Folha de S. Paulo


Presidente da Infraero diz que venda de aeroportos dará prejuízo de R$ 3 bi

Vanderlei Almeida/AFP
In the forefround an Avianca airliner lands in the Santos Dumont airport (not framed) as sailing boats compete in the International Sailing Regatta held in the Guanabara Bay in Rio de Janeiro, Brazil on August 19, 2015, an event that serves as a test for the Rio 2016 Olympic Games. AFP PHOTO/VANDERLEI ALMEIDA ORG XMIT: VAN971LEGENDA DO JORNALAvião da Avianca pousa no aeroporto de Santos Dumont
Avião se aproxima do aeroporto Santos Dumont, no Rio

Em mais um embate com o ministro dos Transportes, Maurício Quintella, o presidente da Infraero, Antônio Claret, apontou riscos para compradores e para a União caso o plano de privatização de aeroportos seja levado adiante como anunciado na quarta (24) pelo governo.

No documento, antecipado pelo G1 e ao qual a Folha teve acesso, Claret se diz "preocupado" e afirma que, sem os 14 aeroportos aprovados para venda em blocos pelo governo —incluindo Congonhas—, a Infraero precisará de R$ 3 bilhões por ano para custeio.

A empresa tem 54 aeroportos, dos quais 17 são lucrativos. Estes financiam os que operam no vermelho. O plano do governo é vender os aeroportos grandes e lucrativos. Estão na lista Congonhas, Cuiabá (MT) e Recife.

Claret afirma que, considerando o lucro das operações, Curitiba, Recife, Congonhas e Santos Dumont (RJ) contribuem com 78% do resultado.

Sem os 14 aeroportos, haverá necessidade de R$ 7 bilhões para investimentos, o fluxo de caixa ficará negativo em R$ 400 milhões por ano durante 15 anos e a União terá de destinar R$ 3 bilhões para a Infraero.

Claret também apontou um erro no cálculo da outorga do bloco de aeroportos do Nordeste. Segundo ele, em vez de R$ 1,2 bilhão, seriam R$ 200 milhões.

O presidente da estatal disse ainda que, com as vendas, é preciso definir o que fazer com os 1.600 funcionários que trabalham nesses aeroportos.

O Acordo Coletivo de Trabalho garante a estabilidade dos empregados até 2020 e, das unidades já privatizadas, 80% dos servidores optaram em ficar na estatal.

Claret também criticou a venda de participação da estatal (49%) nos aeroportos de Galeão (RJ), Brasília (DF), Confins (MG) e Guarulhos (SP). A ideia, segundo ele, era que os dividendos de médio e longo prazo ajudariam a reequilibrar a contabilidade da estatal, que compensa prejuízos de 37 aeroportos com o lucro de 17.

Além disso, o TCU (Tribunal de Contas da União) recomendou no ano passado que a estatal recupere sua capacidade de geração de recursos por meio de abertura de capital e concessões com investimentos em parceria com a iniciativa privada. Ou seja: o TCU, ainda segundo Claret, reforçaria o modelo de participações minoritárias.

Segundo ele, a Infraero contratou a consultoria Roland Berger para definir os rumos da estatal projetando, inclusive, cenários de privatizações. O relatório deveria ter sido entregue na quarta-feira (23), quando o governo anunciou a venda dos aeroportos em blocos.

EMBATE

Quintella e Claret pertencem a alas diferentes do PR (Partido da República), que herdou a maior parte dos cargos no setor de transportes no governo Michel Temer.

O ministro, que é deputado licenciado pelo PR de Alagoas, enfrenta resistência de Claret para reestruturar a Infraero, que, desde o final do ano, está sob o comando dos deputados do PR de Minas Gerais ligados a Claret.

Técnicos do Ministério dos Transportes consultados afirmam que os números de Claret não são corretos.

Congonhas, por exemplo, responde por cerca de R$ 350 milhões do resultado da estatal, que, neste ano, deve ser de R$ 400 milhões. Cuiabá e Recife participam com menos de R$ 50 milhões.

Além disso, o modelo que está sendo discutido pelo ministério e pela SAC (Secretaria de Aviação Civil) permitirá à estatal continuar viável.

O enxugamento da estatal incomoda o PR mineiro. "Não dá para manter a maior operadora da América Latina", disse o Secretário de Aviação Civil (SAC), Dario Rais Lopes.

REESTRUTURAÇÃO

Por meio de sua assessoria, Quintella disse que, para manter a Infraero competitiva, o ministério trabalha na reestruturação da estatal.

Segundo a pasta, só a venda das participações acionárias da Infraero em aeroportos já concedidos poderá garantir, no mínimo, R$ 3 bilhões. O valor é dez vezes maior do que o resultado líquido anual de Congonhas, por exemplo. Portanto, as medidas adotadas vão reequilibrar o caixa da empresa e torná-la sustentável, afirmou.

O presidente da Infraero não quis comentar.


Endereço da página:

Links no texto: