Folha de S. Paulo


Se fusão Kroton-Estácio for barrada, setor deve tentar outras operações

Ricardo Moraes/Reuters
Ser Educacional, outra grande empresa, planeja compra
Ser Educacional, outra grande empresa, planeja compra

As cúpulas das grandes companhias de educação superior começam a traçar planos alternativos diante da proximidade do julgamento, pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), da megafusão entre Kroton e Estácio. O caso deverá avaliado na quarta-feira (28), mas, se houver pedido de vista, outra sessão será convocada até o fim de julho.

Nesta semana, diretores da Kroton tratavam como certo o fracasso da fusão, embora a recomendação fosse manter a mensagem de que "o jogo só termina quando acaba".

A união forma um gigante de 1,5 milhão de alunos e 25% de participação no mercado de ensino superior privado.

O pessimismo contaminou o mercado e levou as ações das duas empresas a recuar por dois dias seguidos no início desta semana. A queda se reverteu na quinta (22).

Em fevereiro, a Superintendência-Geral do Cade já havia sinalizado com um duro parecer que via questões graves de concentração de mercado.

A Kroton reagiu, atraindo para sua equipe de defesa nomes de ex-conselheiros do Cade, na esperança de que teriam papel decisivo na reversão das expectativas.

Até o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, que nomeou membros do órgão no passado, foi chamado para dar assessoria estratégica ao conselho da Kroton.

ALTERNATIVA

Mesmo no caso de derrota da fusão, a consolidação da educação privada continua.

Janguiê Diniz, fundador da Ser Educacional, que no ano passado disputou com a Kroton a melhor oferta para se unir à Estácio, afirmou, após ser preterido no negócio, que buscaria outro parceiro.

O interesse em uma fusão com a Estácio ainda existe, mas com ressalvas. A empresa não é a mesma que a Ser cobiçava até o ano passado.

Em dezembro, a Estácio anunciou o fechamento de unidades no Rio e trocou nomes importantes da direção, o que impediria que um eventual resgate de negociações entre as empresas partisse do mesmo patamar.

MATRÍCULAS - No 1º.tri.2017, em milhares

RECEITA LÍQUIDA DO SETOR - Em 2016, em R$ bilhões

O plano de expansão da Ser continua independentemente da Estácio. Em meados de maio, a companhia anunciou um plano de captação de mais de R$ 440 milhões em oferta pública de ações para realizar aquisições.

Na Estácio, o primeiro passo seria recompor a direção e se preparar para um novo negócio, que poderia ser a procura de outro sócio ou a aquisição de escolas menores.

A solução que a Kroton ofereceu ao Cade para tentar aprovar a fusão —vender operações de ensino a distância— deu um sinal do apetite de investidores na educação superior. Foram recebidas quatro propostas pelos ativos, segundo pessoas que atuaram nas negociações.

Especialistas estimam que, em um eventual fracasso no Cade, a Kroton voltaria às compras rapidamente.

"O passo seguinte da Kroton seria consolidar o ensino fundamental. Se a fusão com a Estácio não der certo, ela vai ter caixa disponível para fazer isso de imediato", afirma Carlos Monteiro, presidente da CM Consultoria.

Em caso de aprovação com a necessidade de venda de ativos do ensino a distância, Monteiro acredita que a disputa ficaria acirrada.

"O primeiro interessado seria a Ser, mas também há outros compradores potenciais, como a Cruzeiro do Sul, a Laureate, a Devry e outros. Também há fundos com apetite e condições de comprar", afirma o consultor.

O especialista João Vianney, sócio da consultoria Hoper, lembra que um decreto publicado pelo MEC (Ministério da Educação) em maio, flexibilizando as regras para a oferta de cursos a distância, também vai mexer no setor.

"Essa mudança vai beneficiar as instituições menores que estavam impedidas de crescer devido às restrições da regulação, mas agora poderão aumentar muito o patamar de oferta de ensino a distância e se aproximar das grandes", afirma Vianney.


Endereço da página:

Links no texto: