Folha de S. Paulo


Empresa permite adotar galinha e cuidar de horta a distância

Marcelo Justo/Folhapress
Antoine Dubacq, 29, criador da Garde Manger, em seu apartamento em São Paulo
Antoine Dubacq, 29, criador da Garde Manger, em seu apartamento em São Paulo

Comer verduras orgânicas da sua própria horta e criar uma galinha sem precisar abandonar a vida na cidade grande. Essa é a proposta da Garde Manger, plataforma on-line que permite ao cliente ser o agricultor virtual de um pedaço de terra que realmente existe e fica em Tatuí, no interior de São Paulo.

"Os joguinhos em que as pessoas cuidam de fazendas fazem o maior sucesso. Agora, elas podem receber em casa o que cultivam", diz o francês Antoine Dubacq, 29, idealizador do negócio, que começou suas operações em maio deste ano.

No site da empresa, o usuário pode escolher entre três tamanhos de horta e os produtos que deseja plantar nela –legumes, verduras, frutas, ervas e flores. Ali, ele também dá nome à sua própria galinha, que fornece, em média, três ovos por semana.

As aves ficam soltas em uma área de mil metros quadrados e recebem uma etiqueta, afixada ao pé. Atualmente, vivem nesse espaço Clotilde, Doralice, Mafalda e outras 17 galinhas.

Os planos de assinatura custam de R$ 250 a R$ 450 por mês, com entregas aos sábados –por enquanto, apenas na zona oeste da capital paulista. Pela plataforma, o cliente acompanha o status da sua plantação e pode vender ou trocar alimentos com outros usuários.

Quem quiser pode agendar uma visita à sua horta. "O serviço oferece personalização do início ao fim. A pessoa está no controle de tudo", afirma Dubacq, que mora em São Paulo há quatro anos.

Especialista em tratamento de imagem, ele começou a desenvolver a plataforma sozinho em março do ano passado. Em paralelo, saiu em busca de terrenos para materializar a sua ideia. Depois de muita procura, encontrou uma área sem uso de 4.500 metros quadrados em uma fazenda, que arrenda por R$ 1.000 ao mês.

O investimento inicial foi de R$ 60 mil. A empresa tem dois funcionários que cuidam do cultivo, e o transporte é terceirizado. Hoje, são 20 clientes com hortas e galinhas próprias e cerca de 70 que só recebem as cestas de produtos orgânicos.

A ideia é chegar aos 500 para essa área de produção e, aos poucos, abrir fazendas em outras localidades. "As hortas têm de estar o mais perto possível dos clientes, para que possam visitá-la."

Divulgação
A galinha Mafalda, na fazenda que fica em Tatuí (SP)
A galinha Mafalda, na fazenda que fica em Tatuí (SP)

TÊTE-À-TÊTE

Cada vez mais as pessoas estão interessadas em conhecer bem o modo de produção daquilo que consomem, segundo Luciana Stein, pesquisadora de tendências da TrendWatching. "Trata-se de uma reação ao aumento do consumismo e da clareza de que o consumo tem custos humanos, sociais e ambientais", afirma ela.

"Existe um movimento de aproximação entre clientes e produtores, um fluxo livre de ideias e de colaboração que se iniciou com a internet", completa Stein.

Foi também nessa linha que surgiu a Raízs, plataforma de venda de orgânicos que estampa em cada produto a foto da família de agricultores que o produziu –são 72.

Além disso, o site disponibiliza textos e vídeos que contam a história de alguns desses produtores.

Em setembro de 2016, a empresa começou um programa de visitas às propriedades rurais. "A ideia é juntar essas duas pontas e criar um laço entre elas", afirma o engenheiro de gestão Tomás Abrahão, 26, fundador da Raízs, que opera em São Paulo.

As vendas on-line tiveram início há pouco mais de um ano. Hoje, a cartela de clientes chega aos 3.000, sendo 1.192 deles ativos. O faturamento mensal da empresa fica em torno dos R$ 100 mil.

"Não é apenas o desejo por uma alimentação saudável, mas um conjunto de valores que envolvem também dar importância à produção local e ao vínculo emocional com ela", diz Gustavo Carrer, consultor do Sebrae. "O grande desafio desse tipo de negócio é conseguir entender bem o público e se comunicar com ele da melhor forma."

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Patricia Stavis/Folhapress
Ricardo De Boer, 33, em floricultura em São Paulo
Ricardo De Boer, 33, em floricultura em São Paulo

Aplicativo une compradores a floristas locais

Foi a impessoalidade do comércio virtual de flores que motivou o administrador Ricardo De Boer, 33, a criar em 2015 a Pollen, plataforma que conecta consumidores a floristas artesanais da sua vizinhança.

"Em geral, o usuário de e-commerce não sabe quem está do outro lado nem a qualidade do buquê que vai chegar", diz De Boer. "O objetivo da Pollen é fazer com que o cliente se sinta dentro de uma floricultura de bairro, só que on-line."

Os floristas recebem os pedidos pelo aplicativo e, assim que finalizam os arranjos, enviam a foto do trabalho ao e-mail do cliente, que pode aprovar ou solicitar mudanças.

Além disso, o profissional também pode ligar diretamente para o consumidor e oferecer opções de flores mais frescas, que tenha recebido naquele dia. O florista é o responsável por fazer as entregas e pode utilizar as plataformas de transporte Cabify e 99, com as quais a Pollen tem parceria.

Segundo De Boer, essa relação mais direta entre as duas pontas não põe em risco a utilidade do aplicativo, pelo contrário. "O próprio profissional vai querer direcionar os pedidos para a plataforma, porque ela facilita a vida dele", diz.

Antes de fazer parte da rede da Pollen, o florista tem de passar por um processo de seleção, que inclui análise de fotos dos arranjos e conversas por telefone. Hoje, são 250 profissionais espalhados por 17 cidades do país –50 deles estão na Grande São Paulo.

A empresa fica com 30% do valor dos produtos, que são comercializados a partir de R$ 28, sem contar o frete. Até o momento, De Bouer investiu R$ 800 mil para desenvolver e aprimorar a plataforma.


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