Folha de S. Paulo


Bolsa bate recorde e supera 74 mil pontos com otimismo dos investidores

A Bolsa atingiu o maior patamar de sua história nesta segunda (11). O Ibovespa, seu principal indicador, subiu 1,7%, indo aos 74.319 pontos. Foi a primeira vez que o índice das ações mais negociadas superou os 74 mil pontos.

A alta consolidou uma tendência de valorização iniciada em meados de junho e que faz o principal indicador do mercado acionário brasileiro subir 23,4% no ano.

Uma associação de fatores benéficos levou à alta histórica, mas pesou em particular o otimismo dos investidores com a recuperação da economia brasileira.

"O principal motivo para essa alta é a recuperação econômica. Tivemos um primeiro trimestre de crescimento, após uma recessão. O PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre deu mais base para dizermos, com convicção, que a economia está vivendo uma retomada sólida", afirma Ronaldo Patah, estrategista de investimentos do UBS Wealth Management.

A Bolsa, diz, antecipa o crescimento do lucro das empresas e da economia. Nesta segunda, economistas ouvidos pelo Banco Central elevaram de 0,5% para 0,6% a projeção do PIB (Produto Interno Bruto) deste ano. Para 2018, a alta prevista é de 2,1%. O mercado também valida a agenda reformista e o pacote de privatizações do governo.

Pesou ainda a percepção de que pode haver alívio na cena política. Nesta segunda, a suspensão do acordo de leniência dos executivos da J&F fez o mercado apostar que uma segunda denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o presidente Michel Temer estaria fragilizada, o que daria fôlego para retomar a reforma da Previdência.

O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) sinalizou que a proposta pode ser votada em outubro. O exterior também colaborou para melhorar o ânimo dos investidores. Mesmo o furacão Irma, que ameaçava causar estragos à economia americana, foi rebaixado a tempestade tropical.

Apesar do recorde, ainda há espaço para a valorização da Bolsa em dólares. Estudo da consultoria Economática mostra que, em seu pico, em 19 de maio de 2008, o Ibovespa atingiu 44.616 pontos. Nesta segunda, fechou aos 24.089 pontos. No ano, o Ibovespa se valoriza 29,8% em dólares -a 13ª maior alta entre as principais Bolsas.

Aqui, o CDS (credit default swap, espécie de seguro contra calote de um país) recuou 0,53%, para 180,51 pontos. É o menor nível desde 9 de dezembro de 2014.

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados fecharam com sinais distintos. A taxa para janeiro de 2018 se manteve estável em 7,660%. A taxa para janeiro de 2019 avançou de 7,620% para 7,680%.

JUROS

A trajetória de queda da taxa básica Selic deve aumentar o fluxo de investidores para a Bolsa, avalia Joelson Sampaio, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas). "A piora da rentabilidade na renda fixa por causa dos juros em baixa provoca essa migração para a Bolsa", diz.

O investidor brasileiro, acostumado com valorização de 1% ao mês em um cenário de juros de dois dígitos, não conseguirá manter esse ganho na renda fixa.

Quem quer aproveitar esse potencial de valorização pode olhar alguns setores mais detidamente. Adeodato Netto, estrategista da Eleven Financial, vê oportunidades em segmentos que se beneficiam da recuperação do consumo, como varejo e indústria.

Roberto Indech, analista-chefe da corretora Rico, avalia que o setor de construção civil, que sofreu com a recessão e a crise no mercado imobiliário, tem espaço para valorização.

"Vejo com bons olhos as estatais, pela perspectiva de privatização, em especial de Estados em crise, como Minas Gerais e Rio de Janeiro."

Mas o cenário pode não ser tão positivo para exportadoras, principalmente se o dólar seguir em queda.

AÇÕES

Das 59 ações do Ibovespa, 51 subiram, 5 caíram e três se mantiveram estáveis.

As ações da Petrobras subiram cerca de 2%, ajudadas pela alta do petróleo no exterior. A estatal informou nesta segunda que iniciou processo para vender duas fábricas de fertilizantes.

Os papéis mais negociados da estatal avançaram 1,90%, para R$ 14,99. As ações que dão direito a voto ganharam 2,17%, para R$ 15,52.

As ações da Vale encerraram o dia no azul, com a alta dos preços do minério de ferro no exterior. Os papéis ordinários da empresa subiram 1,77%, para R$ 35,09. As ações preferenciais subiram 1,01%, para R$ 32,16.

No setor financeiro, as ações do Itaú Unibanco avançaram 1,69%. Os papéis preferenciais do Bradesco se valorizaram 3,85%. As ações ordinárias tiveram alta de 2,10%. O Banco do Brasil ganhou 3,58%, e as units –conjunto de ações– do Santander Brasil fecharam com valorização de 1,68%.


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