Investimento questionado por empregados da Petrobras e dos Correios, a usina Canabrava pode se tornar mais um mico nas mãos dos fundos de pensão das duas estatais, a Petros e a Postalis.
Relatório da ANP (Agência Nacional do Petróleo) vê indícios de que a empresa de açúcar e álcool foi responsável pelo derrame de etanol adulterado em postos do Rio no fim de 2016 e pede avaliação sobre a possibilidade de cassar a autorização para operar.
A agência diz que o processo ainda está em curso e que prevê "ampla defesa e contraditório". Caso a agência decida pela cassação da usina, localizada em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, terá de fechar as portas.
Desde 2008, Petros e Postalis colocaram R$ 450 milhões na Canabrava, via Fundo de Investimentos em Participação (FIP) Bioenergia e compra de dívidas.
Agora, tentam recuperar o dinheiro, em meio a denúncias de irregularidades nas operações da empresa.
O relatório da ANP ao qual a Folha teve acesso investiga a apreensão, em novembro de 2016, de 19 milhões de litros de etanol adulterado com metanol, produto altamente tóxico usado na fabricação de tintas e biocombustíveis.
O teor máximo de metanol no etanol permitido pela lei é 0,5%, mas foram encontradas amostras com até 14,3%. O caso levou a polícia do Rio a pedir o indiciamento de executivos das três maiores distribuidoras de combustíveis do país, BR, Shell e Ipiranga.
A fiscalização da ANP diz que o único fornecedor em comum às três distribuidoras à época da fraude foi a Canabrava e que as amostras de combustível adulterado foram encontrados só em caminhões com produtos da empresa.
A crise gerada pela apreensão do combustível levou os fundos a intervir na companhia. Em abril, o banco Brasil Plural assumiu a gestão, com a missão de tentar limpar a casa e preparar a Canabrava para a venda.
"Desde então, estão sendo realizadas diligências e auditorias na usina. Caso sejam detectadas irregularidades, serão tomadas as medidas cabíveis para buscar a responsabilização e proteger o patrimônio dos participantes", disse a Petros, que colocou R$ 134,2 milhões no negócio.
Em seu relatório de 2016, o fundo reduz o valor do investimento no FIP Bioenergia de R$ 163,9 milhões para R$ 139,5 milhões, em razão do provisionamento de debêntures emitidas pela companhia.
"O novo gestor tem tomado as providências necessárias para o pleno funcionamento da usina, com o objetivo de se recuperar o investimento", afirmou a Postalis, que investiu R$ 344 milhões.
A Canabrava não se pronunciou. O Brasil Plural não quis comentar o assunto.
As distribuidoras dizem que são vítimas no caso. BR e Ipiranga afirmaram que "confiam nas autoridades" e que estão colaborando com as investigações.
A Raízen, que opera com a marca Shell, diz que o episódio é "uma grande fraude industrial com o objetivo de desestabilizar toda a distribuição de etanol no Rio".