Folha de S. Paulo


Turismo com atrações alternativas é receita de sucesso para parques

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Vista aérea do parque Beto Carrero World, em Penha (SC), que atraiu 2 milhões de visitantes em 2016

Em 2016, o Beto Carrero World, em Penha (SC), atraiu 2 milhões de visitantes, com alta de 24% no faturamento. Na cidade de Olímpia (SP), o Thermas dos Laranjais foi o quarto parque aquático do mundo em termos de público, com 1,9 milhão de visitantes. No Ceará, o Beach Park passou pela primeira vez da marca de 1 milhão de visitantes, com 40% do público com origem no Estado de São Paulo. A 70 km da capital mais rica do país, o Hopi Hari anunciou em maio a suspensão das suas atividades.

Diferentemente do Hopi Hari, que em maio anunciou a suspensão das suas atividades, o setor de parque de diversões vive bom momento.

"No setor de parques de diversão, a receita moderna é fazer o desenvolvimento multiúso", diz Alain Baldacci, presidente do Sindepat (Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas) e dono do Wet'n Wild.

Criado pela Disney, o conceito que dominou o mercado mundial nos últimos 15 anos prega uma ocupação integrada no entorno de um equipamento de diversão, seja ele seco ou molhado.

"A atração consome só um período do dia da família. E depois? E antes? E no dia em que chover? E quando as crianças estiverem cansadas? Um parque tem que estar cercado por lojas, restaurantes, hotelaria para diferentes pessoas, centro de convenções e entretenimento para todas as horas do dia", explica Alain.

Sem atrativos de peso, o Hopi Hari não chegou a atrair excursões de cidades mais distantes, que poderiam passar mais dias.

"O Hopi Hari viveu das pessoas que moram em São Paulo, com pouquíssimos visitantes de outros Estados", diz Álvaro Mendes Pereira, presidente da Adibra (Associação dos Parques de Diversões do Brasil). Somente seis anos após a abertura do Hopi Hari foi inaugurado um hotel relevante. Dez anos depois, foi a vez de o Outlet Premium chegar.

Ali do lado, o Wet'n Wild, franquia americana aberta um ano antes do Hopi Hari, tem hoje 70% do seu público formado por residentes na Grande São Paulo, que fazem bate-volta. Entre agosto de 2015 e julho de 2016, recebeu 435 mil visitantes, alta de 5% em relação à temporada anterior. O faturamento foi de R$ 45 milhões, quase R$ 5 milhões a mais que o período 2014/2015.

Entre os motivos para a estabilidade do parque, a despeito das dificuldades em comum com o vizinho Hopi Hari, estão o aquecimento das águas a partir de 2012, para que pudesse funcionar nos meses de frio, e o investimento anual em novas atrações.

DESTINO TURÍSTICO

Se desenvolver como destino turístico, dentro do conceito de ocupação multiúso e integrada, foi exatamente a estratégia do Beto Carrero World, que completou 25 anos em dezembro.

Instalado em um terreno de 14 milhões m², o complexo inclui parque de diversões, zoológico e shows como "Velozes e Furiosos" e "Madagascar", parcerias com os estúdios americanos Universal e DreamWorks, respectivamente. Além disso, fica a 35 minutos de Balneário Camboriú (SC) e a uma hora de Blumenau (SC).

"É um produto completo. A região permite ter pacotes para o verão, com praias, e o inverno, com passeios pelo Vale Europeu [como é chamado o vale do Itajaí]", diz Claiton Armelin, diretor de produtos nacionais da CVC. A agência é a que mais vende pacotes e ingressos para o Beto Carrero World, com 60 mil entradas comercializadas em 2016. Os números do primeiro trimestre foram 25% maiores que o mesmo período do ano passado.

As razões do bom desempenho do Beto Carrero World também passam pela boa administração, mantida mesmo após a morte do fundador, Sergio Murad, em 2008, investimento em publicidade e pelo incremento da malha aérea para o aeroporto de Navegantes, com mais voos saindo da região Sudeste.

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Atração Ilha Cascão, no Wet'n Wild, em Itupeva (SP)
Atração Ilha Cascão, no Wet'n Wild, em Itupeva (SP)

"O Beto Carrero está em outro patamar. Ele não é só um parque, é um destino turístico. Em um pacote de quatro dias, pode-se misturar dois dias de parque com os atrativos da região, com praias, turismo religioso ou roteiro da cerveja. Consigo montar até sete roteiros diferentes incluindo o parque", diz Marina Figueiredo, gerente de produtos da PompTur, agência da zona oeste de São Paulo que também figura entre as que mais levam ao parque.

Um pacote de quatro dias e três noites com hospedagem, passagens aéreas (São Paulo-Navegantes) e transporte até o parque custa entre R$ 2.600 e R$ 3.000 para uma família de dois adultos e duas crianças.

Com a rede hoteleira local perto do limite, as fontes desse mercado apostam que o próximo grande investimento do Beto Carrero World será em um complexo de hospedagem próprios, nos moldes da Disney. "A rede de Balneário Camboriú fica estrangulada no verão e faltam leitos", diz Claiton.

A lacuna do Beto Carrero World é justamente o fator de maior sucesso do Beach Park, a 40 minutos de Fortaleza. A estrutura conta com quatro hotéis e resorts próprios, para diferentes perfis. Em Olímpia (SP), o modelo de propriedade compartilhada, ainda não regulamentada no Brasil, vem dando suporte aos turistas que procuram a região.

