Folha de S. Paulo


Jornais se unem contra Google e Facebook, que aceleram parcerias

Ramin Talaie/AFP
Vista da fachada do prédio do jornal The New York Times, em Nova York (EUA). *** NEW YORK - APRIL 21: A man speaks on his mobile phone across from The New York Times headquarters building April 21, 2011 in New York City. The New York Times profits fell 58 percent in the first quarter of 2011. Ramin Talaie/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==LEGENDA DO JORNALFachada da sede do 'New York Times', jornal que adota sistema de cobrança digital
Vista da fachada do prédio do jornal "New York Times", em Nova York (EUA)

Os jornais americanos, liderados por "New York Times" e "Wall Street Journal", intensificaram nesta semana o confronto com Google e Facebook, que por sua vez ampliaram as ofertas de parceria com os veículos.

A News Media Alliance (NMA), entidade que representa os dois jornais, o "Washington Post" e perto de 2.000 publicações impressas e digitais, solicitou na segunda (10) que o Congresso americano permita que o setor negocie coletivamente com os dois gigantes digitais.

Pediu isenção temporária das normas antitruste, para poder enfrentar "um duopólio que está absorvendo toda a receita publicitária", a ponto de controlar hoje "mais de 70% dos US$ 73 bilhões [R$ 238 bilhões] gastos em publicidade digital" nos EUA, anualmente.

De sua parte, o Facebook apresentou também na segunda-feira, horas depois, sua proposta para incluir na ferramenta Instant Articles os veículos que cobram assinatura mensal, mas permitem algum acesso gratuito, notadamente o "NYT" –no Brasil, a Folha foi pioneira na adoção desse sistema, chamado de "paywall poroso".

A receita com assinaturas digitais se tornou prioritária para os veículos, com a queda na publicidade causada pela ascensão de Google e Facebook. No ano passado, "NYT" e "WSJ" perderam mais de 20% de sua receita publicitária.

Segundo pessoas familiarizadas com a negociação, a plataforma social planeja implantar até o fim do ano, globalmente, dois formatos já presentes na indústria de jornais: um com dez ou mais textos de acesso aberto e os demais fechados, o "paywall poroso"; e outro com grupos de conteúdo aberto e fechado, o chamado "freemium".

Os veículos controlariam o conteúdo e teriam acesso a todos os dados dos assinantes. "Estamos em conversas iniciais com diversas organizações de mídia sobre como podemos dar melhor suporte aos modelos de negócio por assinatura no Facebook", afirma Campbell Brown, jornalista contratada pela plataforma em janeiro para comandar suas parcerias jornalísticas.

Já o Google, mais adiantado nas parceiras (leia aqui ), divulgou no final da semana o financiamento de 107 projetos de "jornalismo de alta qualidade" em 27 países europeus, para veículos como o jornal digital espanhol "Público" e o grupo estatal alemão Deutsche Welle.

O programa de financiamento da plataforma começou há dois anos e é restrito à mídia europeia. Nesta terceira rodada, estão sendo distribuídos mais de 21 milhões de euros (R$ 78 milhões). Em nota sobre as críticas dos jornais e o anúncio da NMA, o Google afirma:

"Queremos ajudar os veículos jornalísticos a terem êxito em sua transição para o digital. Nos últimos anos criamos vários produtos, desenvolvidos especificamente para ajudar a distribuir, financiar e apoiar jornais. É uma prioridade e vamos manter o compromisso de ajudá-los em seus desafios e oportunidades."

12 A 18 MESES

Os gigantes digitais estão sob questionamento na União Europeia, que há duas semanas multou o Google em 2,4 bilhões de euros (R$ 8,9 bilhões), por prática monopolista no serviço de busca. Dias depois, o parlamento alemão aprovou lei estabelecendo multas de até 50 milhões de euros (R$ 198 milhões) para redes sociais, como o Facebook, que não apagarem conteúdo falso (calunioso) ou de ódio em menos de 24 horas.

A reação institucional europeia aos dois se acentuou desde a virada do ano, diante das notícias falsas que, disseminadas por suas plataformas, influenciaram votações como aquela que levou à saída do Reino Unido da União Europeia.

A ausência de reação semelhante nos EUA é um dos argumentos dos jornais para defender a negociação coletiva com os dois gigantes digitais. "Os reguladores antitruste se recusaram a tratar do crescente domínio do Google e do Facebook, possibilitando que se apropriassem da economia da informação", afirma David Chavern, que preside a News Media Alliance.

A entidade destaca que órgãos americanos como a FTC (o Cade americano, de defesa concorrencial) "permitiram que o Google tomasse o controle da indústria de publicidade on-line comprando Doubleclick, AdMob e AdMeld, assim como o concorrente em mapas Waze, e autorizaram o Facebook a comprar dois concorrentes diretos, Instagram e WhatsApp".

Em nota, a News Corp. de Rupert Murdoch, que edita o "WSJ", afirmou ser necessário "focalizar o público e o Congresso no comportamento anticoncorrencial do duopólio digital". E o presidente da NYT Co., Mark Thompson, afirmou que "a temperatura está subindo, em preocupação e em alguns casos raiva, quanto à relação assimétrica com as grandes plataformas".

Há três semanas, ao festejar os 150 anos do "La Stampa", com participação de Thompson e de Jeff Bezos, dono do "Washington Post", o presidente do grupo italiano Exor, John Elkann, que controla não só o jornal mas a Fiat, alertou para a urgência da negociação com Google e Facebook:

"Haverá uma janela de oportunidade nos próximos 12 a 18 meses, para estabelecer um relacionamento e encontrar uma maneira de fazer os pagamentos funcionarem. Precisamos proteger o que as pessoas compram e impedir a pirataria [nas plataformas]."


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