de redução.

Na prática, elas avaliam a melhor forma de se enquadrar nos tetos de emissão impostos por um agente regulador, que podem ser governos estaduais ou federal. No simulador, quem interpreta o agente é a equipe do GVCes, apoiada por conselho de especialistas e Banco Mundial.

Algumas empresas têm processos produtivos que tornam muito caros os investimentos em tecnologia para reduzir emissões. Nestes casos, elas emitem, mas conciliam a emissão comprando permissões. Tais permissões podem ser vendidas por outras empresas para as quais compensa investir em práticas de redução de emissões.

A lógica é que as empresas com menor custo de abatimento invistam para reduzir suas emissões e negocie com outras empresas que têm custos de abatimento mais altos.

"Se o Brasil vier a ter o seu sistema, esse aprendizado terá sido fundamental para evitar impactos indesejados porque a precificação do carbono se reflete sobre toda a cadeia", diz Mariana Nicolletti, coordenadora no GVCes.

"O mecanismo não é feito para perdermos competitividade. Ele busca é uma transição para economia mais limpa de forma custo-efetiva."

No mundo já há experiências de sistemas na Europa, Austrália, Califórnia e outros. No Brasil, o Ministério da Fazenda estuda opções, em um programa do Banco Mundial.

No mundo, 13% das emissões são cobertas por instrumentos de precificação, segundo o GVCes. A China se comprometeu a estabelecer um mercado de carbono nacional, o que elevará as emissões cobertas a mais de 20%.

Nos últimos meses, o simulador incluiu no debate representantes de Estados e iniciou estudo de emissões setoriais. "O exercício é importante no agronegócio porque, entre os países que nos servem de modelo no mundo, não há exemplos em que o setor esteja incluído em um sistema de comércio. Teremos que criar um modelo brasileiro", diz Nicolletti.


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