Folha de S. Paulo


Google gasta US$ 5,9 mi e lidera lobby de empresas com políticos nos EUA

Aly Song/Reuters
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Google gasta US$ 5,9 bi e lidera lobby de empresas com políticos nos EUA

O Google realizou seus maiores gastos trimestrais para tentar influenciar as autoridades eleitas de Washington, de acordo com informações sobre gastos de lobby divulgadas na noite de quinta-feira (20). O segundo trimestre de 2017 também viu gastos recorde com lobby por diversas outras grandes empresas de tecnologia, entre as quais Amazon, Apple e Uber.

De acordo com a prestação de contas, o Google gastou US$ 5,93 milhões em esforços de lobby entre 1º de abril e 30 de junho, mais do que qualquer outra empresa no período. Os gastos foram 40% mais altos do que os referentes ao segundo trimestre de 2016. As três únicas entidades com gastos de lobby mais altos foram associações setoriais —a Câmara Americana de Comércio, com US$ 11,68 milhões; a Associação Nacional de Imobiliárias, com US$ 10,92 milhões; e a Associação de Pesquisa e Indústria Farmacêutica Americana, com US$ 6 milhões.

Desde a eleição de 2016, o setor de tecnologia vem tendo de se enquadrar não só a um Congresso controlado pelos republicanos, mas a um governo cujas decisões muitas vezes contrariam os interesses de negócios do Vale do Silício e suas inclinações em geral progressistas.

"Algumas empresas de tecnologia até agora haviam existido apenas em um mundo no qual o presidente estava em geral alinhado com elas", disse Julie Samuels, diretora executiva da Tech:NY, uma organização que representa empresas de tecnologia de Nova York. "Por isso muita gente não sabe como viver em um espaço no qual exista tensão."

Os esforços recorde de lobby do Google surgem no momento em que a empresa enfrenta a maior multa já imposta a uma empresa pela União Europeia por abusar de sua posição dominante no mercado. Em junho, a comissária de defesa da competição da União Europeia multou o Google em US$ 2,7 bilhões, afirmando que a empresa havia direcionado usuários ilegalmente ao seu serviço de comparação de preços de varejo. Se a decisão não for revertida, ela pode forçar uma mudança no comportamento da companhia e direcionar a regulamentação ainda incipiente do setor de tecnologia.

Nos Estados Unidos, o Google e outras empresas do setor tiveram de se adaptar à nova ordem política, na qual não desfrutam dos laços estreitos que desenvolveram com o governo Obama. Nos últimos meses, algumas pessoas em Washington apelaram por escrutínio mais intenso das plataformas dominantes de tecnologia.

O Google fez lobby junto às duas casas do Congresso e à Casa Branca, quanto a questões como "respostas legislativas" às ordens de restrição de entrada de estrangeiros impostas pelo presidente, imigração de trabalhadores altamente qualificados, leis antitruste americanas e estrangeiras, regulamentação de normas de proteção à privacidade pela FCC (Comissão Federal de Comunicações), e liberdade de expressão.

O Google não quis comentar.

A Amazon gastou US$ 3,21 milhões em lobby no período, ante US$ 3 milhões em 2016. A gigante do comércio eletrônico fez lobby junto ao Congresso, à Casa Branca e a diversas agências federais, entre as quais a Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço), FAA (Administração Federal da Aviação) e FTC (Comissão Federal do Comércio).

A empresa fez lobby junto às autoridades responsáveis sobre diversas questões, entre as quais drones (aeronaves de pilotagem remota), carga aérea e veículos autônomos, e também anunciou no período seus planos de adquirir a Whole Foods por US$ 13,7 bilhões, uma transação que colocaria a empresa no controle de mais de 450 lojas físicas espalhadas pelos Estados Unidos. Mas a proposta de aquisição gerou preocupações antitruste entre os legisladores federais, que desejam avaliar o possível impacto negativo da transação sobre os preços e a concorrência no setor de varejo de mantimentos.

A Amazon se recusou a comentar. (O presidente-executivo da Amazon, Jeff Bezos, é dono do "Washington Post".)

A Uber, que vem tendo um ano complicado, gastou US$ 430 mil em lobby no segundo trimestre, cerca de 40% a mais do que havia gastado no período um ano atrás, e uma soma equivalente aos seus gastos totais de lobby em 2015. A gigante dos serviços de carros está a caminho de superar o seu recorde de gastos de lobby em 2016, US$ 1,36 milhão. A Lyft, maior rival da Uber nos Estados Unidos, também bateu seu recorde trimestral anterior de gastos com lobby, ao despender US$ 140 mil.

Os gastos de lobby da Apple chegaram a US$ 2,2 milhões no período, quase 80% a mais do que ela gastou no segundo trimestre de 2016. A fabricante do iPhone fez lobby junto ao Congresso, ao Departamento do Transporte e à FDA (Food and Drug Administration), a agência americana de fiscalização e regulamentação de alimentos e remédios, entre outros órgãos. A empresa dedicou suas verbas de lobby a questões que incluem veículos autônomos, apps de saúde e reforma tributária internacional.

Embora o Facebook e a Microsoft não tenham realizado gastos de lobby recorde no período, os dois tiveram despesas multimilionárias.

O Facebook gastou US$ 2,38 milhões em lobby junto ao governo federal ante US$ 2,19 milhões no período em 2016. A empresa fez lobby junto às duas casas do Congresso, à Casa Branca e a seis agências federais americanas, sobre questões que incluem terrorismo, neutralidade da rede, privacidade na Internet, dados cifrados e tributação internacional.

A Microsoft gastou US$ 2,07 milhões, total semelhante ao do ano passado no período. Fez lobby junto ao Congresso, ao DSI (Departamento de Segurança Interna) e ao Departamento de Estado, entre outros, e se concentrou em questões como a segurança cibernética, imigração de profissionais de alta capacitação e o acordo de Paris sobre o clima.

Os esforços combinados de lobby de algumas das mais influentes empresas de tecnologia —Google, Facebook, Amazon, Apple e Microsoft— envolveram gastos de US$ 15,79 milhões.
Apple, Microsoft e Uber não responderam de imediato a pedidos de comentários.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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