Os projetos de parceria com a mídia, por parte de Google e Facebook, chegaram ao Brasil neste ano. Um deles, financiado pelo Google, é considerado pioneiro no mundo e avalia o impacto do jornalismo de qualidade na sociedade brasileira.
Busca medir, por exemplo, quantos milhões de reais foram economizados porque um jornal denunciou um esquema de desvio de dinheiro. Ou quantos serviços públicos mal prestados, seja no seu bairro ou no país, foram revisados e melhorados após repórteres relatarem erros.
Chamado Impacto.Jor e desenvolvido pelo jornalista e pesquisador Pedro Burgos, adapta e amplia experimentos de ONGs americanas de jornalismo, bancadas por doações.
"Como a tradição de filantropia nos EUA é voltada a resultados, espera-se que alguma coisa retorne para a sociedade, daí a preocupação já existente em medir de alguma forma o impacto e quais as ferramentas para isso", relata Burgos.
Ele começou a pesquisar o assunto quando atuava como editor de engajamento do Marshall Project, uma ONG americana de jornalismo. Buscou "fugir da obsessão pelo page view", pela contagem de visualizações, priorizando "outros parâmetros".
Por exemplo, "se o político compartilha uma notícia no Facebook ou menciona no Congresso, considera-se que ela está contribuindo para o debate". O projeto abrange, em fase de testes, Folha, "Veja", "Gazeta do Povo", "Nova Escola" e "Nexo".
Responde a uma nova fase do jornalismo, em que, segundo Burgos, a prioridade estaria nas assinaturas, em leitores que valorizam o papel institucional dos veículos, seu valor para a sociedade.
PONTES
O Impacto.Jor é uma das iniciativas apoiadas pelo News Lab, que chegou neste ano ao Brasil e "é a ponte entre as Redações e as iniciativas do Google", como descreve seu chefe no país, o jornalista Marco Túlio Pires, ex-"Veja".
"O objetivo é acelerar a inovação em quatro áreas: jornalismo de dados, imersivo, diversidade no jornalismo e verificação e credibilidade", descreve, citando atividades como treinamento de jornalistas e o apoio a encontros de profissionais de tecnologia e mídia, como o Newsgeist.
Ainda sem perspectiva de chegar ao país, um dos principais projetos que o News Lab ajudou a fundar, em parceria com veículos de jornalismo, foi o First Draft, ao qual se somou depois o próprio Facebook.
Foi a partir dele que se formou o CrossCheck, consórcio que reuniu as duas plataformas e 35 Redações francesas, inclusive "Le Monde" e AFP, com o intuito de combater a disseminação de notícias falsas nas eleições presidenciais de maio.
O Google saiu na frente na aproximação com o jornalismo profissional, tanto no exterior como no Brasil, mas o Facebook tenta não ficar para trás. Seu diretor para Parcerias de Mídia na América Latina é o engenheiro eletrônico e jornalista, ex-ESPN, Luis Renato Olivalves, baseado em Miami, nos EUA.
"Desde o início do ano a gente decidiu agrupar formalmente, criar um projeto de aproximação com o mercado do jornalismo, para garantir que o caminho que a gente segue, como plataforma, seja muito bem alinhado com as necessidades de cada organização de conteúdo", diz ele, sobre o Facebook Journalism Project.
A partir de conversas com veículos, inclusive de Brasil, México e Argentina, teriam surgido "formatos mais ricos para monetização, como o de 'ad breaks' em vídeo, que é um modo de apresentar peças publicitárias dentro de conteúdo totalmente sob controle do veículo".
A exemplo do que faz o Google, parte do projeto é treinar jornalistas para usar tecnologias do Facebook, caso do CrowdTangle, que permite analisar o desempenho da estratégia social do veículo e comparar com concorrentes.
"Eu sou particularmente fã dessa ferramenta, que o Facebook adquiriu e tornou disponível para as Redações", diz Olivalves. "Você tem acesso em tempo real a conteúdos que estão 'trending', faz pesquisas sobre temas, 'hashtags', pessoas."