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Sao Paulo, SP, 15/11/0216 - Beach Park, no Ceará - Credito: João Melo/Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O Beach Park, em Fortaleza, no Ceará

MERCADO

Com cerca de 650 operações no Brasil todo, em dados de 2015, o mercado de diversões no país reúne na mesma sacola equipamentos díspares como o Beto Carrero World, o maior temático da América do Sul, e os parques itinerantes, aqueles que funcionam nas férias em praias do litoral, por exemplo.

O cenário atual, segundo a Adibra, é de crescimento nas FECs (family entertainment center), estabilidade nos aquáticos e queda nos temáticos -categoria do Hopi Hari.

As FECs são os espaços instalados dentro de shopping centers, com áreas entre 500 m² e 3.500 m². As cercas de 500 unidades espalhadas pelo Brasil faturaram cerca de R$ 500 milhões em 2016.

"Por ser uma unidade menor, com necessidade de investimento bem mais baixo que um parque, a possibilidade de sucesso é muito maior", diz Pereira, da Adibra e dono da rede Parks & Games, com 32 operações, a maior parte no Norte e Nordeste. "Para abrir um FEC você investe R$ 4 milhões. Isso, num parque, é o preço de um único brinquedo."

A DIVERSÃO EM NÚMEROS

Os atores principais do mercado de parques são uníssonos sobre as dificuldades que o segmento enfrenta. A número um, dizem, é a necessidade de importar as atrações mecânicas, como as montanhas-russas. "A essência do mercado são equipamentos, e eles são importados", diz Alain, do Sindepat.

Um brinquedo fabricado nos EUA com preço de US$ 800 mil ganha custos de frete e seguro de viagem e, ao entrar no país, é taxado em sistema cascata com IPI, ICMS e PIS-Cofins. "O que eram US$ 800 mil acabam virando US$ 2,5 milhões", diz Alain.

Outra queixa é a de que os brinquedos são classificados como bem de consumo, em vez de bem de capital. "Uma montanha-russa é taxada como se fosse uma geladeira", diz Marcelo Beraldo, diretor-executivo do Parque da Mônica.

Instalado no shopping SP Market, o parque, que já teve as marcas do Gugu e da Xuxa, foi reaberto em 2015 com a bandeira da Turma da Mônica. "A busca de um novo produto foi uma decisão estratégica de marketing e fomos atrás do Maurício de Souza. Ele tinha vontade de voltar com o parque [que funcionou até 2010 no Shopping Eldorado], mas não operando", explica Marcelo.

Com 12 mil m² e totalmente coberto, a nova operação é voltada para famílias com crianças pequenas, de até 9 anos. Em 2016, recebeu 400 mil visitantes, e a expectativa é de alta de 5% de público neste ano. "O fato de estarmos dentro de um shopping center traz conveniência. A família acaba complementando o passeio com compras, cinema e refeição em restaurantes variados", diz Marcelo.

Parques do brasil

PLAYCENTER

O fechamento do Hopi Hari, em maio, com a promessa da administração de que as operações serão retomadas, fez lembrar o caso do Playcenter, que funcionou por quase 40 anos na marginal Tietê.

Quando o grupo encerrou as atividades, em 2012, um novo empreendimento de diversão, voltado para famílias com crianças pequenas, chegou a ser anunciado, mas nunca virou realidade.

As histórias dos dois parques, porém, pouco têm a ver. O motivo pelo fechamento do Playcenter é atribuído no mercado às questões imobiliárias.

"O Playcenter estava num charco quando abriu em 1973, perdido na marginal. A cidade foi crescendo em volta dele", diz Álvaro, da Adibra.

"O parque foi crescendo em terrenos alugados e a localização dele foi ficando cada vez melhor. O sucesso dele foi crescer junto com o adensamento populacional e foi esse mesmo motivo que levou ao fechamento. O terreno foi se valorizando, ficou propício para empreendimentos imobiliários, e o parque ficou inviável. Não deu para resistir à força do mercado", diz Alain, do Sindepat.

A área ocupada pelo parque, de 85 mil m², deu lugar a um projeto de torres residencias e comerciais.

O grupo Playcenter, que segue no mercado de FECs, com a rede Playland, não quis dar entrevistas e não confirmou o investimento em novos parques temáticos.

Rivaldo Gomes/Folhapress
 SAO PAULO, SP, BRASIL, 29-7-2012 - ULTIMO DIA DO PLAYCENTER - 15:12:09 - No seu ultimo dia de funcionamento, o parque de diversoes Playcenter registra filas em quase todos os brinquedos e um movimento considerado acima da media, segundo a administracao. O parque abriu as 11h deste domingo (29) e tem o fechamento marcado para as 19h, depois de 39 anos de operacao. Homem tira foto do brinquedo Evolution. (Foto: Rivaldo Gomes/Folhapress, NAS RUAS) ***EXCLUSIVO AGORA *** EMBARGADA PARA VEICULOS ONLINE *** UOL E FOLHA.COM CONSULTAR FOTOGRAFIA DO AGORA *** FOLHAPRESS CONSULTAR FOTOGRAFIA AGORA *** FONES 3224 2169 * 3224 3342 ***
Movimentação do público no último dia de funcionamento do Playcenter, em 29 de julho de 2012

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