Folha de S. Paulo


Engenheiro do Google justifica falta de chefe mulher por diferenças biológicas

Dado Ruvic/Reuters
FILE PHOTO: People are silhouetted as they pose with laptops in front of a screen projected with a Google logo, in this picture illustration taken in Zenica October 29, 2014. REUTERS/Dado Ruvic/File Photo ORG XMIT: TOR115
Engenheiro do Google justifica falta de mulheres no comando por diferenças biológicas

O Google entrou em uma grande controvérsia neste fim de semana, depois que um engenheiro publicou um memorando interno em que disse que as diferenças biológicas entre os sexos explicam a escassez de mulheres em posições técnicas e de comando no Vale do Silício.

O comunicado de 3.000 palavras gerou respostas irritadas de vários trabalhadores e levou a empresa a reafirmar seu compromisso com "diversidade e inclusão".

O autor (que não teve seu nome divulgado) afirmou, no entanto, que recebeu "muitas mensagens pessoais de colegas do Google expressando gratidão por trazer à tona questões tão importantes como essa, com a qual eles concordam, mas nunca teriam coragem de se manifestar ou defender por causa da cultura da vergonha e do medo de perder o emprego".

O memorando afirma que a "distribuição de preferências e habilidades entre homens e mulheres difere, em parte, por causas biológicas e essas diferenças podem explicar por que não há uma representação igualitária de mulheres em cargos técnicos e de lideranças".

A capacidade masculina para pensamento sistemático faz com que seja mais provável que eles se tornem programadores, defende o engenheiro do Google.

Já as mulheres, segundo ele, têm "uma abertura maior para sentimentos e estéticas em lugar de ideias", o que leva elas a preferirem "trabalhos em áreas sociais ou artísticas".

A publicação do memorando em um canal de discussão interna levou a pedidos de alguns trabalhadores para que o Google adote uma resposta mais dura.

Ainda que um executivo do Google (que pediu não ter seu nome publicado) tenha sinalizado que o engenheiro pode ter quebrado o código de conduta da empresa, não está claro se a empresa vai tomar medidas disciplinares contra o funcionário.

As questões de desigualdade de gênero têm ganhado força no Vale do Silício nos últimos meses. O fracasso da Uber em lidar com as acusações de assédio sexual trazidas à tona por uma engenheira mulher colaborou para a renúncia do presidente-executivo e criador da empresa, Travis Kalanick.

Em e-mail interno para os empregados, a chefe de diversidade do Google, Danielle Brown, recentemente contratada da Intel, afirmou que a companhia deseja "uma cultura em que aqueles com pontos de vista alternativos, incluindo ideias políticas diferentes, se sintam seguros em dividir suas opiniões".

Mas ela acrescentou que o debate interno continua a ser regido pelos "princípios de igualdade de emprego que fazem parte de nosso código de conduta e das leis e políticas antidiscriminação".

O Google tem sido um dos líderes nos esforços do Vale da Silício para contratar mais engenheiras, ainda que o progresso tenha sido lento.

As mulheres respondem por apenas 20% dos trabalhos técnicos da empresa —três anos atrás, quando o levantamento teve início, elas eram 17%.


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