Folha de S. Paulo


Custo de carro autônomo preocupa grandes empresas e fabricantes

BMW e Daimler, os maiores fabricantes mundiais de carros de luxo, anunciaram alianças com fornecedores e exaltaram as virtudes que as grandes equipes de engenharia assim formadas teriam para o desenvolvimento de carros autônomo.

Mas outro motivo para esses acordos, segundo executivos e especialistas do setor, é a preocupação de que os carros robotizados talvez não cumpram as expectativas de lucro que causaram a corrida inicial de investimentos.

As montadoras estão cada vez mais interessadas em abrir mão da propriedade direta dos futuros sistemas autoguiados e em distribuir de maneira mais ampla a carga e o risco do investimento.

A tendência representa uma clara mudança de estratégia. Até 2016, a maioria dos fabricantes seguiam estratégias independentes, cujo foco era superar os desafios de engenharia que o desenvolvimento de um carro autoguiado envolve, desconsiderando os desafios de negócios.

"Ainda que o mercado seja substancial, ele talvez não mereça a escala de investimento que atualmente está recebendo", disse um conselheiro de uma das montadoras alemãs que pediu que seu nome não fosse mencionado.

Dezenas de empresas —de montadoras a grupos de tecnologia como Google e Uber— estão disputando um mercado que, segundo a consultoria Frost & Sullivan, responderá por 10% a 15% dos veículos em circulação na Europa em 2030. E alguém certamente terá de sair perdendo.

"É impossível para mim acreditar em que existirão 50 produtores bem-sucedidos de veículos autoguiados", afirmou John Hoffecker, vice-presidente do conselho da consultoria AlixPartners.

Em 2016, a BMW se tornou a primeira grande montadora a abandonar o desenvolvimento solo de carros autoguiados em favor de uma parceria com a fabricante de chips Intel e com a produtora de câmeras e software Mobileye.

"Conversando com outras empresas, você lista os desafios tecnológicos, os aspectos de segurança, e chega à conclusão de que muitos de nós estamos nadando juntos no lodo", disse Klaus Büttner, vice-presidente da BMW.

A Mercedes, da Daimler, veio a combinar seus esforços aos da fabricante de autopeças Bosch, três meses atrás, e a japonesa Honda anunciou estar aberta a alianças na área de carros autoguiados.

Mesmo empresas de tecnologia, donas de recursos generosos, estão se aliando. A Lyft, rival da Uber, e a Waymo, unidade de carros autoguiados da Alphabet (dona da Google), uniram forças em maio.

Klaus Fröhlich, membro do conselho da BMW, disse que a empresa provavelmente perderia dinheiro com sua primeira linha de veículos completamente autoguiados, como fez com a primeira geração de carros elétricos. Mas desenvolver a tecnologia continua a ser uma necessidade, para manter relevância como montadora de automóveis.

"Mas se for possível dividir o peso por meio de uma plataforma, não tenho coisa alguma contra isso."

TÁXI SEM MOTORISTA

Um dos mercados financeiramente mais promissores será o dos táxis sem motoristas, que um dia poderão substituir os táxis convencionais e parte dos transportes públicos, nas grandes cidades.

Os táxis robotizados devem estimular o mercado mais amplo de carros compartilhados e serviços de carros, que movimentou US$ 53 bilhões em 2016 e pode girar US$ 2 trilhões em 2030, segundo a consultoria McKinsey.

Ford e General Motors estão investindo pelo menos US$ 2 bilhões cada no desenvolvimento de veículos autoguiados para frotas urbanas de transporte, que começarão a circular em 2021, concorrendo com empresas existentes e start-ups.

MAIS CUSTOS

O surgimento de alianças vem em um momento no qual as autoridades regulatórias estão pressionando pela criação de padrões para a nova tecnologia, que tem o potencial de reduzir os acidentes de trânsito em até 90%, segundo o Boston Consulting Group.

Especialistas setoriais dizem que essa padronização pode dificultar ainda mais o desenvolvimento de um produto que venha a se destacar, o que coloca em questão de modo ainda mais direto as estratégias independentes e dispendiosas de desenvolvimento de tecnologias.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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