Folha de S. Paulo


Mais ricos deveriam contribuir mais com a Previdência, defende sociólogo

Alan Marques - 19.12.2014/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL, 19.12.2014. às 10H. Marcelo Medeiros posa para fotos em Brasília. Medeiros deu entrevista exclusiva para Folha sobre desigualdade social. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) MERCADO *** EXCLUSIVO ***
O sociólogo Marcelo Medeiros, pesquisador do Ipea e da Universidade Yale (EUA)

Quem ganha mais deveria pagar alíquotas maiores de Previdência, defende o sociólogo Marcelo Medeiros, um dos principais pesquisadores em desigualdade de renda.

Ele diz que o envelhecimento da população e a mudança no mercado de trabalho (menos empregados e mais autônomos ou pessoas jurídicas) vai pressionar o financiamento da Previdência.

Aumentar a contribuição dos mais ricos permitiria alongar o tempo de transição das regras, suavizar o aperto nas regras de acesso e mesmo reduzir a alíquota dos mais pobres, para aumentar a base de contribuição.

Segundo Medeiros, isso é importante principalmente para as mulheres, que terão dificuldades para passar de 15 para 25 anos de contribuição. Entre outros motivos está o fato de que, além de cuidar das crianças, elas acabam saindo do mercado de trabalho também para cuidar dos mais velhos —e a parcela de idosos é cada vez maior.

"O debate atual está muito focado na responsabilidade fiscal [equilíbrio das contas públicas], o que é necessário, mas ela precisa andar de mãos dadas com a responsabilidade social. Se olhar no curto prazo demais lá na frente todo mundo afunda."

REFORMA DA PREVIDÊNCIA
As mudanças propostas na aposentadoria

Medeiros diz que uma preocupação excessiva com apenas cortar custos "abre espaço para o populismo": "Alguém diz que vai devolver todos os direitos, e nisso os grupos mais fortes ganham mais que os outros".

O pesquisador considera também que a proposta de reforma é tímida para reduzir a desigualdade do país.

Além de tornar o teto obrigatório e limitar o acúmulo de aposentadoria e pensões, seria preciso elevar a idade de aposentadoria para todas as categorias, inclusive militares. "O governo fez concessões demais, do pior tipo, para grupos específicos."

Segundo Medeiros, "o Brasil é um país desigual e a Previdência replica essa desigualdade". "A maior parte dos gasto é com os mais ricos. Se precisa fazer economia, tem que se cortar no benefício dos mais ricos".

Cálculos de pesquisadores do Ipea mostram que, se o teto já valesse hoje para todos os servidores, a economia com despesas de Previdência poderia ser de ao menos R$ 50 bilhões por ano.

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