Folha de S. Paulo


Cresce preocupação de investidores com dados ambientais de empresas

Investidores consideram cada vez mais dados ambientais, sociais e de governança antes de decidir colocar dinheiro em uma empresa, mostra pesquisa da consultoria EY (Ernst & Young).

No ano passado, 68% disseram que informações não financeiras têm papel fundamental ao escolher o destino final dos recursos. É uma evolução em relação a 2015, quando 52% afirmavam atentar para essas questões antes de escolher onde investir.

"Vimos uma mudança significativa de mercado. Os executivos estão valorizando mais esse recorte de dados dentro de relatórios publicados", afirma Helcio Bueno, sócio da EY.

A consultoria ouviu 320 investidores ao redor do mundo, sendo um terço deles com mais de US$ 10 bilhões em ativos sob gestão.

Segundo o levantamento, 92% dos entrevistados concordam ou concordam muito que questões socioambientais e de governança têm impactos reais e quantificáveis a longo prazo nos resultados financeiros.

Mas a falta de um padrão nas informações divulgadas atrapalha a tomada de decisão. A maioria diz avaliar os fatores ambientais e sociais a partir de uma base informal.

Para Bueno, esse é um dos fatores a impedir que esses dados ganhem maior relevância na alocação de recursos.

"Quando se falam de dados financeiros, existe uma padronização de como essas informações devem ser reportadas. Para dados socioambientais, não há um padrão que seja tão fechado para interpretações", diz. "Mas há no mercado um movimento autorregulatório de tentar criar essa padronização."

No Brasil, uma das tentativas de desenhar essa uniformização de dados vem do ISE, índice de sustentabilidade da Bolsa. Os dados estabelecem uma base para comparar performance de empresas sob aspectos como eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa.

Desde dezembro de 2015, quando foi lançado, o ISE acumula valorização de 154,6%. No mesmo período, o Ibovespa, índice das ações mais negociadas da Bolsa, tem avanço de 101,5%.

CRISES

Para o sócio da EY, escândalos ambientais e sociais recentes -e as consequências desses casos sobre as ações das empresas- fazem com que a sustentabilidade ganhe mais espaço dentro das corporações.

O estudo cita indiretamente o episódio envolvendo a Volkswagen, que usava um software para manipular testes que verificavam as emissões de gases poluentes por veículos da montadora.

Nos dias seguintes à publicação das primeiras denúncias, as ações da empresa chegaram a acumular desvalorização de 42,2%.

"O mercado e os consumidores penalizam a companhia. O consumidor tem uma reação imediata em parar de consumir o produto de empresas que estão envolvidas em corrupção e em algum tipo de manipulação", diz.

"A sustentabilidade é um caminho sem volta. As empresas precisam transitar por esse caminho, senão vão ser penalizadas no mercado consumidor ou na capacidade de receber investimentos", afirma Bueno.


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