Folha de S. Paulo


Tecnologia ameaça virar nova vilã para trabalhador de TI na Índia

Money Sharma/AFP
In this photograph taken on February 6, 2017, employees of Indian company Nuts and Boltz work in their office in New Delhi. Since coming to power in 2014, Narendra Modi has been looking to overhaul India's image as an awkward country in which to do business and instead emulate China by becoming a global manufacturing hub. While much of the focus has been on travails of foreign firms, local entrepreneurs who should be the poster boys of Indian manufacturing are also struggling. / AFP PHOTO / Money SHARMA / TO GO WITH India-manufacturing-economy-technology, FOCUS by Megha BAHREE
Trabalhadores em escritório na Índia; tecnologia ameaça corte profundo no emprego

Como de costume, Sudhakar Choudhari apanhou recentemente o ônibus da Tech Mahindra em Pune (Índia) para ir para a empresa, uma das líderes globais de terceirização de TI (tecnologia da informação). A diferença dessa vez foi que um gerente o chamou e solicitou que ele pedisse demissão.

"Foi uma cena terrível", disse Choudhari, 41, que trabalhava na empresa havia 11 anos e cuja última função era a manutenção do software de um cliente britânico.

Enquanto o gerente falava, ele pensou em seu filho de 11 anos, e em que sua mulher estava desempregada, e na prestação do imóvel financiado em 2006 e ainda com dez anos de prestações a pagar.

Choudhari é um dos trabalhadores do setor de tecnologia indiano que perderam o emprego nos últimos meses, enquanto cresce o debate no país sobre a possibilidade de que um setor que por muito tempo serviu de porta de entrada na classe média esteja se preparando para realizar demissões em massa.

O setor de informática indiana cresceu em ritmo alucinante nas duas últimas décadas, graças à tendência da terceirização.

O setor e atividades relacionadas geram ao ano mais de US$ 150 bilhões em receita e empregam cerca de 4 milhões de pessoas para criar e testar software e prover assistência aos clientes, empresas americanas e europeias que procuram mão de obra relativamente barata.

Mas o setor mundial de tecnologia confia cada vez mais na automação, robótica, "big data", serviços de análise de dados, aprendizado por máquina e consultoria –tecnologias que ameaçam deixar de lado ou mesmo substituir os trabalhadores indianos.

Por exemplo, processos automatizados podem em breve substituir o tipo de trabalho que Choudhari vinha fazendo para clientes estrangeiros, que envolvia manutenção de software, realizada por meio de análise de dados e correções de códigos.

"O que estamos vendo é uma aceleração na eliminação de empregos na Índia e na criação de empregos nos países de origem das empresas", disse Sandra Notardonato, analista e vice-presidente de pesquisa da Gartner, uma empresa de consultoria.

Até agora, a escala do problema não está clara.

T. V. Mohandas Pai, um conhecido observador do setor de tecnologia, estima que os cortes possam abranger até 2% da força de trabalho até setembro e que recairão principalmente sobre os trabalhadores de pior desempenho.

Estudo de 2015 apontou que as capacitações de entre 50% e 70% dos trabalhadores do setor no país serão irrelevantes em 2020.

É claro que novas tecnologias criam novos empregos.

O efeito da automação e da inteligência artificial ainda não está claro. Elas podem abrir novas áreas que representariam uma simples mudança de padrão no trabalho em tecnologia, e não uma eliminação de postos.

Mas alguns observadores do setor de tecnologia indiano se preocupam com a possibilidade de que muitos desses novos empregos surjam fora da Índia, em lugares como os Estados Unidos.

TRADUÇÃO PAULO MIGLIACCI


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