Um aplicativo gratuito comprado quatro anos atrás pelo Facebook por US$ 150 milhões se tornou uma arma pouco conhecida na estratégia de expansão da empresa, ajudando ela a determinar o que vem ganhando popularidade entre os consumidores.
Com base nesses dados, a empresa pode incorporar recursos semelhantes aos seus produtos, segundo pessoas informadas sobre o projeto.
O app da Onavo, como é conhecido, disfarça a origem do tráfego de usuários de smartphones nas visitas deles à internet e em seu uso de apps.
Ele permite que o Facebook obtenha detalhes precisos sobre o que os usuários estão fazendo quando não estão usando seus apps, como Messenger, WhatsApp e Instagram.
A tecnologia demonstra até que ponto o Facebook está disposto a ir como parte de sua agressiva estratégia para crescer além das redes sociais, em muitos casos imitando rapidamente os recursos mais bem-sucedidos dos apps de empresas rivais, como fez recentemente com o Snapchat.
Ninguém afirma que o que Facebook vem fazendo é ilegal. Mas entrevistas com investidores e empreendedores importantes sugerem que as ações da empresa estão tendo impacto profundo sobre a inovação no Vale do Silício.
A explicação é que elas desincentivam investidores e start-ups a colocarem dinheiro e esforço para desenvolver produtos que o Facebook pode terminar copiando.
A empresa se recusou a comentar, mas apontou para o fato de que cerca de 100 milhões de apps e empresas usam as ferramentas de desenvolvimento que a companhia fornece ou mantêm páginas de Facebook que oferecem instalação de apps.
A inquietação quanto à influência do Facebook surge em um momento no qual o balanço do poder no Vale do Silício está mudando em favor das quatro empresas dominantes (Facebook, Apple, Amazon e Google), em detrimento das start-ups.
"O domínio exercido por elas começa a sufocar o mundo das start-ups", disse Roger McNamee, investidor inicial no Google e no Facebook. "Ajudei a criar um monstro, e lamento tê-lo feito."
Porém, muita gente no Vale do Silício considera que copiar ideias é aceitável, afirmando que isso é parte intrínseca da concorrência e da história dos negócios nos EUA.
Quase ninguém no Vale do Silício, onde a inclinação libertária predomina, acredita que o Facebook deva ser mais regulamentado, e há quem diga que a atitude da empresa força os novos empreendedores a serem mais criativos.
"Eles são capazes de prever o futuro na mesma medida que eu e não há como estar certo 100% do tempo", disse Peter Pham, cofundador da Science, uma incubadora de start-ups.
Os investidores também dizem que agora estão dispostos a investir em redes fechadas nas quais, em sua opinião, o Facebook não deve interferir —como apps sociais para grupos específicos de pessoas— ou em ideias como o blockchain, que permitiria que consumidores troquem informações sem que uma grande empresa seja o polo central de dados.
Quando profissionais de capital ouvem propostas de empreendedores, uma das primeiras perguntas feitas, segundo eles, é se seria fácil para o Facebook copiar a ideia.
E essa é uma das razões mais frequentes para que recusem investir, segundo mais de uma dúzia de investidores.
Scott Sandell, sócio da New Enterprise Associated, uma das mais importantes empresas de capital para empreendimentos dos EUA, disse que o crescente domínio dos gigantes, como o Facebook, influencia suas escolhas.
"Não investimos em nada que fique muito perto de Facebook, Google ou Amazon. O que significa que não achamos que nossas empresas devam voar muito perto do sol."
*
| Divulgação | ||
 |
||
| Instagram Stories, recurso copiado do Snapchat |
TUDO SE COPIA
Recursos do Snapchat que o Facebook incorporou
FACEBOOK STORIES
São vídeos e fotos postados para o público, que desaparecem depois de 24 horas. São exibidas na tela do usuário por alguns segundos, como já acontecia nas Stories do Snapchat
FACEBOOK DIRECT
Permite enviar fotos e vídeos para uma lista específica de amigos, que têm um tempo limitado para visualizar a mensagem. Imita exatamente o funcionamento do Snapchat