Folha de S. Paulo


Robô facilita aprendizado de crianças com necessidades especiais

Juca Varella/Folhapress
Wilson Bueno com o kit de robozinhos que auxiliam no aprendizado de crianças com necessidades especiais
Wilson Bueno com o kit de robozinhos que auxiliam no aprendizado de crianças com necessidades especiais

Wilson Bueno é neuropsicopedagogo e pai de dois filhos com necessidades especiais: um menino com transtorno do espectro autista e uma menina com dislexia. Para ajudá-los na rotina escolar, ele desenvolveu o robozinho chamado Robi.

O projeto surgiu há dois anos com investimento inicial de R$ 70 mil, do próprio bolso. Hoje, os robôs são usados em escolas, clínicas, universidades e unidades da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) no interior de São Paulo.

Com a venda das 50 primeiras unidades, o empreendedor faturou R$ 195 mil- cada kit custa, em média, R$ 3.900.

Robi significa robô infantil ou robô inclusivo -a nomenclatura depende do trabalho a ser realizado. A Roblocks - start-up criada por Bueno para desenvolver a tecnologia- deve fechar este ano de 2017 com um faturamento de R$ 500 mil. A previsão é faturar R$ 2 milhões no próximo ano.

O equipamento é comercializado desde abril. A expectativa otimista para 2018 está baseada na realização de parcerias e na identificação de distribuidores e representantes. "Já estamos negociando com algumas prefeituras e hospitais que mostraram interesse em adquirir o robô", diz Wilson Bueno.

Como o projeto ainda é novo e o universo de potenciais clientes é grande, o empreendedor não descarta recorrer a uma linha de crédito do BNDES, se as condições forem favoráveis.

Obter recursos é uma das dificuldades de quem investe em negócios de forte apelo social. Esse é um problema mencionado por 46% dos 579 empreendedores de todo o Brasil ouvidos na pesquisa feita no fim de 2016 pela consultoria Pipe.

Bueno explica que há alternativas, a exemplo de benefícios governamentais para desenvolvedores de tecnologia assistiva.

O Finep (empresa pública brasileira de fomento à ciência) financia a pesquisa e o desenvolvimento de inovações tecnológicas. O criador do Robi afirma que ainda não recorreu a essa alternativa delinha de crédito.

Para aprender mais sobre questões gerenciais, Bueno participou de uma consultoria do Sebrae em Piracicaba (a 160 km de São Paulo), que avaliou sua capacidade gerencial e organizacional e seu conhecimento de mercado.

Editoria de Arte/Folhapress
MPME- tapete mágico
MPME- tapete mágico

AJUDANTE

O robozinho funciona como um auxiliar para o professor na sala de aula, e também pode ser uma ferramenta para profissionais de saúde que desenvolvem tratamentos para transtorno do espectro autista, síndrome de Down, dislexia, dispraxia da fala ou motora, entre outros casos.

Funciona assim: o terapeuta, pai ou professor propõe uma questão. A criança usa um tabuleiro chamado mesa de instruções para dar a resposta, apertando um botão. Se a resposta está certa, o Robi se movimenta sobre um tapete. Há tapetes de diferentes temas, de acordo com a proposta de trabalho.

"A criança pensa estar brincando, mas realiza inconscientemente tarefas terapêuticas para a restauração neuronal", explica Bueno.

Essas tarefas englobam o aprendizado na escola e também situações cotidianas, como colocar uma roupa.

Há três meses, a neuropsicopedagoga Débora Regina Piovezan, começou a usar o robô em seu consultório e já contabiliza os resultados.

"As crianças estão mais motivadas para adquirir a alfabetização, mais concentradas e motivadas a interagir e a ser ouvidas enquanto é usado o Robi", diz.

O sistema criado por Bueno é considerado uma inovação já que não há muitos projetos semelhantes pelo mundo que garantam tal interação das crianças."É uma tecnologia inédita que traz uma nova opção de aprendizado para pessoas com necessidades especiais", afirma.

MULTIÚSO

De acordo com Wilson Bueno, o equipamento pode ser um pano de fundo para trabalhar a criatividade, a coordenação de discurso e a lógica, além de ser aplicado no estudo da matemática e no aprendizado da leitura.

No caso de crianças com dificuldades motoras, promove o treinamento de lateralidade, profundidade, coordenação motora fina e grossa, entre outros benefícios.

"Por meio desse processo de aprendizado, a criança retém até 80% de toda informação trabalhada com ela, aprimorando o desenvolvimento cognitivo e reforçando funções executivas, como planejamento, memória de trabalho e controle de inibição, entre outros", explica o criador.

Editoria de Arte /Folhapress

Endereço da página: