Folha de S. Paulo


JBS foi um dos negócios mais bem bolados do BNDES, diz chefe do banco

Paulo Whitaker/Reuters
Instalações da JBS em Jundiaí, interior de SP
Instalações da JBS em Jundiaí, interior de SP

O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, afirmou nesta sexta (14) que o apoio à JBS "foi um dos negócios mais bem bolados e bem-sucedidos" do BNDESPar, o braço de participações da instituição, que detém 21,3% das ações da companhia.

Em acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, o empresário Joesley Batista, da família que controla a JBS, disse que pagou propina ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para obter a aprovação de seus projetos no banco.

O BNDESPar investiu R$ 8,1 bilhões na JBS e se tornou o maior acionista minoritário da empresa, que é a maior processadora de proteína animal do mundo. Sua participação se desvalorizou com a queda das ações nos últimos meses, quando investigações policiais e a delação de Joesley e seu irmão Wesley Batista lançaram suspeitas sobre seus negócios.

Rabello de Castro, que assumiu o cargo em maio, divulgou ontem o "Livro Verde do BNDES", um documento elaborado para defender o banco e, nas palavras do executivo, fazer uma "grande prestação de contas, diante de dúvidas suscitadas a partir do momento político". O documento reúne informações públicas sobre as operações do BNDES, sem esclarecer os motivos das escolhas feitas pelo banco nos últimos anos.

Com apoio da Caixa, que também é acionista minoritária da JBS, o BNDES pediu recentemente a convocação de assembleia de acionistas para discutir a gestão da empresa após a crise provocada pela delação dos irmãos Batista.

Os Batista até agora não convocaram a assembleia nem indicaram disposição de fazê-lo. "Estamos conscientes de que a empresa passa por momento delicado e quem mais sofre com isso é o mercado de carnes, já que a falta de liquidez da empresa reduz sua capacidade de comprar", afirmou Rabello.

O apoio ao frigorífico foi alvo da Operação Bullish, da Polícia Federal, em maio, que obteve mandados de condução coercitiva de 37 pessoas ligadas à JBS e ao BNDES.

SEM FAVORECIMENTO

No Livro Verde, o banco sustenta que não houve favorecimento ao grupo dos irmãos Batista e que as operações com a JBS são lucrativas para o banco.

De acordo com o documento, a JBS recebeu 26% dos recursos do banco destinados a apoiar o setor de carnes entre 2005 e 2016. A Bertin, adquirida pela empresa dos Batista, recebeu outros 12%, mas antes da aquisição.

Já a BRF ficou com 16% e a Marfrig, com 14%, e outras empresas, com 32%. Ao todo, foram desembolsados R$ 31,2 bilhões para o setor.

"É pura fantasia dizer que aqui tem um sujeito que é amigo do rei e pediu preferência para determinada empresa", afirmou Rabello de Castro.

O BNDES defende que, até o fim de 2016, o apoio à JBS tinha um resultado positivo de R$ 3,560 bilhões: o banco injetou R$ 8,110 bilhões na empresa, já recebeu R$ 1 bilhão em dividendos e outros R$ 4,040 bilhões com a venda de ações.

No fim de 2016, o valor da fatia na empresa valia R$ 6,631 bilhões. O valor, porém, foi reduzido com a queda no preço das ações após a delação. Rabello de Castro diz, porém, que o banco não terá prejuízo com isso porque não pretende vender os papéis agora.

Danilo Verpa - 29.mar.2012/Folhapress
SAO PAULO, SP, 29.03.2012: Dr. Paulo Rabello de Castro durante reuniao com a coordenacao do Movimento Brasil Eficiente que anunciou nesta sexta-feira, em sua primeira reuniao do ano, a adesao do governador Eduardo Campos (PSB-PE) e do publicitario Nizan Guanaes, que cuidara da comunicacao do movimento. O evento ocorreu na Escola de Economia da FGV. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, PODER)
Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES

CUBA

Entre as operações questionadas pelo mercado, o relatório dá destaque também ao financiamento de bens e serviços para exportações, produto que foi remodelado após a entrada da ex-presidente Maria Silvia Bastos Marques em maio de 2016.

Alguns contratos assinados por empresas investigadas pela Operação Lava Jato chegaram a ser suspensos. O banco diz que, em 20 anos de atuação, apenas um projeto de financiamento à exportação registrou atrasos nos pagamentos: o contrato do Aeroporto de Nacala, em Moçambique.

"Os financiamentos às exportações de serviços de engenharia realizados pelo banco entre 2007 e 2015 movimentaram uma rede de 4.044 fornecedores no Brasil", defende o documento, calculando que o número de empregados nessas empresas subiu de 402 mil em 2007 para 788 mil em 2014.

O texto destaca projetos em Angola e em Cuba. Na ilha caribenha, diz, os empréstimos garantiram a exportadores brasileiros "acesso a um mercado restrito e com dificuldades de obtenção de crédito".

PSI

No Livro Verde, o BNDES faz uma crítica ao Programa de Sustentação do Investimento (PSI), criado pelo governo Lula após a crise internacional de 2008 e responsável pelos aportes de R$ 440,8 bilhões do Tesouro no banco entre 2008 e 2014.

"Diante dos resultados macroeconômicos na presente década, e considerando o elevado montante dos recursos envolvidos (...) é forçoso hoje reconhecer que parte do programa não atingiu, em sua plenitude, o objetivo de manter a trajetória da Formação Bruta de Capital Fixo (FCBF) em patamares elevados no Brasil.

Para Rabello de Castro, os dados mostram que o programa deveria ter sido encerrado em 2011, já que não produzia mais efeitos de arraste de outros investimentos. Em 2009, por exemplo, cada real desembolsado no PSI gerava R$ 1,18 em investimento. Em 2010, esse número caiu para R$ 0,58.

Ainda assim, Rabello de Castro argumenta que o aporte líquido do Tesouro no banco foi menor, considerando que o banco retorna ao Tesouro impostos e dividendos. Entre 2006 e 2016, diz o documento, o banco recebeu, em valores atualizados, R$ 1,025 trilhão e devolveu R$ 866,220 billhões.

TLP

Rabello de Castro disse que a polêmica envolvendo declarações suas a respeito da TLP foi um mal entendido e que não defende mudanças na taxa criada pelo governo para substituir a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo).

"Não foi crítica alguma, a gente [no Brasil] está muito ansioso", reclamou, dizendo que apenas tentava explicar "uma coisa óbvia" no cálculo da nova taxa: que, por refletir o custo de captação do Tesouro no mês anterior, pode ter variações mais bruscas dependendo do momento político e econômico.

As declarações levaram ao pedido de demissão de dois diretores do banco, Vinícius Carrasco e Claudio Coutinho —este será substituído pelo ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas.

"O BNDES é executor de política econômica. Não temos que ficar pensando exageradamente, a não ser que sejamos chamados a pensar", disse.


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