Folha de S. Paulo


Sucesso no exterior, Havaianas tenta superar crise dos irmãos Batista

Rodrigo Paiva/Folhapress
Loja das Havaianas na rua Oscar Freire, em São Paulo
Loja das Havaianas na rua Oscar Freire, em São Paulo

Uma das raras marcas brasileiras que conseguiram construir reconhecimento internacional, a Havaianas está à venda pela segunda vez em menos de dois anos.

Sem deformar nem soltar as tiras, como pregava seu slogan na década de 1970, a respeitada grife de chinelos tem aguentado o tranco de passar de mão em mão entre controladores que tiveram suas imagens devastadas na Lava Jato.

A Havaianas lidera pesquisas de lembrança de marca por consumidores, com mais de 50% de menções em países como Argentina, Austrália, Angola e Portugal. Mas especialistas afirmam que até ativos de sucesso podem sentir reflexos negativos se permanecerem por muito tempo sob o guarda-chuva de um grupo de reputação corroída.

Primeiro, o grupo Camargo Corrêa vendeu a Alpargatas —dona da marca de sandálias criada no início dos anos 60— para a J&F, holding de Joesley e Wesley Batista.

A transação, anunciada em novembro de 2015, foi uma tentativa da Camargo de dar alívio a um endividamento superior a R$ 20 bilhões nos negócios do conglomerado, que vinham sofrendo os efeitos da crise nas atividades de construção e produção de cimento, além de ter assinado um acordo de leniência com Ministério Público se comprometendo a devolver quase R$ 1 bilhão após admitir participação nas fraudes investigadas pela Polícia Federal.

Foi nesse cenário que a J&F fez uma oferta de R$ 2,67 bilhões para adquirir 44% do capital da Alpargatas.

A empresa saiu ilesa da primeira venda e permanece um ativo cobiçado, mas a pressa pode influenciar o valor da nova transação, estimam especialistas.

PASSO A PASSO - Havaianas resiste a crises de controladores

RESISTÊNCIA

A notícia da delação dos irmãos Batista veio à tona em meados de maio. No fim de junho, a J&F e a Cambuhy Investimentos (da família Moreira Salles, acionistas do Itaú Unibanco) anunciaram que já estão em negociações.

A Alpargatas tem resistido às intempéries da economia com indicadores financeiros satisfatórios, segundo o professor de finanças da FIA Marcos Piellusch. Desde que foi adquirida, seu valor de mercado subiu de R$ 4,5 bilhões para R$ 6 bilhões.

"Isso mostra que tem investidores querendo assumir o controle da empresa, que veem nela uma alternativa."

No entanto, como a J&F tem certa urgência em vender o ativo para fazer caixa, a tendência é que o valor seja mais favorável para o comprador, segundo Cesar Caselani, professor de finanças da FGV.

"Se tivessem vendido a Alpargatas antes da delação, seria diferente. Agora, é natural que o comprador tenha algum poder de barganha e a J&F tenha que dar um desconto", ressalva Caselani.

A Alpargatas desistiu também de levar adiante o plano anunciado em abril de migrar para o Novo Mercado da Bolsa, nível mais elevado de governança corporativa.

O especialista em marca Jaime Troiano, diretor da TroianoBranding, afirma que sair do âmbito da J&F neste momento e, "se possível, cair nas mãos de empresas honradas", será benéfico para as marcas que atuam no varejo, "embora não seja evidente para o consumidor em geral a relação entre a Havaianas e nomes como JBS e Camargo".

Após a delação, as marcas ligadas aos Batista se tornaram alvo de campanhas de boicote de consumidores. Os irmãos querem obter R$ 15 bilhões nos próximos meses, vendendo negócios do grupo para abater dívida de R$ 70 bilhões e lidar com restrições de crédito que enfrentam. Uma parte desse recurso viria da venda de ativos da JBS, principal atividade dos irmãos.

Procurada, a Alpargatas não quis se manifestar.

Sandálias e outros produtos de Havaianas - Em milhões de pares ou peças, em 2016

Quantidade de lojas de Havaianas -


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